“Era a minha primeira carga na atual safra”, relata motorista que teve tabaco roubado

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Um motorista de 56 anos e o filho dele, de apenas 14 anos, passaram por momentos de tensão nas mãos de uma quadrilha especializada em roubo de cargas de tabaco. Leomar Fathe e o adolescente foram atacados ontem pela manhã, em Pantano Grande, ficaram cerca de quatro horas como reféns do bando e foram libertados em Vila Mariante. A Polícia Civil agiu rápido, recuperou a carga em Linha Campo Grande, interior de Venâncio Aires, assim como o caminhão da vítima, além de três veículos, duas armas, miguelitos e até um aparelho que bloqueia o sinal dos rastreadores dos veículos. Pelo menos três dos ladrões estão identificados.

O assalto foi praticado por volta das 7h15min. Fathe partiu de Canguçu com um caminhão Ford 2429, com 16,8 toneladas de tabaco, carga avaliada em R$ 150 mil. O destino era uma fumageira, em Santa Cruz do Sul. Na localidade de Monte Castelo, foi atacado por indivíduos que ocupavam um Vectra de cor escura. “Deram três tiros para o chão e, quando olhei, um deles já estava do lado da porta do caminhão”, relembrou.

O motorista e o filho foram retirados do Ford e Fathe, obrigado a deitar no banco de trás do Vectra, enquanto que o filho teve que entrar no porta-malas. Eles rodaram cerca de uma hora, até pararem em um propriedade na localidade de Linha Campo Grande. Deitado e orientado a não levantar a cabeça, Fathe ouviu quando a carga de tabaco começou a ser descarregada. Também ouviu a chegada de outro caminhão e a movimentação de um trator. “E ouvi quando um deles disse que o galpão era pequeno para toda aquela carga”.

Depois de um longo período, dois assaltantes retornaram para o Vectra e o motorista ouviu quando ligaram e manobraram o caminhão. Eles andaram por mais cerca de uma hora, até que o automóvel parou. Fathe e o filho foram libertados próximos da santinha, em Vila Mariante. O caminhão seguiu pela ERS-130 e foi abandonado – e recuperado – já no município de Taquari.

TIROTEIO

Baseados nas informações recebidas, os agentes dos Setor de Investigações fizeram buscas e descobriram a localização do galpão, em Linha Campo Grande. Ao ingressarem na propriedade, juntamente com agentes da Polícia Civil de Santa Cruz do Sul, foram recebidos a tiros e revidaram. Pelo menos três indivíduos fugiram para a mata e, na fuga, perderam documentos de identidade. Segundo o delegado regional, Luciano Menezes, um dos fugitivos é um conhecido ‘picareta’ de fumo da região. Os outros, observou o delegado Felipe Staub Cano, também estão identificados.

Segundo o titular da Delegacia de Polícia de Venâncio, houve intensa perseguição. “Eles ainda não foram capturados, mas sabemos quem são”, assegurou Cano, ressaltando que esta é uma ação que se encontra dentro da estratégia da Polícia Civil do Vale do Rio Pardo de, neste ano, reduzir em pelo menos 50% esse tipo de ocorrência na região.

Na propriedade, além da carga de tabaco, foram apreendidos o Vectra e outros dois veículos clonados, dois potes com miguelitos e um aparelho ‘jamper’, que bloqueia o sinal rastreador dos veículos. Mas o que chamou atenção foi a apreensão de uma espingarda calibre 12, pertencente à Guarda Municipal de São Paulo, e de uma pistola calibre 380.

SUSPEITO

Enquanto a carga de tabaco era recolocada sobre o caminhão Ford, o dono da propriedade chegou no local. Foi indagado pelos delegados Menezes e Cano e negou qualquer envolvimento no roubo da carga. “Disse que um desconhecido chegou na propriedade e pediu para guardar uma carga de tabaco. Mas alega que não conhece esta pessoa e nem a origem do fumo”, mencionou o delegado Cano.

As alegações não convenceram e o indivíduo foi encaminhado até a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para prestar esclarecimentos. Enquanto isso, o delegado Menezes e alguns agentes foram até Sinimbu, onde recuperam o resto da carga de tabaco. Estima-se que cerca de 20% tinha sido carregado em outro caminhão. Assim, toda a carga foi recuperada.


ENTREVISTA 

Sentado à sombra do galpão que armazenava a carga de tabaco que lhe fora roubada momentos antes, o motorista Leomar Fathe falou do drama vivido nas mãos dos assaltantes. Morador de Canguçu, estava apreensivo e revelou que era a primeira carga de tabaco que transportava na atual safra.

FOLHA DO MATE – Onde vocês foram atacados?

Leomar Fathe – Era uma subida leve, em Monte Castelo, já em Pantano Grande. O carro escuro emparelhou ao meu lado e deram três tiros para o chão. Quando vi, um deles já estava na porta do meu caminhão.

Vocês foram obrigados a sair do caminhão?

Sim. Eu tive que deitar no banco de trás do carro, enquanto que meu filho foi colocado no porta-malas. Rodamos com eles por cerca de uma hora, até que o carro parou e fui orientado a não levantar a cabeça.

O que fizeram neste local?

Eles estacionaram meu caminhão e começaram descarregar o fumo. Ouvi barulho de outro caminhão e de um trator e deles dizerem que o galpão era muito pequeno para esconder toda aquela carga.

Quanto tempo ficaram como reféns?

Não sei, acho que umas quatro horas. Depois de descarregarem o fumo, andamos mais uma hora, eu acho, e fomos libertados perto da santinha, em Vila Mariante. Meu caminhão seguiu adiante e depois foi encontrado em Taquari.

Há quanto tempo trabalha como motorista de cargas?

Faço isso há 13 anos e nunca tinha sido assaltado. E essa era a minha primeira carga da safra.



Alvaro Pegoraro

Alvaro Pegoraro

Atua na redação do jornal Folha do Mate desde 1990, sendo responsável pela editoria de polícia. Participa diariamente no programa Chimarrão com Notícias, com intervenções na área da segurança pública e trânsito.

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