Esta semana será decisiva para o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), que pode tanto garantir a tranquilidade para os dias que virão, quanto aumentar o descontentamento entre os funcionários. O presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde (Sindisaúde), José Carlos Haas, entregou na quinta-feira, 10, uma notificação à diretoria da casa de saúde, por meio da qual a categoria manifesta intenção de paralisar as atividades, se os salários de setembro não forem pagos integralmente.
Haas explica que “temos por prática oficializar todas as decisões tomadas pela categoria” e lembra que, em assembleia, os colaboradores do hospital definiram o dia 17 – quinta-feira desta semana – como prazo final para a resolução das questões de pagamentos em atraso. “O pessoal recebeu 50% do que tem direito, metade do que se esperava receber. Isso, para muitos, dá para pagar o aluguel e água. De resto, vão viver como?”, questiona. O presidente do Sindisaúde destaca que, se até dia 17 não for anunciada alguma novidade, a categoria deve marcar nova assembleia para deliberar sobre uma paralisação.
O dirigente afirma que a intenção não é criar conflito e que tem conhecimento do esforço da cúpula do hospital no sentido de resolver os problemas, contudo pondera que os funcionários têm exercido suas tarefas sob forte tensão, já que o atraso no pagamento vem se repetindo desde o início do ano. Haas também repercute manifestações da diretoria do HSSM e integrantes da comissão criada para buscar a recuperação da casa de saúde, de que será preciso tomar medidas amargas para estancar o déficit mensal de cerca de R$ 300 mil. “Não venham colocar a culpa no trabalhador, muito menos dizer que eles são a causa da despesa. Não devem criar pânico, e sim buscar o encaminhamento de produção de receita”, diz.
FALTA DE DIÁLOGO
O presidente do Sindisaúde também comenta sobre o que classifica como “falta de diálogo” entre a cúpula do hospital e a categoria. “Nos últimos meses, temos tomado conhecimento das situações no momento em que a imprensa publica algo. Precisamos de mais comunicação, mais intercâmbio. As coisas precisam ficar às claras”, sustenta. Haas lembra que o Sindisaúde, entidade que representa os trabalhadores do HSSM, não recebeu convite para participar da comissão implementada para tratar, justamente, das questões do hospital. “Me parece que seria natural a nossa participação, mas não foi o que aconteceu”, conclui.
Momento de trabalho interno
Lideranças da Comissão de Elaboração do Plano de Apoio à Gestão Administrativa, Financeira e Operacional do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), o presidente da instituição, Luciano Spies, e o secretário municipal de Saúde, Ramon Schwengber, têm discursos idênticos: de acordo com eles, o momento é de trabalho interno. Ambos dizem que as medidas a serem adotadas somente serão anunciadas quando o planejamento estiver completo. A previsão é de que isso aconteça até o fim deste mês.
Conforme os gestores, o grupo – formado por cinco representantes do poder público e quatro do hospital – vem se reunindo semanalmente para analisar as sugestões apresentadas. Dois encontros estão agendados para esta semana, o primeiro deles às 10h desta terça-feira, 15. “Além disso, temos um grupo no WhatsApp, onde conseguimos manter contato diário”, esclarece Schwengber.
Sobre as manifestações de que será necessário o anúncio de “medidas amargas” em relação à casa de saúde, o secretário afirma que “isso é certo que terá de ser feito, mas não vou entrar em detalhes, pois não é momento de criar qualquer outro tipo de clima, que não seja o de confiança na recuperação do nosso hospital”.
FUNDO E PARALISAÇÃO
Spies ressalta a importância da criação de um fundo especial para garantir de recursos ao HSSM. A sugestão foi dada pelo vereador Tiago Quintana (PDT), em sessão realizada na semana passada, em Picada Nova. De acordo com o parlamentar, “seria emblemático a Câmara fazer o primeiro aporte a este fundo, pois dessa forma teríamos o povo de Venâncio Aires colaborando para salvar o hospital do município”.
Para Spies, “a ideia é excelente e, se o Legislativo puder contribuir, agradeceríamos muito, pois qualquer ajuda ou mobilização é bem-vinda”. Em relação à possibilidade de paralisação dos funcionários, caso os salários não sejam colocados em dia, o presidente do HSSM afirma que “é uma manifestação justa e que temos ciência de que pode acontecer, mas lamentamos esta pressão”. Para Spies, é preciso que todos entendam que o não pagamento dos vencimentos não é uma questão de vontade, mas de ausência de recursos. “Gostaríamos que entendessem a dificuldade e fossem parceiros”, pede.
Contatado ainda na sexta-feira, 11, para se manifestar a respeito da possibilidade de aporte da Câmara para o fundo especial, o presidente Eduardo Kappel (PL) prometeu falar nesta segunda-feira, 14. No entanto, não atendeu às ligações da reportagem, nem respondeu aos contatos via WhatsApp.
“Não vamos antecipar as medidas. Queremos fazer um anúncio oficial, quando todo o plano de recuperação estiver concluído. O certo é que todos vão ter que ajudar de tudo que é lado.”
LUCIANO SPIES – Presidente do HSSM
CONTA DE LUZ
- Apesar de ter registrado um incremento de aproximadamente 30%, a campanha de arrecadação de valores para o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) não é considerada satisfatória pelo presidente Luciano Spies.
- De acordo com ele, a arrecadação mensal passou de R$ 10 mil para cerca de R$ 13 mil, pouco se considerado o total da conta de energia elétrica da casa de saúde, que oscila entre R$ 60 mil e R$ 90 mil mensalmente.
- Spies comenta, no entanto, que a diretoria não vai desistir desta iniciativa, “pois a gente sabe que é importante irmos até as casas das pessoas, para uma abordagem maia ativa”. Ele classifica o aumento como “modesto” e entende que “a receptividade pode ser maior, pois o momento é de crise e todos sabem da importância do nosso hospital”.
- Os valores de doações foram fixados em R$ 5, R$ 10, R$ 15, R$ 20 ou quantias maiores, a partir de solicitação do doador. O hospital conta com o auxílio dos clubes de serviço da Capital Nacional do Chimarrão para a divulgação da campanha e a ideia é intensificar as visitas a empresas em busca de apoio mais expressivo.
MUNICÍPIO
- O prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert, afirma que, “de momento, o que estamos fazendo é cumprir o contrato do Município com o hospital à risca”. Ele destaca que na quinta-feira, 10, foi feito o depósito de cerca de R$ 580 mil para a instituição de saúde, valor correspondente a serviços prestados à comunidade.
- Sobre a criação de um fundo especial, que voltou ao debate após sugestão de Tiago Quintana, ele diz que “isso já é falado há mais de seis meses nas entrevistas que eu dou e, inclusive, há previsão do fundo no plano de recuperação”.
- Conforme Wickert, emendas parlamentares serão buscadas para auxiliar no processo de busca do equilíbrio das contas do HSSM. Além disso, o Município também vai interceder junto ao Governo do Estado e conta com o esforço do empresariado e comunidade da Capital Nacional do Chimarrão e município que têm o hospital como referência.
- O prefeito acredita que o somatório das medidas garantirá reflexo positivo em relação à crise da casa de saúde. “É importante termos um discurso único, sem ficar divulgando medida por medida, pois isso gera debates específicos. Assim que as ações forem definidas por completo, a sociedade tomará conhecimento. Vamos levar adiante o que for viável”, comenta.
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