Pensar a inclusão das pessoas com deficiência também no ambiente familiar para, assim, estimular ela aconteça de forma mais intensa na sociedade. Foi com esse objetivo que a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Venâncio Aires realizou, na última quinta-feira, 24, a palestra ‘Um olhar sobre a potencialidade, uma forma de conectar as pessoas’.
A explanação foi feita pela psicóloga Gabriela Ribeiro e pela terapeuta ocupacional Francini Jacques de Souza, que trabalham na instituição. A atividade fez parte da programação da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla.
As profissionais destacam a necessidade de se buscar enxergar as potencialidades das pessoas com deficiência para que elas sejam estimuladas a realizarem todas as atividades possíveis. Francini, por exemplo, explicou que no trabalho como terapeuta ocupacional busca distribuir as tarefas de autocuidado e produtividade ao longo das 24 horas disponíveis, de forma que isso gere qualidade de vida às pessoas.
“Quando falamos do nosso público com deficiência estamos fazendo essa inclusão pensando neles como pessoas”, comenta. Francini e Gabriela observam que em alguns casos as famílias podem sentir medo de deixar que algumas atividades sejam realizadas, mas é necessário que haja um esforço para superá-lo.
“O medo de fazer as coisas, de se desafiar, é um processo que precisamos lidar enquanto seres humanos. Nem sempre vai dar certo e o erro vai fazer a gente acertar na próxima vez”, destaca Francini. “No momento em que tu é frustrado aprende a aumentar a tolerância, a conviver com o outro, a expandir os horizontes. Essa frustração é importante em todas as fases da vida”, acrescenta Gabriela.

“Enquanto a família não a pessoa com deficiência, não traz ela para dentro da própria vida, não deixa de fazer por ela o que ela consegue fazer sozinha, ela também está dizendo que não confia que ela vá conseguir. No momento que dou a oportunidade dela crescer, como fazemos com as outras pessoas no modo geral, estou aumentando a autoestima e ensinando ela a lidar com o medo e a frustração.”
GABRIELA RIBEIRO – Psicóloga da Apae
Medo e preconceito
Para Francini, o medo e o preconceito estão relacionados e um passo importante é conseguir superar o sentimento de insegurança no meio familiar. “Buscamos que eles possam empoderar os filhos e quebrar esses medos de deixar eles fazerem tarefas”, menciona.
Com isso, ela acredita que seja possível evoluir, também, quando se trata da inclusão na sociedade. “Se eu tenho medo de sair de casa com a minha cadeira de rodas, não obrigo os estabelecimentos a colocarem rampas”, exemplifica. “Quando entendemos que é responsabilidade de cada um a inclusão, a gente compreende que é uma sementinha que estamos plantando para que possamos avançar”, complementa Gabriela.
A psicóloga e a terapeuta ocupacional também citam a importância de se buscar conhecimento a respeito das deficiências e do trabalho da Apae de aproximação com as famílias e auxílio no empoderamento delas. “É preciso entender que a pessoa não é resumida a deficiência dela. Existem as preferências, as questões de personalidade e de genética e o que é aprendido com a família. É preciso entender que existe um ser humano com deficiência e não uma deficiência com ser humano”, destaca Gabriela.
“Olhamos a frustração como se fosse algo muito negativo porque tudo hoje é imediatista. Eu tenho que ser respondido na hora que eu quero, tenho que conseguir as coisas como eu quero. Assim, eu passo a não saber lidar mais com o esperar. Pode parecer clichê, mas o importante não é o resultado final e sim o processo.”
FRANCINI JACQUES DE SOUZA – Terapeuta ocupacional da Apae