Biólogo por formação, Júlio Nascimento, de 36 anos, encontrou na Educação de Jovens e Adultos à Distância (EAD EJA) do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Venâncio Aires, uma forma de fazer a diferença na vida das pessoas. Atuando como professor da modalidade desde que foi lançada, em 2022, ele ministra as aulas presenciais das turmas, uma vez por semana, pela disciplina de ‘Projeto Integrador e Projeto de Vida’. Os encontros versam sobre autoconhecimento e proporcionam uma relação mais humana com os estudantes de Ensino Médio.
O gosto pela EJA se estendeu à pesquisa. Em 2021, o professor iniciou o doutorado em ‘Ciências da Educação’, na Universidade Evangélica do Paraguai (UEP), em Assunção, capital do país vizinho. O curso foi todo cumprido de forma remota, por conta da pandemia de Covid-19.
A linha da pesquisa do professor venâncio-airense, cuja defesa foi feita em janeiro deste ano, abordou a modalidade EJA, políticas públicas e educação ambiental, intitulada ‘Percepção dos alunos da Educação de Jovens e Adultos diante da complexidade apresentada nas diretrizes curriculares nacionais da educação ambiental e seus reflexos’.
“Um dos objetivos era criar um perfil desses alunos da EJA do Rio Grande do Sul, porque eu fiz minha pesquisa com alunos do Sesc no estado, não só com alunos de Venâncio Aires. Eu queria entender como que são esses alunos, classe econômica, idade, sexo, etnia, todas as questões”, explica Nascimento.
No estudo, ele observou que o perfil dos alunos da EJA se alterna conforme a região do país. “No Rio Grande do Sul, são basicamente mulheres, de etnia branca, na faixa dos 30 anos. Em outros lugares, como no Nordeste, são negros, homens mais velhos. Então a gente tem essa discrepância e queria entender um pouco quem é esse público”, comenta. Outro objetivo era observar como os estudantes percebiam a complexidade da educação ambiental.
Alunos da EJA
O professor Júlio Nascimento ressalta a importância da Educação de Jovens e Adultos para a sociedade. “A gente recebe alunos que não estudam há muito tempo e que precisaram parar por algum motivo, às vezes por alguma situação familiar ou necessidade financeira, que obrigou a trabalhar mais cedo. A EJA é uma modalidade reparadora”, destaca.
Sobre o ensino a distância, como no Sesc, ele observa que, embora cômodo, por ter a opção de fazer de casa, também pode ser desafiador. “Eu costumo dizer que EAD não é para todo mundo. Exige organização, disciplina e saber se virar sozinho”, observa. Na metodologia do Sesc, assim que o estudante faz a matrícula, recebe todo o material do curso inteiro de uma vez só, então torna-se responsável por assistir às aulas e realizar as tarefas dentro do período de um ano e meio. Nascimento relata que os perfis se alternam entre os alunos. Há aqueles que fazem tudo em poucas semanas e depois precisam apenas acompanhar as aulas presenciais toda semana, e outros que ficam com os prazos apertados na reta final.
EJA no Sesc
- Atualmente, são cerca de 100 estudantes, mas uma turma conclui o curso neste mês de fevereiro.
- As inscrições para a turma que inicia em março já se encerraram.
- O curso tem duração total de 18 meses. As aulas são gratuitas e os encontros presenciais ocorrem nas noites de segunda e terça e nas manhãs de sábado – um período para cada turma.
- Também é oferecida uma qualificação profissional em Produção Cultural.
- O professor Júlio Nascimento ressalta que o trabalho ocorre de forma diferenciada, trazendo conteúdos atuais, específicos e personalizados para o público: “A gente sai um pouco daquela lógica tradicional de ensino para abordar temas cotidianos, como as contas do dia a dia.”
- Para cursar a EJA EAD do Sesc é necessário ter Ensino Fundamental completo, mais de 18 anos de idade e possuir renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Comerciários e dependentes têm preferência no preenchimento das vagas.
Trajetória profissional
O professor Júlio Nascimento se formou em Biologia em 2010, e foi durante a graduação que ‘virou a chave’ para a licenciatura. Quando entrou na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), seu objetivo era concluir o bacharelado, mas uma professora, que observou a sua facilidade com a didática, o convenceu de migrar para a outra modalidade.
Depois, já interessado em aprofundar sua capacidade de lecionar, iniciou mestrado na área, em ‘Ensino de Ciências e Matemática’, tendo concluído em 2013, na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas.