Quebrar barreiras com a arte. Este é um dos objetivos do projeto Grafite Colorindo a City, promovido pela Organização Não Governamental (ONG) Consciência e Atitude (Coat), que realizou 15 pinturas pelo município. O projeto é uma iniciativa da Coat em parceria com a Prefeitura de Venâncio Aires, com recursos de emenda impositiva do vereador Benildo Soares (Republicanos), no valor de R$ 16 mil.
Apesar de ter iniciado em julho de 2022, a ideia surgiu em 2006, quando a ONG começou a trabalhar com o grafite e alguns membros se interessaram e desenvolveram a arte no município. “No começo, era com caixas de papelão e tinta têmpera, para aprender. Com o tempo, fomos melhorando, realizando traços nas ruas e colocando nas paredes os trabalhos”, relembra o produtor cultural e coordenador da Coat, Djalma da Silva.


Em 2021, integrantes da Coat propuseram a ideia para o vereador Benildo Soares. Segundo Silva, o parlamentar sempre foi um apoiador do movimento e buscou oferecer ajuda. A partir de emenda impositiva, o projeto foi iniciado com o grafite na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Duarte de Macedo, no bairro Macedo. No total, foram 15 artes, além de quatro oficinas para falar sobre a cultura, nas escolas Macedo, Emef Dom Pedro II, Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) 11 de Maio e EEEF Zilda de Brito Pereira. Houve ainda uma apresentação de música e dança, com bate-papo, na EMEF Dois Irmãos, atividades realizadas na Semana do Hip Hop, em novembro.


Soares afirma que procura sempre ser um incentivador da arte e da cultura no município, e que o trabalho da Coat transformou diversos pontos da Capital Nacional do Chimarrão. “Transformaram diversas áreas da nossa cidade, que antes eram sem vida e alegria, em lugares muito mais lindos, alegres e divertidos, dessa forma trazendo muito mais beleza para nossas escolas, bairros e demais espaços da cidade, sempre levando junto com a arte uma mensagem positiva a todas as pessoas”, destaca.
Projeto
A primeira etapa foi pesquisar em outros municípios para entender os materiais que deveriam ser usados, exemplos de locais para desenhar, buscar referências e, também, convidar artistas. Com isso, surgiram parcerias, como com o Ateliê Vivências Urbanas (AVU), de Santa Cruz do Sul, e o Ateliê Gin Arts, de Lajeado. “Tivemos participantes de Santa Cruz, Lajeado e Pelotas, além dos representantes de Venâncio”, pontua Silva.


Conforme o coordenador artístico do projeto, Edison da Silva, o Sap Peralta, a vontade da equipe era espalhar as pinturas por todo o município, com ênfase em escolas. No início, houve alguns nãos, apesar de que, de acordo com Peralta, só o fato de poder apresentar o projeto já tornou possível a abertura de inúmeras portas. “Mesmo depois, quando entraram em contato, não negamos, pelo contrário, aceitamos e agradecemos, afinal mudamos o pensamento dessas pessoas, que entenderam a nossa arte”, frisa Silva.
Entre as mais significativas, o grafite do bairro Gressler é especial para a equipe da Coat. A ONG foi criada lá e o muro estava caído, cheio de lixo e, a partir disso, com as informações que tinha no local, foi limpo e escrito em formato de ‘bomba’, com a frase ‘Nós amamos o bairro Gressler. Vida longa’. “Para dar orgulho da localidade. A gurizada chega pra gente e elogia, tiram foto e tudo, mostrando o sentimento de pertencimento”, comemora.


Preconceito e próximos passos
1 Os organizadores dizem que barreiras foram superadas com o projeto. Tanto para Silva quanto Peralta, o Grafite Colorindo a City foi um ponto de virada para a cultura hip hop na Capital do Chimarrão, pois a arte ‘gritou’ nas paredes do município e apresentou a sua beleza.
2 Outro ponto importante é o de aceitação. Com a disponibilidade dos grafites, Silva diz que os jovens percebem a existência de outras culturas e que elas podem ser aceitas. Além disso, o coordenador enfatiza a diferença entre pichações e grafites e que, por alguns, os dois são vistos como vandalismo.
3 “O grafite é uma arte, serve para embelezar as ruas. Antigamente, uma lata na mão era sinônimo de vandalismo para alguns e, agora, mostramos que não é nada disso. Um preconceito estrutural que tentamos quebrar”, contribui Peralta.


