Uma reunião realizada nesta semana, na Prefeitura de Venâncio Aires, alinhou um plano de trabalho intersetorial para garantir que famílias de imigrantes venezuelanos, recém-chegadas na Capital do Chimarrão, tenham acesso a serviços básicos da rede pública.
Preocupada com a vinda repentina dos venezuelanos, a Administração Municipal reuniu uma equipe multiprofissional para sistematizar um plano de ação.
O grupo de trabalho é formado por profissionais das secretarias de Habitação e Desenvolvimento Social, Saúde e Educação, Conselho Tutelar, Defesa Civil, Sistema Nacional de Emprego (Sine) e conta com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Associação Antônio Vieira (Asav), entidades que vêm contribuindo com o assessoramento técnico.
Segundo a secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social, visitas ao local onde as famílias estão morando, provisoriamente, já foram feitas e o plano de trabalho prevê novas averiguações in loco. Na área da saúde, a força-tarefa inclui o auxílio na confecção do cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme a demanda; a atualização das vacinas; e todo suporte e orientação da rede pública. Na educação, a prioridade é o diagnóstico da vinculação escolar das crianças e o encaminhamento à escola, conforme a individualidade de cada grupo familiar.
Inseri-los no mercado de trabalho também está nas metas do planejamento. Por isso, o Sine compõe o grupo com o intuito de repassar orientações sobre o mercado de trabalho, o que inclui mediação e intermediação com empresas. Auxílio e suporte em questões documentais também integram a força-tarefa.
Segundo o prefeito Giovane Wickert, embora o Município não tenha sido comunicado da vinda dos venezuelanos – eles receberam proposta de emprego de um empresário local – cabe ao poder público, agora, acompanhar de perto a situação. O chefe do Executivo disse que a Prefeitura seguirá averiguando e destaca a importância do apoio da Acnur e da Asav neste momento. “Quem veio, veio com esperança pra cá. Mantivemos nosso posicionamento firme, mas também não deixamos eles desamparados.”
Ele destacou que a maioria está empregada e que a boa escolaridade de muitos venezuelanos vem contribuindo para isso. “Alguns até com faculdade”, observa.
AÇÃO
Na tarde de quinta-feira, 30, uma equipe com representantes de diferentes setores da Prefeitura esteve na sede onde os venezuelanos estão morando para realizar um reconhecimento da situação. Além disso, foi um momento para realizar a vacinação de crianças e mulheres e fazer o levantamento de dados das crianças que necessitam de vagas em escolas.
Segundo a enfermeira da Vigilância Epidemiológica, Carla Lili Müller, a maioria está com a caderneta de vacinação atualizada. “Se a pessoa tem vacina para fazer, ela é do período de dezembro em diante, quando eles estavam nesse processo de trânsito”, explica. Na segunda-feira, 27, uma equipe da Saúde já havia ido ao local para tomar conhecimento sobre as vacinas que eram necessárias e, ontem, aplicaram as doses. A pequena Stefany Fabiana Villarroll Requera, 2 anos, amenizou com o abraço da mãe, Fabiola Stefani Requena Carvalho, 29 anos, a dor da ‘picadinha’ da primeira dose da varicela, única vacina que precisava.
Além das ações voltadas à saúde, Renata de Oliveira Hentz, assistente pedagógica da Secretaria de Educação, acompanhou a visita da equipe multiprofissional para fazer um levantamento das crianças que precisam de vagas em educandários municipais ou estaduais. Segundo ela, será feito um mapeamento da situação escolar das crianças e quais os documentos necessários para que elas ingressem nas redes de ensino no município.
Panorama
Segundo informado pela Prefeitura, atualmente, no local moram 35 pessoas, destas, 14 são crianças/adolescentes. Todos os homens do grupo já estão empregados em empresas de Venâncio e Mato Leitão. Outras 15 pessoas já deixaram o local por interesse próprio e também estão trabalhando.
- Relembre
Desde o começo de janeiro, um grupo de venezuelanos (em torno de 60 pessoas) está alojado em uma estrutura às margens da RSC-453, em Linha Travessa. São refugiados que vieram de Boa Vista, em Roraima. Segundo apurado pela reportagem da Folha, publicada dia 15 de janeiro, a vinda para Venâncio Aires ocorreu depois que eles participaram de entrevistas feitas em Boa Vista e foram selecionados com a promessa de emprego garantido em uma indústria do setor fumageiro. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) os trouxe até a Base Aérea de Canoas, onde um ônibus esperava para a viagem até Venâncio Aires.
Venezuelanos ‘adotam’ Venâncio e querem ter lar para chamar de ‘seu’
Na manhã de quinta-feira, 30, quando a reportagem voltou ao alojamento, às margens da RSC-453, em Linha Travessa, onde estão abrigados os venezuelanos, foi possível visualizar um ambiente diferente do encontrado há dias atrás, quando a equipe esteve pela primeira vez no local.
No canto direito de quem chega ao local, estavam duas mulheres refugiadas. Uma delas, ao ver o carro da reportagem, prontamente veio ao encontro. Atenciosa e com um sorriso no rosto, Yocelynne Díaz, 22 anos, lavava roupas enquanto o céu ainda estava encoberto de nuvens. Para ela, que chegou na Capital do Chimarrão ao lado do marido e de dois filhos, um deles com 1 ano e outro de quatro meses, a situação já melhorou.
O espaço onde vivem famílias já abrigou em torno de 60 venezuelanos. No entanto, ao longo desse mês, a situação mudou e vem melhorando, segundo relatos deles. Yocelynne conta que algumas famílias já conseguiram alugar a própria casa e se mudaram. A meta dela e da família é ter seu próprio lar. Enquanto conversa com a reportagem, ela cita sobre ter uma geladeira somente para seu uso e dos demais membros do núcleo familiar. Isso porque, no local, há apenas uma geladeira para o uso de todos e duas cozinhas.
Assim como muitos já conquistaram um espaço para chamar de lar, alguns já garantiram vagas em empresas do município e assim ‘escrevem’ um novo capítulo de suas vidas na Capital do Chimarrão.
Na Venezuela, Yocelynne era comerciante, mas, até o momento, ainda não pode buscar por emprego porque não tem onde deixar os filhos. Outra situação que ainda precisa ser resolvida, já que as crianças do local ainda não estão matriculadas na rede de ensino.
*Colaborou Ana Carolina Becker