Padel e beach tennis: as ‘febres’ do momento

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Quem pensa que Venâncio Aires vive apenas do futebol, futsal e outras modalidades de fácil reconhecimento do público está enganado. O novo ‘boom’ de praticantes vem dos esportes de raquete, em especial o padel e beach tennis. Categorias recentes na realidade dos venâncio-airenses, mas que estão ganhando força e um elevado o número de jogadores dia após dia.

Sérgio Luis Konzen, de 57 anos, é um dos primeiros praticantes de padel da cidade. Iniciou a praticar há cerca de oito anos. “Logo depois, em Venâncio, um jogador de padel, que tinha ido embora, apareceu com algumas raquetes e deu para o pessoal perto do Clube de Leituras. A quadra, que estava abandonada, voltou a ser usada como um núcleo de formação de esporte. O pessoal convidava a galera que passava lá na frente e éramos de 10 a 15 pessoas com regularidade por uns quatro anos”, conta.

No entanto, quem realmente trouxe o esporte para a cidade foi o advogado Luciano Spies. Ele veio da fronteira com o Uruguai, onde o esporte era ‘mais famoso’. Há mais de dez anos, ele construiu a quadra, que depois de alguns anos ficou abandonada. “Com certeza fui um dos incentivadores em Venâncio. Mas longe de ser o único. Fiz junto com o Luiz Hansel, o Nikão, e outros. O Clube estava parado quando o Norton Campos deu as raquetes e o esporte voltou à cidade. O Nikão deve ter convidado umas 50 pessoas para o padel. Mas esse negócio de convidar acabou, porque os horários não estão disponíveis, é bastante gente praticando”, pontua Konzen.

‘Febre’ recente

De acordo com o vice-presidente da Sociedade Olímpica Venâncio Aires (Sova), Vicente Côrrea, tanto o padel quanto o beach tennis tiveram um crescimento recente. “O padel é mais antigo, praticado há uns dez anos na cidade, tem mais tradição. Eles tomaram uma proporção maior quando a Sova fez duas quadras de concreto, em 2018. O ‘estouro’ mesmo foi quando foi aberto um empreendimento particular de quadras de vidro, aí tomou conta da cidade. Já o beach tennis está em uma crescente, apesar de ser um esporte de praia. A Sova criou uma quadra e, junto a outras pessoas, melhoramos a inclusão do esporte na cidade”, diz.

Konzen conta que, anteriormente, se via apenas a mesma turma praticando o esporte, e enfatiza que a receptividade em um determinado momento gerou a repercussão atual. “Quando passou de 10 ou 15 jogadores, essa nova turma convidava as pessoas e o movimento aumentou, há uns cinco ou seis anos. Assim, movimentou a sociedade, deu um fôlego para os clubes, aumentou o número de sócios.”

O entusiasta da modalidade afirma que foi um dos que sugeriu a criação de quadras para o esporte no município. “O presidente da Sova me chamou e disse que a Sova estava com dificuldades, que era preciso fazer algo. Levei ele comigo para Santa Cruz para assistir o padel. Ele decidiu fazer nas duas quadras, fizemos um torneio que, entre quinta e domingo, gerou mais de mil pessoas na Sova, entre praticantes e que foi só prestigiar. Colocamos churrasco à disposição e afins. Foi um pontapé para uns 100 atletas.”

Geraldi acredita que o ‘boom’ aconteceu no início da pandemia. (Foto: Divulgação)

Outra sugestão, segundo Konzen, foi a criação de quadra de beach tennis na Sova. “Fizemos um torneio integrado, com padel, beach tennis e tênis, e com isso aumentou o número de participantes. Atualmente, tem um grupo, o Pé na Areia, com 130 mulheres. A mudança veio em vários momentos, passo a passo, durou uns três ou quatro anos.”

Para o sócio do Club.Sports, Fábio Augusto Geraldi, a grande mudança foi durante a pandemia de Covid-19. “A partir do começo de 2021, com a pandemia e proibição da prática de futebol, muitas pessoas migraram para os esportes de duplas e sem contato. Houve um grande aumento no aluguel das quadras, um foi convidando o outro.”

Estrutura em Venâncio

  • São oito quadras no total. A Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) tem uma, o Clube de Leituras tem uma, uma na Arena, duas no Complexo, a Sova tem duas e está construindo mais uma, além disso, são entre duas e três em propriedades privadas.
  • De acordo com Vicente Côrrea, na Sova as quadras fizeram uma grande diferença na pandemia. “A sociedade só se manteve devido às quadras de areia do beach tennis e de padel. Muitos se associaram e, agora, mais que duplicamos os sócios. Com um novo empreendimento que iremos lançar, acreditamos que o número de participantes irá aumentar. Estamos sempre com horários lotados, pela alta procura.”
  • Segundo estimativas, são mais de de 300 padelistas em Venâncio, e com o beach tennis a soma passa dos 500 praticantes. Na Sova, o número de sócios atualmente é de 330. “A meta com os novos projetos é chegar em 400. Antes de assumirmos, eram 140 sócios, dá para confirmar que uns 200 são desses esportes”, analisa Côrrea.

