Durante séculos a monarquia britânica manteve acesa a chama imperialista colonizando países e territórios em todo mundo. O império britânico chegou a ser o maior da história e, por mais de um século, foi a principal potência mundial. Mesmo se atualmente a Coroa britânica vive um momento de turbulência exacerbado pelo recente pedido do príncipe Harry e esposa Meghan Markle de afastamento dos deveres reais como membros seniores da família real britânica, o legado arquitetônico de doutros tempos continua a triunfar. Palácios, castelos e mansões rurais espalhadas pelo interior da Inglaterra destacam a história régia do país. Muitas construções continuam servindo a nata aristocrata como residência de campo sem acesso ao público em geral. No entanto, com o trabalho contínuo de orgãos não governamentais em prol da conservação do patrimônio cultural nacional, centenas de mansões se transformaram em pontos turísticos e podem ser facilmente visitadas.
Tradicionalmente as famílias da nobreza britânica construiam palácios no meio do campo para receber convidados importantes, herdeiros e membros da família real, principalmente durante o fim de semana. Nos ambientes suntuosos, de decoração opulenta, organizavam ocasiões chiquérrimas, bailes e jantares. Atividades ao ar livre como caça a faisão, passeios a cavalo e caminhadas também faziam parte da agenda da aristocracia britânica em seus refúgios rurais.
Os ingleses são mestres em preservar a história e por isso hoje em dia num piscar de olhos podemos viajar nos séculos passados visitando monumentos, palácios e castelos construídos tanto tempo atrás, mas conservados tal e qual, alguns inclusive com a mobília original. E, é claro, as famílias inglesas aproveitam as visitas para aprender ainda mais sobre o passado imperialista da nação. Durante as férias de fim de ano, de volta à Inglaterra, nossa família juntou-se a tantas outras para sermos contagiados novamente pela cultura britânica no castelo de Waddesdon, nosso favorito, e não muito distante da nossa casa.
Waddesdon Manor é um palácio rural localizado no condado de Buckinghamshire, noroeste de Londres, a cerca de uma hora de trem da capital. A mansão foi construída no estilo neo-renascentista, entre 1877 e 1889, pelo Barão Ferdinand de Rothschild, nobre francês de família austríaca, radicado em Londres, filantropista e colecionador de arte. O projeto foi inspirado nos castelos do Vale do Loire, na França e ao chegar no local a impressão é realmente de estar entrando no território francês. Além da arquitetura que remete imediatamente a um château, os jardins simétricos, com panorama para o vale de Aylesbury, também traduzem um pouco do estilo francês de jardinagem do século XVIII. Nesta época do ano, no entanto, os canteiros estão vazios, à espera do bom tempo para colorir novamente os arredores do castelo.
Na entrada colossal, destacada por uma longa trilha e gramado perfeito, percebe-se rapidamente que durante a construção não foram medidos esforços para criar aquele ar triunfante e majestoso até chegar no pórtico que antigamente abrigava as carruagens. Tapetes vermelhos cobrem os longos corredores , emoldurados por espelhos, obras de arte, tapeçarias e coleções de porcelana da poderosa família , e que conduzem os visitantes aos salões principais no andar térreo. A decoração pomposa de cada ambiente não deixa dúvidas que este grandioso palácio é um dos mais impressionantes da Inglaterra. No andar superior estão nada menos que 16 quartos impecavelmente decorados usando cores vibrantes e muito mármore nos banheiros.
No salão principal contemplamos a coleção de porcelana Sèvre com nada menos que 400 peças e antigamente usada pela família durante eventos especiais. Em uma das torres pode-se ainda visitar os cômodos exclusivos para os homens, com salas de jogos e outros ambientes usados para entreter o público masculino denotando a cultura de segregação entre sexos da época. A nobre residência exala sofisticação, por dentro e por fora. Pelos salões decorados com cortinas pesadas e mobília clássica evocando o período de regência de Luis XV, percebe-se a influência francesa na decoração interior. Destaque especial para uma escrivaninha da filha do rei francês e a impressionante coleção de 56 relógios, quase todos ainda em funcionamento, espalhados pelo casarão.
Ainda que somente a metade dos cômodos da sublime construção estejam abertos à visitação pública aqueles onde é possível a entrada revelam pequenos detalhes da vida de outros tempos e são mais do suficiente para sentirmos de perto a sofisticação da nobreza britânica. Os ambientes mantêm decoração original requintada, expondo coleções de arte autênticas. A impressão é de que a família continua a viver ali, como na sala de jantar, com a mesa ornamentada para uma importante ocasião. Simplesmente deslumbrante!
Mesmo com o tempo ruim, típico desta época do ano na Europa, o parque em torno do castelo estava lotado durante nossa visita num sábado gelado de dezembro. Não faltam opções para criançada se divertir com pracinhas, trilhas no bosque, caça ao tesouro e tanto mais. Os estábulos que antigamente abrigavam animais e a maioria das construções ao redor do castelo foram restauradas e se transformaram em locais de lazer, restaurantes, barzinhos e galerias. Se no verão as famílias se deliciam fazendo piquenique pelos imensos gramados, no inverno as áreas mais fechadas, ao abrigo da chuva e vento, são as preferidas depois da caminhada pelas trilhas. E para se aquecer nas mesas, não faltam cobertinhas de lã de ovelha e lareiras improvisadas. Faça chuva, faça sol, frio ou calor, os ingleses são grandes apreciadores das atividades ao ar livre, em especial caminhadas pelo campo com a família!
