Museu guarda a história dos 47 anos do jornal

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Desde o início do Museu de Venâncio Aires, em 1994, o local conta com todas as edições da Folha do Mate. “O jornal tinha todas as edições em duplicidade, então uma coleção foi doada para o Museu”, explica o tesoureiro do Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva) e idealizador do Museu, Flávio Seibt.

Ao todo, as cerca de 6.120 edições são guardados no acervo ao lado do prédio principal. Os jornais encadernados e divididos por mês e ano. Os mais recentes seguem empacotados até sua encadernação. “Todos esses jornais impressos contam histórias. É como um diário pessoal, porém um diário público”, define Seibt.

O tesoureiro do Nucva destaca, ainda, que se trata de um conteúdo de imenso valor. “Além de trazer informações, permanece como registro histórico. Isso é importante, pois as pessoas conseguem saber das coisas que já aconteceram e como elas aconteceram. Guardamos esse material com todo carinho e cuidado”, acrescenta.

Ele também comenta que o papel ainda é a fonte de informação considerada mais segura, por isso, frequentemente o acervo de jornais é procurado. “As pessoas usam para todas finalidades, para pesquisas de estudos, confirmação de notícia antiga e até casos judiciários”, exemplifica.


“O impresso sempre tem validade, o digital é fácil de editar, manipular. No papel não tem como mudar o que foi colocado. Por isso, muitas pessoas usam como fonte de estudos.”
JOSIELE GRASEL – Historiadora

A historiadora Josiele Grasel observa que, atualmente, devido à tecnologia, as informações chegam muito rápido nas pessoas e muitas acabam acreditando em fake news (notícias falsas). “No entanto, o que sai no jornal sabemos que realmente é verídico, que foi feito toda uma pesquisa sobre o fato”, compara.

Além disso, ela comenta que é mais eficaz usar um jornal, um papel como documento do que algo digitalizado. “O impresso sempre tem validade, o digital é fácil de editar, manipular. No papel, não tem como mudar o que foi colocado. Por isso, muitas pessoas usam como fonte de estudos, pois na internet qualquer um escreve em sites. Toda vida devemos usar um documento impresso”, defende.

A historiadora Josiele Grasel comenta que o jornal impresso possui mais validade com documento (Foto: Eduarda Wenzel)

Divulgação dos fatos locais

Flávio Seibt lembra que, quando o Museu ainda era apenas um projeto, o jornal já prestava todo apoio. “Para a compra do Edifício Storck, foi publicado tudo sobre o projeto, nomes dos bancos, espaço a ser adquirido e divulgada até a lista de doadores. Me recordo também que saiu na capa a foto de um desfile de 7 de setembro, que estávamos com uma faixa da campanha, e outra quando assinamos a escritura do prédio”, lembra.

O idealizador do Museu também comenta que, em congressos internacionais de museus, sempre destacou a importância da imprensa. “Nos congressos, eu brincava que o Museu de Venâncio Aires era o que mais frequentemente estava na primeira página de um jornal.”
Seibt também salienta que, por meio da Folha do Mate, a notícia sobre as doações ao Museu chegou em diversos lugares, tanto que foram recebidas doações de outras cidades. Entre elas, a de Gabriel Pereira Borges, um desembargador aposentado, natural de Venâncio Aires, que morava em Porto Alegre.

“Um diz recebi duas caixas de Poro Alegre. Uma estaca cheia de livros e na outra tinha um envelope, com um cheque com valor correspondente a um metro quadrado para o edifício. Na carta, ele se apresentou como amigo de meus pais, que acompanhava toda campanha pela Folha do Mate, pois era assinante”, recorda Seibt.

A partir dessa doação, Seibt e Borges construíram uma forte amizade. “Passei a visitar ele, fazíamos almoços e jantares juntos.” Foi uma amizade de curto período, mas que, segundo ele, fez diferença em sua vida. “Um dia recebi a ligação do neto de Gabriel, comunicando seu falecimento e fazendo o convite para os atos fúnebres. Chegando lá o neto veio e mostrou uma carta que ele havia deixado, com a lista de amigos que deveriam ser comunicados de seu partida. Para minha surpresa, eu era o primeiro da lista. Fiz uma amizade dessas através da Folha do Mate”, conta.

Confira algumas capas do jornal, que foram marcantes ao longos dos anos:

 

Registros do ‘nascimento’ dos municípios vizinhos

Além de ser o principal jornal de Venâncio Aires, a Folha do Mate tem cobertura microrregional. As páginas do jornal, inclusive, registraram a emancipação de Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde. Os dois primeiros, se emanciparam em 1992, enquanto Vale Verde se tornou município em 1996.

A professora Eunice Inês Heuser foi a primeira prefeita de Mato Leitão. Atual secretária municipal de Assistência Social, Habitação e Cidadania, ela lembra que a Folha do Mate acompanhou todo o processo emancipacionista, iniciado em 1989. “No dia 23 de dezembro do mesmo ano foi realizada uma grande Assembleia na SEUBV confirmando a vontade da população de buscar a nossa autonomia. Foram mais de 772 assinaturas no livro de Atas”, relembra. “O jornal tratou o movimento com isenção”, considera.

Em 23 de março, o jornal destacava, na capa, a notícia da emancipação. “Estar na capa significava ter provado para todos que não acreditavam e muitos dos quais colocavam obstáculos, que o nosso sonho era possível”, diz Eunice.

 

    

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