4 Há poucos meses, um dos integrantes estava envolvido em pichações e queria participar da Coat. “Quando ele chegou, já falei para ele ‘não sou teu pai e se você quiser pichar a cidade inteira pode pichar, mas não vai colar aqui com a gente, vai precisar escolher teu caminho’. Chamamos quem gosta do picho, para desenvolver a arte do grafite”, relata Silva.
5 Agora, a Coat prepara as oficinas do ano, além do desenvolvimento de trabalhos particulares e a organização para apresentar um novo projeto. Segundo Silva, o momento atual é de muitos elogios, após o trabalho finalizado, mas a caminhada de 20 anos não foi fácil. “Se fala que as portas foram se abrindo ou que abrimos portas, mas na realidade arrombamos portas, no melhor sentido da palavra. Porque foi a única forma possível, hoje o pessoal reconheceu que é relevante”, analisa.
“Temos a ideia de que a educação é o centro de tudo. Por isso, sempre tentamos levar a nossa arte para as escolas. Percebemos que as crianças precisam de maior identificação e orgulho com as escolas. É uma sensação incrível ver os jovens tirando fotos em frente ao nome delas.”
DJALMA DA SILVA
Coordenador da ONG Coat
Artistas que participaram do projeto
• Edison da Silva, o Sap Peralta @sap_peralta: coordenador artístico, é de Venâncio Aires e desenvolvia boa parte dos projetos e desenhos, utilizando como base referências da escola e características dos locais
• Fábio da Rosa, o Guigão @guigao_dabru, de Venâncio Aires
• Digo Tibano @digocoracaourbano, de Santa Cruz do Sul
• Berma MC @bermamc, de Santa Cruz do Sul
• Mano Celo @marcelomachadotattoo, de Santa Cruz do Sul
• Amanda Rezer @amand4mani, de Pelotas
• Giovane Giovanella @gin_arts, de Lajeado
• Lucas Nunes @kairoln_, de Lajeado
• Welliton Dente @dnt051, de Venâncio Aires
• Eduardo Vedoy @dardofeestyle, de Venâncio Aires
• Petros Couto @petroscouto, de Venâncio Aires
Locais que receberam os grafites
• Escola 11 de maio, no bairro Coronel Brito
• Instituto Federal Sul Rio-grandense (IFSul) Venâncio Aires, no bairro Universitário
• Parque Municipal do Chimarrão, no Acesso Imperatriz Dona Leopoldina
• Associação de Moradores da Vila Freese
• Escola José Duarte de Macedo, no bairro Macedo
• Escola Dom Pedro II, em Linha Hansel
• Escola Zilda de Brito Pereira, no bairro Gressler
• Escola Dois Irmãos, no bairro Aviação
• Escola São Judas Tadeu, no bairro Grão-Pará
• Escola Monte das Tabocas, no bairro Centro
• Casa de Acolhimento, no bairro Coronel Brito
• Ponto do bairro Macedo
• Escola Odila Rosa Scherer, no bairro União
• Rua Armando Ruschel, no bairro Gressler
• Associação de Moradores do bairro Aviação
A importância da educação
O professor de Filosofia e História da Escola Monte das Tabocas, Wesley Hoffmann, foi um dos incentivadores do projeto na instituição. Segundo ele, após a reforma nos 100 anos do educandário, ainda ‘faltava algo’, e foi quando conheceu as ações da Coat. “Entrei em contato com o Djalma da Silva e logo ele topou a ideia. Levei a informação para a equipe diretiva e foi bem aceita. Tivemos reuniões, escolhemos o espaço para a arte e, assim que terminou a reforma exterior, marcamos o dia do grafite”, relembra.


Ele afirma que a ideia foi bem recebida pela comunidade escolar, professores, pais e estudantes. Para o professor, a arte deixa tudo mais bonito e, junto da cultura, precisa estar presente na vida dos alunos. “O grafite está presente nos bairros, e trazer para dentro da escola é importante”, argumenta Hoffmann.
Além disso, ele afirma que o objetivo é avançar além desse grafite, buscando desenvolver, com professores e alunos, grafites em outros locais da escola, para dar mais vida e alegria. “É bom ver os nossos estudantes, diariamente, elogiarem o trabalho”, diz. Djalma da Silva comenta que é preciso elogiar os professores, pois eles são o diferencial para o desenvolvimento do projeto. E, como a iniciativa aguça a curiosidade, principalmente nos jovens, os professores conseguem utilizar isso em sala de aula.