    Como vice-presidente da Sova, Côrrea (esquerda) incentivou o esporte. (Foto: Divulgação)

Família e respeito

  1. Todos que praticam os esportes detalham os motivos para amar a modalidade. Konzen pontua que é um esporte de socialização, conversa e vivência. “Cria um estilo de vida ao lado de muitas pessoas. Também é um esporte que, perto do tênis, é mais fácil de aprender. Precisa apenas quatro pessoas para jogar, gasta cerca de mil calorias em uma hora de jogo. Além disso, traz bastante conhecimento e, para os jovens, é possível pensar até em algo profissional.”
  2. Para Côrrea, esses esportes agregam na sociedade e na família. “Vemos toda a família praticando, diferente do futebol e de outros esportes. Todos os membros da família são inseridos. Hoje vemos durante a semana diversas famílias, enxergamos que é por isso que os esportes estão crescendo tanto. É também um lazer ao lado da família.”
  3. Konzen conta que em uma final disputada por seu filho, ocorreu uma situação que confirma a educação necessária para praticar. “Estava em um tie break (set desempate), o adversário pontuou e venceu o jogo, todos bateram palmas para a vitória. Mas ele levantou a mão e avisou que houve um erro seu na jogada, voltou o ponto”. Segundo ele, podem acontecer impasses sobre algum lance, mas os dois vão à rede e tentam chegar a um acordo. “Se discutir, está queimado.”
  4. “É um jogo honesto, de fidalguia, bateu a bola no adversário pede desculpa. Não pode gritar, jogar sem camisa, existem regras morais que precisam ser cumpridas. Ao final do jogo é obrigado a cumprimentar o adversário, senão não será mais convidado”, afirma Konzen.
  5. Segundo o sócio do Club.Sports, Fábio Augusto Geraldi, a indicação vem primeiro pelo fato de sair de casa e se movimentar. “É um esporte que pode ser praticado por todas as idades, pelo respeito que se tem entre os integrantes.”

Custos

  • Em Venâncio, o horário de padel entre uma hora e uma hora e meia custa entre R$ 130 e R$ 140 nos ambientes particulares, para quatro pessoas. Contudo, a Sova, por exemplo, disponibiliza o plano mensal para sócios no valor de R$ 119, para a família inteira. O membro precisa apenas esperar a disponibilidade de quadras. Para o beach tennis, os valores ficam entre R$ 60 e R$ 80.
  • Para praticar o padel é necessário uma raquete especial, bolinhas e um tênis adaptado para o esporte. As raquetes têm preços bastante variados, com valores que vão de R$ 300 a R$ 3 mil. O tênis adequado fica entre R$ 200 e R$ 300. “Ainda é um esporte que não chegou nos bairros, mas acredito que vai entrar aos poucos. Quando chegar nos colégios, isso irá popularizá-lo. Ainda é um esporte elitizado nesse momento, porém é possível encontrar alguém que lhe garanta uma raquete e posteriormente vai levando. Uma aula custa em torna de R$ 60 e R$ 80”, destaca Konzen.
  • No beach tennis, é necessário apenas raquete e bolinhas. A raquete custa entre R$ 100 e R$ 1 mil. “Os clubes têm professores para realizar a iniciação. A raquete e bolinhas serão cedidas no princípio. Posteriormente, cada um compra o seu equipamento. É possível se adequar a todos os bolsos, o necessário é vontade para iniciar”, enfatiza Côrrea.

As modalidades

  • Padel: surgido originalmente no México, na década de 60, ganhou força na Argentina e na Espanha. É jogado em quadras fechadas de vidro e em duplas, tem regras parecidas com as do tênis. A pontuação é a mesma, a forma de pontuar também, contudo é possível ‘tabelar’ com as suas paredes. As bolas são um pouco maiores e mais lentas em relação ao seu ‘primo famoso’. Os principais torneios são transmitidos na internet.
  • Beach tennis: foi criado há apenas 30 anos na província italiana de Ravenna e pode ser jogado individualmente ou em duplas. É praticado em uma quadra de areia nivelada, parecida com a do vôlei de praia, com raquete e bolinhas próprias para o esporte. O objetivo dos jogadores é projetar a bola sobre a rede, em direção ao campo adversário, sem deixar ela cair no seu lado da quadra. Normalmente é disputado em três sets.
Konzen (esquerda)

“A maior questão do padel é a fidalguia, pedir desculpas, ser honesto, educado, cumprimentar a todos. Nesses guris de 15 anos, dá para ver a mudança de comportamento após o esporte. Eles mudaram totalmente fora das quadras.”

SÉRGIO KONZEN

Praticante há oito anos

Vitor Pegoraro dá aulas na cidade

Vitor Mengue Pegoraro, de 17 anos, foi um dos que aproveitou o crescimento do esporte em Venâncio Aires. Atualmente, ele tem cerca de 30 alunos, e joga padel desde 2018, quando houve a construção das quadras da Sova. Ele atua em campeonatos por todo o Brasil e participa de cursos para “cada vez me tornar um professor melhor”.

Segundo ele, o ‘boom’ veio em 2019, quando houve a abertura das quadras de vidro na Arena e no Complexo. “Venâncio estava com o número alto de praticantes de padel e só com um professor, assim me veio a ideia de começar a dar aulas”, conta.

Pegoraro aproveitou a oportunidade e se tornou professor. (Foto: Divulgação)

Para ele, as duas modalidades são esportes saudáveis, perfeitos para fazer amizades, sair de sua zona de conforto e ainda tentar um desafio novo. “É preciso ter vontade e dedicação. Apesar de ser um esporte mais caro, ele é acessível”, encerra.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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