Histórias e lembranças nos 150 anos de Linha Isabel

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Aos 95 anos, Hugo Haupt é um dos moradores mais antigos de Linha Isabel. A história dele está diretamente ligada com a história da localidade, antes mesmo de ele nascer. O bisavô, Franz Haup, integrou o grupo dos primeiros imigrantes. Foi ele quem derrubou a primeira árvore para iniciar a construção da casa onde residiria com a esposa Bárbara e os cinco filhos – entre eles, o avô de Hugo, August Haupt.

Tudo isso aconteceu no lote número um, uma área de 30 hectares pertencente ao imigrante austríaco e onde viveram diversas gerações da família Haupt. Atualmente, os dois filhos mais novos de seu Hugo são proprietários de 17 hectares daquele lote inicial.

É na mesma propriedade onde o bisavô começou a abrir a mata para dar início a uma nova vida, que Hugo reside com o filho Minio Edson Haupt, 45 anos, a nora Elisete, 38 anos, e o neto Nícolas, 6 anos.

Embora não tenha conhecido Franz Haupt, o aposentado tem vivas na memória muitas histórias relatadas pelos antepassados. Entre elas, a da morte da bisavó Bárbara, que faleceu grávida, oito meses após a família ter chegado no Brasil, e foi enterrada na própria propriedade, já que ainda não havia cemitério na localidade. “O Franz Haupt estava em Rio Pardo e quando voltou encontrou a mulher e o filho mortos”, conta.

Nos seus 95 anos vivenciados em Linha Isabel, Hugo Haupt acompanhou a evolução da localidade e atravessou períodos históricos. Frequentou aulas na escola que funcionava junto à igreja, com o professor Rudolf Wünsch, na época em que o caderno era uma lousa de pedra com anotações feitas a giz. “Naquele tempo tinha muito respeito. Quem não levantava o chapéu quando o padre entrava ia para o castigo”, relembra Hugo, quinto dos nove filhos (dois falecidos crianças) de Germano e Juliana Haupt.

Foram quatro anos de estudo: dois em alemão e dois em português. A proibição de falar o idioma germânico, os policiais “espiando” para fiscalizar quem não cumpria a regra e a escassez de produtos são memórias da época da guerra. “Não tinha querosene, nem sal”, lembra o aposentado.

Atiradores

Desde a infância, Hugo acompanhava a Sociedade de Atiradores Concórdia, um dos principais passatempos dos homens da localidade, fundada em 1892. “No início, eram usadas armas de guerra para atirar. Essas armas foram doadas para o Museu de Venâncio Aires”, comenta. Aos 16 anos, pôde ingressar na entidade. Se agora ele já não pode manusear o revólver por conta do marcapasso, ao longo da vida, o desempenho como atirador lhe rendeu 18 medalhas de rei e 1º e 2º cavalheiro, guardadas como um tesouro, junto à moedas e cédulas antigas. “O rei e os cavalheiros podiam dançar uma ‘marca’ com a rainha e as princesas da sociedade das mulheres”, recorda.

Outra relíquia guardada por Hugo é um relógio de bolso Remoint Patent, que pertenceu ao avô August. O acessório tem mais de 150 anos, já que foi trazido do Velho Continente.

Primeiros imigrantes

  • Franz Haupt e a esposa Bárbara (nascida Endler), com os filhos Antônia, August, Anna, Stephan e Berta
  • Franz Lahr e a esposa Emilie (nascida Siebeneichler), com os filhos Wilhelm e Reinhold
  • Josef Siebeneichler I e a esposa Helene (nascida Staffen), com os filhos Wilhelm, Julie, Antonia, Johan, Robert e Maria
  • Kajetan Siebeneichler e esposa Maria (nascida Schöeffel), com as filhas Maria e Emma.
  • Josef Siebeneichler II e a irmã Ernestina Siebeneichler
  • Frantz Reckziegel e a esposa Teresia (nascida Pilz), com os filhos Joseph e Peter (nascido antes de embarcar no navio)
  • Johann Hübner e a esposa Barbara (nascida Bergmann)
  • Anton Pilz e a esposa Amália (nascida Peuckert)

Panorama de Linha Isabel

Localizada no 5º Distrito de Venâncio Aires, de Centro Linha Brasil, Linha Isabel faz divisa com Linha Esperança, Saraiva, Leonor e Centro Linha Brasil. A localidade recebeu os primeiros imigrantes da Áustria, em 1873. Inicialmente, as famílias se concentraram em uma área de Jakob Gerlach, em Centro Linha Brasil, enquanto os homens se deslocavam diariamente para explorar e se estabelecer em Linha Isabel.

Conforme recenseamento realizado por Aurimar Renato Ludwig dentro das atividades alusivas aos 150 anos, atualmente, a localidade tem 378 habitantes: são 209 homens e 169 mulheres. O primeiro grupo de imigrantes que se instalou na região era formado por 33 pessoas: 17 homens e 16 mulheres.

A suinocultura é o setor mais representativo na economia de Linha Isabel, que foi se consolidando ao longo dos anos. Atualmente, quatro famílias se dedicam à criação comercial de suínos: Ivo e Marisa Bencke, Valdir e Orsênia Lahr, Neuri e Rejane Lahr, e Auri Unzer. Ivo Bencke é o 13º maior produtor rural de Venâncio Aires conforme o Valor Adicionado Fiscal (VAF) de 2021.

Com relação à origem do nome da localidade, também conhecida como Picada Isabel, há três versões: uma homenagem à Princesa Isabel, uma referência à padroeira Santa Isabel ou uma homenagem a uma das filhas do agrimensor que mediu os lotes, cujo nome era Isabella – registros antigos citavam Linha ou Picada Isabella ou ainda a grafia Izabella.

Grupos e associações

  • Sociedade de Atiradores Concórdia – 19.10.1892
  • Sociedade Cantores Alegria – 29.12.1907
  • Sociedade de Damas Primavera – 21.03.1920
  • Damas Concórdia – 12.12.1926
  • Sociedade Damas Ouro Verde – 08.11.1981
  • Sociedade Cavalheiros Flor do Sul – 18.11.1984
  • Clube de Mães Unidas de Linha Isabel – 05.08.1992
  • Sociedade Esp. Mista Princesa Isabel – 07.03.1999
  • Grupo de Idosos Böhmerkreis – 1º.05.2003


Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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