Desde o início do Museu de Venâncio Aires, em 1994, o local conta com todas as edições da Folha do Mate. “O jornal tinha todas as edições em duplicidade, então uma coleção foi doada para o Museu”, explica o tesoureiro do Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva) e idealizador do Museu, Flávio Seibt.
Ao todo, as cerca de 6.120 edições são guardados no acervo ao lado do prédio principal. Os jornais encadernados e divididos por mês e ano. Os mais recentes seguem empacotados até sua encadernação. “Todos esses jornais impressos contam histórias. É como um diário pessoal, porém um diário público”, define Seibt.
O tesoureiro do Nucva destaca, ainda, que se trata de um conteúdo de imenso valor. “Além de trazer informações, permanece como registro histórico. Isso é importante, pois as pessoas conseguem saber das coisas que já aconteceram e como elas aconteceram. Guardamos esse material com todo carinho e cuidado”, acrescenta.
Ele também comenta que o papel ainda é a fonte de informação considerada mais segura, por isso, frequentemente o acervo de jornais é procurado. “As pessoas usam para todas finalidades, para pesquisas de estudos, confirmação de notícia antiga e até casos judiciários”, exemplifica.
“O impresso sempre tem validade, o digital é fácil de editar, manipular. No papel não tem como mudar o que foi colocado. Por isso, muitas pessoas usam como fonte de estudos.”
JOSIELE GRASEL – Historiadora
A historiadora Josiele Grasel observa que, atualmente, devido à tecnologia, as informações chegam muito rápido nas pessoas e muitas acabam acreditando em fake news (notícias falsas). “No entanto, o que sai no jornal sabemos que realmente é verídico, que foi feito toda uma pesquisa sobre o fato”, compara.
Além disso, ela comenta que é mais eficaz usar um jornal, um papel como documento do que algo digitalizado. “O impresso sempre tem validade, o digital é fácil de editar, manipular. No papel, não tem como mudar o que foi colocado. Por isso, muitas pessoas usam como fonte de estudos, pois na internet qualquer um escreve em sites. Toda vida devemos usar um documento impresso”, defende.
Divulgação dos fatos locais
Flávio Seibt lembra que, quando o Museu ainda era apenas um projeto, o jornal já prestava todo apoio. “Para a compra do Edifício Storck, foi publicado tudo sobre o projeto, nomes dos bancos, espaço a ser adquirido e divulgada até a lista de doadores. Me recordo também que saiu na capa a foto de um desfile de 7 de setembro, que estávamos com uma faixa da campanha, e outra quando assinamos a escritura do prédio”, lembra.
O idealizador do Museu também comenta que, em congressos internacionais de museus, sempre destacou a importância da imprensa. “Nos congressos, eu brincava que o Museu de Venâncio Aires era o que mais frequentemente estava na primeira página de um jornal.”
Seibt também salienta que, por meio da Folha do Mate, a notícia sobre as doações ao Museu chegou em diversos lugares, tanto que foram recebidas doações de outras cidades. Entre elas, a de Gabriel Pereira Borges, um desembargador aposentado, natural de Venâncio Aires, que morava em Porto Alegre.
“Um diz recebi duas caixas de Poro Alegre. Uma estaca cheia de livros e na outra tinha um envelope, com um cheque com valor correspondente a um metro quadrado para o edifício. Na carta, ele se apresentou como amigo de meus pais, que acompanhava toda campanha pela Folha do Mate, pois era assinante”, recorda Seibt.
A partir dessa doação, Seibt e Borges construíram uma forte amizade. “Passei a visitar ele, fazíamos almoços e jantares juntos.” Foi uma amizade de curto período, mas que, segundo ele, fez diferença em sua vida. “Um dia recebi a ligação do neto de Gabriel, comunicando seu falecimento e fazendo o convite para os atos fúnebres. Chegando lá o neto veio e mostrou uma carta que ele havia deixado, com a lista de amigos que deveriam ser comunicados de seu partida. Para minha surpresa, eu era o primeiro da lista. Fiz uma amizade dessas através da Folha do Mate”, conta.
Confira algumas capas do jornal, que foram marcantes ao longos dos anos:
Registros do ‘nascimento’ dos municípios vizinhos
Além de ser o principal jornal de Venâncio Aires, a Folha do Mate tem cobertura microrregional. As páginas do jornal, inclusive, registraram a emancipação de Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde. Os dois primeiros, se emanciparam em 1992, enquanto Vale Verde se tornou município em 1996.
A professora Eunice Inês Heuser foi a primeira prefeita de Mato Leitão. Atual secretária municipal de Assistência Social, Habitação e Cidadania, ela lembra que a Folha do Mate acompanhou todo o processo emancipacionista, iniciado em 1989. “No dia 23 de dezembro do mesmo ano foi realizada uma grande Assembleia na SEUBV confirmando a vontade da população de buscar a nossa autonomia. Foram mais de 772 assinaturas no livro de Atas”, relembra. “O jornal tratou o movimento com isenção”, considera.
Em 23 de março, o jornal destacava, na capa, a notícia da emancipação. “Estar na capa significava ter provado para todos que não acreditavam e muitos dos quais colocavam obstáculos, que o nosso sonho era possível”, diz Eunice.