O episódio que resultou na morte da soldado Marciele Renata dos Santos Alves reascende a questão da histórica defasagem no efetivo da Brigada Militar de Venâncio. A jovem de 28 anos, que há dois anos havia se formado em Fisioterapia e fazia mestrado, morreu em combate, ao ser atropelada por uma caminhonete roubada horas antes e que era conduzida por assaltantes. Na quarta-feira, 27, à tarde, o coronel Valmir José dos Reis voltou a garantir o reforço no efetivo da Capital Nacional do Chimarrão.
Segundo apurado, na segunda-feira, 25, pela manhã a soldado Marciele e colegas do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Santa Cruz do Sul, onde ela atuava, estavam realizando ações na região de Vila Estância Nova, interior de Venâncio, quando aconteceram os dois roubos de veículos. Como havia reféns, foram auxiliar nas buscas aos assaltantes. Encontraram o bando, mas o desfecho foi trágico.
IDENTIFICADOS
Na ação, três indivíduos foram mortos a tiros e um menor de idade, baleado. Este adolescente tem 17 anos, é morador de Farroupilha e assim que receber alta hospitalar, será internado na Fundação de Atendimento Socieducativo (Fase), de Porto Alegre. Ele foi atingido por um tiro no ombro e outro, na perna.
Um dos mortos já estava identificado. Trata-se de Eloir Muniz Jandrey, 50 anos, que tinha extensa ficha criminal. Ele era natural de Barros Cassal, mas há anos residia em Venâncio.
Os outros dois, que estavam no Departamento Médico Legal (DML) de Lajeado, foram identificados ontem à tarde. São Ezequiel Martins Ferreira, 25 anos, e Euclides Carvalho Neto, 31 anos. Ferreira era natural de Esteio e Carvalho Neto, de Porto Alegre. De acordo com a capitão Michele da Silva Vargas, ambos tinham extensa ficha criminal.
FALTA DE EFETIVO
Esta realidade (de não receber reforço no efetivo) foi anunciada pelo coronel Marcelo Gomes Frota, durante reunião-almoço com o prefeito Giovane Wickert, no dia 23 de julho passado. A intenção do encontro era ouvir do secretário-adjunto da Secretaria de Segurança Pública (SSP), o número de soldados – que estavam em formação no Batalhão de Rio Pardo -, que viriam para Venâncio.
Mas o que se ouviu foi totalmente o contrário. Para espanto de representantes da Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Susepe, que estavam presentes, o oficial anunciou o que lhe foi repassado, de que a BM de Venâncio não receberia reforço naquele momento. E também disse que aproximadamente 80% dos 2 mil formandos seriam distribuído nos 18 municípios considerados prioritários, onde os índices de criminalidade são maiores.
E como Venâncio não apresentava índices alarmantes, ficou de fora, mesmo diante das promessas vindas do Comando-Geral da BM. Em uma reunião do Conselho Pro-Segurança Pública (Consepro), na noite de 5 de agosto, na sede social do Posto Chama, o subcomandante-geral da BM, coronel Carlos Alberto Prado de Andrade, garantiu a vinda de reforço à Capital do Chimarrão. O número do efetivo seria confirmado no mês de outubro, o que não aconteceu.
Porém, ontem à tarde, o coronel Reis voltou a garantir reforço no efetivo da BM. “O problema de Venâncio Aires será resolvido. Isso está garantido”, disse.
ROUBOS EM SÉRIE
Enquanto os reforços não vêm, os moradores convivem com a insegurança, que só aumenta. O fim de semana passado é prova disso. Na sexta-feira, 22, à tardinha, seis pessoas foram feitas reféns de quatro assaltantes e ficaram cerca de quatro horas sob a mira de armas. Armado e mascarado, o bando roubou dinheiro, um celular e duas pistolas e fugiu sem ser identificado.
Na manhã do dia seguinte, sábado, 23, um morador de Linha Grão-Pará foi feito refém de assaltantes, que roubaram a sua caminhonete Toyota Hilux. O veículo, cor preta e placas IMN-4659, não foi localizado. A vítima foi levada com os assaltantes e liberada no interior do município, depois de andar cerca de cinco quilômetros. Teve a carteira roubada e o celular quebrado.
Dois dias depois, na segunda-feira pela manhã, 25, mais dois roubos de Hilux, com reféns. Uma delas, no bairro Brands e a outra, no centro da cidade. A primeira foi abandonada em Linha Herval, juntamente com o seu proprietário. A outra estava com os assaltantes que se confrontaram com a Brigada, no interior de Sério. Foi com a caminhonete roubada que a soldado Marciele foi atropelada. A proprietária deste veículo foi libertada em Linha 17 de Junho.
Afora estes casos, se sucedem os arrombamentos seguidos de furtos praticados nos bairros.
E para mascarar estes números, a SSP proibiu a imprensa de ter acesso aos boletins de ocorrência que são registrados nas Delegacias de Polícia. Isso impossibilita os meios de comunicação de fazer suas próprias estatísticas, ficando atreladas aos números divulgados mensalmente pela Secretaria.