Legado de pai para filha: moradores de Mato Leitão confeccionam balaios

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Com a pandemia de Covid-19, Adriana Conceição Rodrigues, 30 anos, ficou desempregada e teve que arrumar outro jeito de conseguir renda. Para isso, contou com a ajuda do pai, Elídio Conceição Rodrigues, 63 anos, que antes de ser aposentado por problemas no joelho, confeccionava e vendia balaios.

Há cerca de seis meses, Adriana pediu para que o pai a ensinasse a fazer balaios e cestas de cipó e taquara – artesanato que ele pratica há décadas. “Meu pai sustentou a mim e meus irmãos com essa renda, me vi na necessidade e precisei fazer algo para conseguir dinheiro então ele me ensinou e eu estou vendendo balaios e cestas”, comenta. A venda dos balaios não supre todos gastos dela com a família, mas ajuda muito. “Também é um jeito de aprender algo novo, um legado que meu pai me passou”, ressalta, emocionada, a moradora de Vila Kroth, no interior de Mato Leitão.

Como ele não consegue mais produzir, fica sentado ao lado ensinando a filha, que já ‘pegou o jeito’ do artesanato. “É um serviço judiado, tenho que ir pegar os cipós e taquara, corto eles e depois faço os artigos, mas me ajuda no sustento”, enfatiza Adriana, que afirma que todo trabalho é feito manualmente. Mas também cansa o corpo, pois, para iniciar a peça, ela precisa fazer com os pés e acaba ficando com postura inadequada, além dos possíveis arranhões com os materiais.

Os produtos são feitos por encomenda e cada cliente pode escolher como quer, se vai ser usada taquara verde ou branca, como serão intercaladas as cores, qual tamanho e como vai ser a alça. “O cesto é mais usado para época de Páscoa, para arranjos e para colocar lenha. Já o balaio normalmente é usado na roça, para colheita de milho”, explica a artesã.

Expectativas

Com a divulgação pelo Facebook e com a proximidade da Páscoa, Adriana tem expectativas de aumentar as vendas. “Muitas pessoas estão pedindo para fazer ninhos de Páscoa e arranjos de flores. Acho que vou conseguir vender mais”, projeta.

  • 30 minutos

é a média de tempo que Adriana leva para fazer um cesto ou balaio.

“O que meu pai me ensinou ninguém pode tirar, é um grande aprendizado, é uma herança.”

ADRIANA CONCEIÇÃO RODRIGUES

Artesã

Com o apoio dos pés, Adriana inicia o fundo dos produtos (Foto: Eduarda Wenzel/ Folha do Mate)
Com o apoio dos pés, Adriana inicia o fundo dos produtos (Foto: Eduarda Wenzel/ Folha do Mate)

A trajetória de Elídio

Elídio Conceição Rodrigues aprendeu a fazer balaios por necessidade. Ele e a esposa Delci Soares Rodrigues, 53 anos, trabalhavam como peões no interior de Venâncio Aires. Quando a mulher engravidou pela primeira vez, decidiram sair do interior em busca de melhores condições e começaram a fazer os balaios – técnica que Delci conhecia.

O casal se deslocou a pé até Mato Leitão e montou uma lona na beira do asfalto, buscou as taquaras e cipós no mato e começou a confeccionar os cestos. “Meu primeiro balaio ficou todo torto, mas vendi para o pessoal do Violão Roos. Trocamos por leite, farinha, banha, feijão e outros alimentos, isso me motivou, foi um incentivo para continuar”, recorda ele.

Posteriormente, o chefe de família alternava a venda de balaios com as safras nas indústrias de tabaco. “Não podia depender apenas dos meses que tinha emprego em fumageiras, tinha nove filhos para sustentar. Então fazia os balaios, pegava a bicicleta e ia vender. Assim comprei minha casinha e criei minha família”, conta, orgulhoso.

Foram muitos quilômetros percorridos por Elídio de bicicleta. De Mato Leitão ele ia para toda região. Passou por Vale Verde, Passo do Sobrado, Venâncio Aires e até Encantado. “Me ligavam, faziam encomenda e eu ia entregar. A bicicleta sempre foi meu meio de locomoção, mas, hoje, por causa dos problemas nos joelhos, não consigo mais pedalar.”

Mesmo sem poder fazer os balaios no momento, o artesão fica feliz em ver a filha se interessando pelos produtos. “Dos meus filhos, é a única que quis aprender. É bom ver que o serviço que me ajudou está ajudando ela também. É a herança que posso deixar para ela”, destaca.

    

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