A colheita da safra de tabaco 2019/2020 está na fase final e poucos agricultores ainda estão com o produto na lavoura. Darci Keller, 45 anos, e a esposa Jaqueline, 33, de Centro Linha Brasil, tem na cultura a principal fonte de renda.
Eles finalizaram a colheita na última semana, entretanto, o produto seguirá no galpão até sentirem ‘confiança’ de um bom preço a ser pago pelas indústrias. “Estamos enfardando umas 15 arrobas [mais de 220 quilos sendo preparados para a venda]. Vamos mandar um pouco nas próximas semanas para ver se a compra está melhor. Conversamos com amigos e vizinhos que vendem para a mesma empresa, a expectativa é boa”, comenta Jaqueline.
A estiagem também afetará a produção da atual safra e esse é um dos motivos para o casal segurar o tabaco em casa. Segundo Keller, “esse ano o fumo está mais claro, secou bem, mas em compensação a seca afetou muito, teremos uma quebra significativa”, projeta. O casal plantou 35 mil pés e calcula prejuízos que podem passar de 10% devido à falta de chuva. “Vamos esperar e ver se conseguimos vender bem”, acentua Jaqueline.
MÉDIA
Vizinho do casal Keller, o agricultor Gilvan Cristiano Bohn, 32 anos, já vendeu o tabaco duas vezes nesta safra. Foram 65 arrobas vendidas para duas empresas. “Vendi bem, fiz uma média boa, de R$ 160 [valor recebido por arroba], mas poderia ter sido um pouco melhor.”
Um dos fatores que pode afetar no preço final, segundo Bohn, é a qualidade do tabaco. “A sorte que plantei meu fumo cedo, com isso consegui colher ele antes, mas as últimas fornadas percebi que o fumo estava manchado, isso vai provocar uma quebra na qualidade final.”
Apesar das diversidades, ele caracteriza a safra como média e, por isso, já está enfardando novamente. “Vou vender mais um pouco para pagar o restante das contas, mas depois pretendo segurar ele para vender somente quando o preço estiver bom. Espero que melhore.”
“A decisão de vender ou não é do produtor”, diz Fetag
Sem acordo com as empresas, alegando que as propostas de reajustes não cobrem o custo de produção, as entidades representativas dos produtores entendem a decisão de alguns de ‘segurar’ o tabaco em casa.
“A decisão de vender ou não é sempre do produtor. Se podemos dar alguma orientação, é de acompanhem a venda e, se não concordarem com a classificação e preço, que levem de volta. A empresa não pode obrigar a nada”, destacou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva.
Ainda para ele, essa indefinição sobre o preço pode terminar com uma “corrida” no fim da compra. “Isso é prejudicial para os dois. Para a empresa, que talvez depois tenha que correr atrás. E para o produtor que, sem uma tabela definida, não confia na empresa.”
Para a Afubra, o presidente Benício Werner afirmou que há uma satisfação entre os produtores consultados, na hora de ver o tabaco classificado na entrega. Por outro lado, há preocupação com a investida dos chamados ‘picaretas’ e que isso é um reflexo da falta de acordo na negociação com as indústrias. “No Noroeste do Estado, por exemplo, picaretas estão vendendo por um preço médio maior do que as próprias empresas.”
TABELA
Nos próximos dias, a Afubra informou que pretende divulgar, em seu site, os valores atuais dos preços praticados pelas tabacaleiras. De acordo com o presidente, Benício Werner, no dia 5 de março ocorre uma reunião do Fórum Nacional de Integração (Foniagro) e as entidades vão apresentar denúncia contra as empresas que não cumpriram com as regras estabelecidas.
Estiagem
Outro fator importante neste início de comercialização do tabaco, é a influência da estiagem na quantidade e qualidade do produto que chega até as empresas. Conforme números da Afubra e da Fetag, há uma quebra que pode chegar a 20% no Rio Grande do Sul. Fechando ainda mais a área, no Vale do Rio Pardo, e as perdas com a seca já representam 30% a menos na produção.