O trabalho de recuperação de nascentes em Venâncio Aires, realizado pelo Município e coordenado pelo Comitê de Recuperação das Nascentes do Arroio Castelhano está ‘a todo vapor’. Segundo o coordenador do comitê, Rui Schwinn, que atua na Secretaria de Meio Ambiente, a 23ª nascente já foi finalizada, em Linha Brasil e no momento o trabalho ocorre em Vila Deodoro, para recuperar a 24ª, a última a usar os recursos destinados pelo Rotary Chimarrão e fornecidos pelo fundo social do Sicredi no ano passado.
Neste ano, a projeção é que se consiga recuperar 12 nascentes. O comitê já tem adquiridos materiais para trabalhar em mais seis nascentes, que ainda não tiveram as localidades definidas. A ordem dessas seis próximas será definida em reunião, levando em consideração as famílias que no momento precisam mais da água.
Para o chefe do escritório local da Emater/RS-Ascar – que também é parceira na recuperação das nascentes –, Vicente Fin, o trabalho é contínuo e gratificante de ser realizado. De acordo com ele, as inscrições para o projeto ainda estão abertas e famílias interessadas podem se inscrever na Emater para receber a visita de integrantes do comitê. “Temos 98 nascentes em espera para receber este trabalho.”
O critério para seleção, segundo Fin, é a ordem de inscrição, somente em casos excepcionais, quando uma grande quantidade de famílias depende da água ou em situações de famílias carentes, é dada a preferência para atendimento.
Três anos de revitalização
A família de Osvino Schweikart, 72 anos, e Amália Lúcia Metz, 67 anos, recebeu o programa em 2019, para revitalizar uma nascente que fica na propriedade localizada em Linha Arroio Grande. Na quinta-feira, 17, Schwinn e Fin foram até o local para realizar um processo de limpeza na nascente, chamado de cloração, que deve ser feito a cada seis meses. “Como é uma água potável, de tempos em tempos precisamos fazer essa manutenção para tirar os fungos”, explica Schwinn.
Ele enfatiza que normalmente as próprias famílias podem fazer este processo, porém, no caso do casal de aposentados, por serem idosos e com dificuldade de locomoção, a equipe vai até a propriedade prestar o serviço.
Schweikart incentiva que mais famílias participem do projeto. “É para o bem da gente, depois que mexeram na nascente melhorou bastante.” Além das necessidades dentro de casa, a família também usa a água na criação de gado, suínos e aves. Atualmente, cinco famílias consomem água da vertente. Fin, afirma que o trabalho sempre é feito de forma manual, e a equipe atua até chegar na vertente principal da água. “É importante que sempre sobre em torno de 25% do volume da nascente para o arroio Castelhano”, explica Fin.
“Quem não acredita pode vir nos visitar e ver a nascente. Durante a seca, a água se manteve vindo normalmente. Se precisasse, daria para abastecer mais umas cinco famílias, tranquilamente.”
OSVINO SCHWEIKART
Morador de Linha Arroio Grande que participou do projeto de recuperação de nascentes
A equipe da Emater e da Secretaria do Meio Ambiente também auxiliou Schweikart a fazer o plantio de árvores corretas no entorno da nascente, para assegurar uma mata ciliar nativa. “Em um raio de 100 metros deve se evitar o plantio de eucaliptos, pois as raízes agressivas têm a ação de ‘sugar’ a força e são capazes de fazer a nascente se deslocar”, explica Schwinn. Fin evidencia que é importante fazer a recuperação da área no entorno da nascente, inclusive, Schweikart possui uma bergamoteira que é usada de exemplo para divulgar o projeto e ‘convencer’ a sociedade, já que evoluiu muito e está mais bonita após a atuação na nascente da localidade.
- 36,2 mil é a quantidade de litros de água por dia, que vertem da nascente em Linha Arroio Grande – já considerada também um afluente –, conforme medição feita na quinta-feira, 17. A vazão por dia já é 7,4 mil litros maior do que a medição feita em janeiro de 2019, quando foi feita a intervenção na nascente. Na época, eram 28,8 mil litros diários.
Entenda
• A intervenção na nascente varia conforme cada local, mas sempre busca ‘limpar’ o entorno da fonte, deixando que a água aflore naturalmente. Além disso, é construída uma câmara e a nascente é isolada, para evitar a contaminação com folhas, dejetos e outros materiais.
• Depois de filtrada, a água segue encanada para as residências, com um reservatório. Enquanto isso, parte dela segue o ‘caminho’ normal do córrego até desembocar no arroio.
• Uma das preocupações do projeto é sempre cercar a área. Isso é necessário pois, se houver animais em volta, eles podem pisotear a terra e fechar a nascente, além de defecar no local. Com essa proteção, se evita a contaminação da água e se possibilita o aumento do volume.
Há mais de 30 anos
Em Linha Marechal Floriano, uma vertente foi recuperada há mais de 30 anos. Na localidade de Alceu Bohn, 59 anos, e Dario Sulzbacher, 68 anos, a equipe da Emater, na época liderada pela extensionista Maria Emília Colombo, começou este trabalho e fez um sistema de proteção. Hoje, a intervenção feita no local já é considerada um método antigo. A projeção de Fin e Schwinn é voltar a mexer no local para chegar até a vertente principal, provavelmente em uma sanga localizada ao lado.
As duas famílias, proprietárias do terreno onde a nascente está localizada, afirmam que devem usar cerca de 10% de toda água que verte dela, juntamente com mais 15 famílias que usam a água para consumo próprio. “Aqui tem muito volume de água e nunca deu problema. Usamos na criação dos animais e no plantio de fumo”, comenta Sulzbacher.
“O trabalho deste projeto não pode parar”, afirma prefeito
A frase acima foi dita pelo prefeito Jarbas da Rosa sobre as atividades do Comitê de Recuperação das Nascentes do Arroio Castelhano. Ele comenta que, em 2021, devido à pandemia, foi preciso uma parada, mas quando a retomada aconteceu, o programa não teve mais interrupções, e isso é importante, segundo ele.
A Prefeitura disponibiliza três profissionais para atuar no projeto, sendo dois pedreiros para a mão de obra e um servidor da Secretaria de Meio Ambiente. Jarbas comenta que, caso necessário, cederá recursos do fundo municipal para a manutenção do projeto, que no momento é financiado com recursos do Fundo Social do Sicredi e emendas impositivas da Câmara de Vereadores.
Jarbas enfatiza a importância do projeto em duas perspectivas. A primeira é a garantia de água na bacia do arroio Castelhano. “É o nosso futuro, com afluentes protegidos, o volume aumenta.” E em segundo, o fornecimento de água de qualidade para a população. “São feitos estudos, seguidas as normas da Vigilância Sanitária e a água usada tanto a cidade quanto na região serrana é revitalizada.”
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