Pra contar histórias: a comandante por trás da farda

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Quem vê Michele da Silva Vargas, 40 anos, com voz de comando em operação, nem imagina o que ela teve que enfrentar até carregar no peito a graduação de capitão da 3° Companhia do 23º Batalhão da Polícia Militar (BPM).

Nascida na fronteira, no município de Bagé, Michele e os pais, Ivone Teixeira da Silva, 63 anos, e Hidelbrando Simões Vargas, 79 anos, deixaram a terra natal para trás, quando ela tinha apenas 12 anos. O casal mudou de cidade para trabalhar em uma fazenda, no interior de Cacequi.

Para que pudesse dar continuidade aos estudos, Michele foi acolhida na casa de uma ‘conhecida’ da família, em São Pedro do Sul, lugar onde viveu até concluir o Ensino Médio. “Passei toda a minha adolescência nesse lugar, lá construí a minha vida e fiz amizades que mantenho até hoje”, recorda.

Apesar de ter boas lembranças daquele período, Michele passou por momentos bem difíceis ao ter que ficar, pela primeira vez, longe dos pais. Ela recorda que, em algumas vezes, o rio Jacuí, que faz divisa com São Pedro do Sul e Cacequi, transbordava e impedia a passagem.”Uma vez, tive que ficar sem ver os meus pais por uns 15 dias”, relembra.
Contudo, Michele sempre foi muito dedicada e persistente. Aos 16 anos, já começou a trabalhar no Tabelionato de São Pedro do Sul e assumiu cargos de chefia na Câmara de Vereadores e Prefeitura.

Desde jovem, já estava inserida em funções de grande responsabilidade, porém, a sua paixão sempre foi pelo Direito. “Na época, eu não tinha condições de fazer uma faculdade”, conta.

Antes de conquistar o diploma, Michele descobriu outras possibilidades para seguir carreira. Ela foi incentivada por um colega de trabalho a prestar concurso público para a Brigada Militar e fez desta escolha, a sua profissão.

FAMÍLIA E PROFISSÃO

Michele foi aprovada no concurso público em 2003 e lotada em Santa Cruz do Sul. Antes de assumir o cargo, passou por ‘longos’ 11 meses no curso de formação, em Rio Pardo. “Lá tivemos rotinas de grupo e individuais e passamos por toda uma preparação para exercer o militarismo”, explica.

Durante o curso, ela conheceu o atual companheiro, Carlos Moisés Savian dos Passos, que hoje é comandante de Vera Cruz. “Nos conhecemos no curso e depois de quatro meses já começamos a namorar”. O casal tem dois filhos, João Álvaro Vargas dos Passos, 15 anos, e Júlia Vargas dos Passos, 12 anos.

Depois de adquirir a estabilidade profissional e ingressar na Brigada Militar, Michele realizou o sonho de fazer o curso de Direito. Em 2004, ingressou na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), época que engravidou do primeiro filho. “Gosto muito desta área, quem sabe, no futuro, eu venha a exercê-la”, confessa.

Em 2010, ela concluiu o curso e, cinco anos depois, conquistou a graduação de capitão da 3° Companhia do 23º BPM , a qual permanece até hoje.

Michele e a família caracterizados em uma ‘foto de época’, registrada durante uma viagem, em Canela (Foto: Arquivo pessoal)

Rotina: matemática e cozinha não são o forte

Residente em Santa Cruz do Sul, Michele mantém uma rotina agitada, ao conciliar família e profissão. “Meu dia começa às 8h da manhã e termina às 20h, mas no telefone trabalho as 24 horas”, afirma. Quando não está no trabalho, Michele se dedica à família, aos cinco cachorros – Hércules, Belinha, Paquita, Sindy e Mel – e à calopsita Pepita. Também pratica corrida e musculação e, algumas vezes, corre na companhia do filho. “Quando pequena, eu era muito ‘moleque’. Jogava vôlei de areia e futebol, hoje não pratico mais estas atividades.

Já nos fins de semana, ela e a família costumam ir para o sítio em Passo do Sobrado. “Lá é um lugar tranquilo, costumo cuidar da horta e me dedicar ao jardim”.
A dedicação aos estudos sempre foi uma das prioridades de Michele, que hoje cursa pós-graduação em Violência Doméstica. Mas dos números ela mantém distância. A não ser, para ajudar os filhos na lição de casa. “Às vezes, não temos tempo nem de tirar a farda, já chegamos prontos para auxiliá-los.”

Assim como a matemática, Michele também não é muito fã de cozinhar. “Eu invento alguns cardápios mas nem sempre dá certo, mas eles não reclamam”, sorri.

Michele e Carlos ajudando os filhos na lição de casa (Foto: Arquivo pessoal)

Empoderamento feminino

Michele afirma que nunca sofreu preconceito desde que ingressou na Segurança Pública, mas, recorda de uma situação quando era soldado. “Eu era muito magra e o meu coordenador me disse que eu não podia ir para a rua. Naquela época, me colocaram na sala de rádio”, recorda. Contudo, ela já presenciou este comportamento. “Ainda percebo a recusa do efetivo masculino em fazer dupla com o feminino”. Apesar disso, ela considera que, ao longo do tempo, esta percepção vem mudando dentro da corporação.

    

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