O olhar de curiosidade toma conta nas aulas quando os estudantes do 3º ano e 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Bento Gonçalves vão estudar sobre o biodigestor. As perguntas são frequentes, mas, logo, todos entendem a ‘mágica’ de restos de comida virarem gás de cozinha. A escola está entre as nove de Venâncio Aires que já tiveram os biodigestores instalados.
“Quando os alunos voltaram para a escola e viram o biodigestor foi uma surpresa”, comenta a diretora da Escola Bento Gonçalves, Lúcia Elaine Dutra da Silva. Ela explica que, por escola ter cerca de 70 alunos, solicitou o menor equipamento, que tem capacidade de receber até quatro quilos de resíduos por dia. Mas, até o momento, já gerou muito gás, que é usado para preparar as refeições dos alunos. “Esses dias, logo que voltamos a ter aulas, ficamos sem gás, porque não sabíamos como estava o botijão. Ligamos o fogão do biodigestor e foi isso que nos salvou até vir o outro. É muito útil”, conta.
A professora das turmas que estão trabalhando com o equipamento, Samara Fuentes dos Santos, destaca a importância de usar os biodigestores para ensinar as crianças e incluir em outras disciplinas. “Além deles aprenderem sobre o processo do equipamento, a reutilização, como ajuda o meio ambiente e outras questões, também aprendemos cálculos e unidades de medidas, através da quantidade que pode ir por dia no biodigestor, além de outras matérias”, exemplifica.
Aprendizado
Os pequenos que não conheciam o biodigestor adoraram a novidade ao voltar para a escola, depois de meses sem aulas presenciais. Alguns levaram para casa um pouco do esterco que o biodigestor produz. Eles contam que, em casa, os pais normalmente colocam os restos de comidas para os animais ou nas plantas, pois quase todos moram na área rural. Mesmo assim, levaram o esterco e contaram para os pais como funciona esse procedimento para evitar que os resíduos acabem no aterro sanitário. “Minha mãe achou muito legal, diferente”, afirma o aluno do 3º ano, Dieison Maciel da Silva, 8 anos.
O menino já sabe explicar para os outros colegas como o biodigestor transforma os resíduos em gás. “Levamos os restos de alimentos e colocamos no biodigestor. Depois que as bactérias entram em contato com os alimentos, transformam em gás que enche a manta. Depois isso vira nosso gás na cozinha. O resto vira adubo”, explica o estudante.
Já para Greice Rodrigues, 10 anos, do 5º ano, foi muito legal levar o adubo para casa e ver como as flores ficaram mais fortes e bonitas. “Mostrei para minha mãe, contei certinho como foi feito, ela achou muito legal. Colocamos tudo nas nossas flores e agora estão bem lindas.”
- O programa Biodigestores nas Escolas é realizado com investimento de cerca de R$ 280 mil do Ministério do Meio Ambiente.
Entenda como funciona o biodigestor
- O equipamento não precisa de energia elétrica. Tudo acontece por uma transformação anaeróbica (sem oxigênio), que gera o biogás, composto de metano.
- A transformação ocorre da seguinte forma: os alimentos são colocados na pia de alimentação, as bactérias fazem a transformação, o biofertilizante é expelido e o gás gerado passa por um filtro de carvão ativado e depois é armazenado no gasômetro com fogão de uma boca.
- A decomposição da matéria orgânica é um processo bioquímico realizado pelas milhares de bactérias.
- Para a produção de biogás é preciso entender sobre a bioquímica do processo, ou seja, a biodigestão anaeróbia. As bactérias são seres vivos e precisam de condições ideais de temperatura, acidez e homogeneidade, para produzir melhor.
- Considerando as variações de temperaturas, de acordo com as estações do ano, assim como os tipos de substratos utilizados, pode-se obter o máximo de biogás possível. No verão, os biodigestores tendem a produzir mais rápido o gás.
“Gera uma nova vida”, define a diretora da Emef Dom Pedro II
Das 23 escolas que receberão os biodigestores, nove já estão com eles instalados. Entre elas, a Emef Dom Pedro II, de Linha Hansel. Conforme a diretora, Sabrina Daniana da Rosa, o equipamento “gera uma nova vida” e ensina os alunos sobre o reaproveitamento. Os alunos ainda não começaram trabalhos sobre os biodigestores, mas as professoras já começaram a projetar como vão estudar ele com os alunos. Também planejam formar um grupo para mostra pedagógica sobre isso.
O gás produzido está sendo usado diariamente na cozinha da escola. “Usamos toda manhã o fogão abastecido com o biogás para esquentar água na chaleira. As panelas são grandes para a boca do fogão, então usamos mais para isso. É uma ajuda grande no gás e também para reaproveitar os resíduos”, argumenta Sabrina.
A professora acredita que o biodigestor pode ser um equipamento introduzido, no futuro, em residências e em condomínios. “Assim como as placas solares foram chegando e trazendo inovação sustentável, acho que esse equipamento também pode auxiliar muito as pessoas.”

Biodigestor na cozinha
A merendeira Liege Frey não conhecia o biodigestor, mas já tinha trabalhado com compoteiras. Ela considerou muito interessante o processo que acontece e como é rápido o gás chegar até o fogão. “Levou alguns dias até começar, mas agora temos gás todos os dias pela manhã. Coloco todos os dias, mais ou menos, cinco quilos de resíduos. O que sobra de esterco largo nas nossas hortas da escola”, complementa.
Escolas abrangidas
Escolas que já receberam os biodigestores
• Emeis: Bela Vista; Emei Pingo de Gente; Emei Aloysius Paulino Algayer.
• Emefs: Alfredo Scherer, Bento Gonçalves, Coronel Thomaz Pereira, Dom Pedro II, José Duarte de Macedo e São Judas Tadeu
Escolas que serão contempladas:
• Emeis: Arco Íris, Infância Feliz, Passinho Seguro, Vó Helma, Gente Miúda, Osmar Puthin, Yolita da Cruz Portella e Casva.
• Emefs: Dois Irmãos, Narciso Mariante de Campos, Cidade Nova, Benno Breunig, Otto Gustavo Daniel Brands, Alfredo Scherer, Professora Odila Rosa Scherer
• Os biodigestores ainda não instalados serão implementados ao longo do segundo semestre, de acordo com a fiscal ambiental Carin Gomes, pois é necessário realizar algumas obras nas escolas, como cercamento para manter o biodigestor isolado. No momento, o serviço de cercamento está em fase de licitação.
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