Em Linha Maria Madalena, no interior de Venâncio Aires, o cuidado e a atenção aos detalhes de Jair Nietsche, 70 anos, com o cultivo de milho chamam a atenção. O resultado é uma safra com números relevantes e uma semente de boa qualidade. O agricultor fez uma colheita de 1,7 mil sacas de milho – cada uma com 60 quilos, do plantio ‘do cedo’, iniciado em agosto – nos nove hectares de lavoura e com um custo menor quando comparado à safra passada.
Ele relata que nesta e na última safra passou por dois extremos. No ano passado, teve uma colheita de apenas 700 sacas, e em alguns pontos chegou a 20 sacas por hectare. O resultado negativo tem relação com o temporal registrado no dia 16 de janeiro. “Onde o temporal pegou em cheio, deu zero de produção. Mas não desisti, tanto que este ano foi o contrário, uma safra de muita produtividade”, afirma Nietsche, que lida com o milho desde a infância e em 1977 começou o cultivo na propriedade em que reside com a esposa Mileria Nietsche, 67 anos.
Ele explica que, para um bom resultado final, fica atento a diversos fatores, como a sanidade da planta, para que menos defensivos agrícolas sejam necessários; a resistência contra tombamentos; o uso da semente transgênica; e por fim, verifica a estimativa de produtividade daquela semente. Na propriedade, ele tem espaços em que realiza testes de plantio com diferentes tipos de milho para a certeza de uma boa colheita. “São muitos detalhes para observar e ter a vantagem comercial. O modo de plantio interfere diretamente no produto final”, esclarece. Este ano, segundo ele, o plantio foi uniforme, com uma germinação igual em todas as plantas.
Para controle de insetos como as lagartas, o agricultor realiza o plantio de milho orgânico, para uma espécie de refúgio para os parasitas. Inclusive, mesmo este tipo bateu recorde de colheita nesta safra: foram 221 sacas.


Tranquilidade na colheita do milho
Um dos equipamentos que garante tranquilidade no momento da colheita é o silo secador de grãos instalado por Nietsche, em 2017, em um espaço adaptado, onde antigamente tinha um chiqueiro em que criava suínos. Em anos anteriores, também cultivava tabaco e tinha produção de leite, mas hoje permanece somente no milho. O silo armazena 1.500 sacas do grão.
O agricultor, que se formou como técnico agrícola pela Escola Agrícola Visconde, de São Leopoldo, em 1976, atenta para as novas tecnologias e manejos que surgem para o campo. Anualmente, participa de feiras como Expointer e Expoagro, com a intenção de se atualizar e, quem sabe, aplicar novas experiências na sua propriedade.
Após o armazenamento dos grãos no silo, Nietsche comercializa para agropecuárias, cooperativas e outros produtores, aos poucos, analisando os preços do mercado. “Toda semana sai milho do silo, depende da oscilação de preço”, observa. No momento, ainda precisa colher o resto do milho ‘tarde’. O próximo passo, depois da colheita total, é a aplicação do dessecante, que elimina as ervas daninhas e o milho ‘guaxo’ – plantas que nascem sem ser semeadas. Após, é feita a palhada no solo e a adubação verde, geralmente com nabo.
Produtividade histórica do milho
O chefe local da Emater-Ascar/RS, Vicente Fin, afirma que na safra 2024/2025 foram plantados um total de mais de 9 mil hectares de milho. Foram 3.550 hectares plantados do chamado milho ‘do cedo’, cultivados entre julho e setembro e com colheita completa. Nesta safra, uma produtividade histórica foi registrada, em torno de 9,5 toneladas por hectare, e alguns produtores chegaram até a 12 toneladas por hectare. A porcentagem das lavouras que chegaram nesta produção é de 39,45%. e a quebra foi contabilizada em 9,5%.
Fin explica que entre os fatores que influenciaram a produtividade do milho ‘do cedo’ estão a alta tecnologia dos produtores, sementes de boa qualidade e, principalmente, chuva e água, que estiveram disponíveis quando houve necessidade. “Outro fator a ser considerado é o bom manejo do solo, com palhada e a alta densidade de plantio do milho, assim se aumenta de 35% a 40% a produção”, comenta.
Além disso, foram 855 hectares cultivados entre o fim do mês de outubro até dezembro, um milho intermediário, que teve impacto significativo de perda em função da estiagem, e ainda deve ser colhido de forma total nos próximos dias. A média de quebra nesta fase se deu em 50%. Além da estiagem, a alta temperatura também prejudicou quem plantou nesta fase, o que causou o chamado estresse hídrico na planta. A perda ainda pode variar de 10% a 75% conforme a região. Fin completa que o estresse hídrico foi maior nas regiões de Vila Palanque, Estância Nova, Cerro dos Bois e Campo Grande.
Outros 4,8 mil hectares foram plantados na segunda quinzena de dezembro até o mês de janeiro, é o chamado milho safrinha. Este tipo ainda está em desenvolvimento vegetativo, com florescimento em algumas áreas. São esperadas colheitas de até 6,5 toneladas, isso considerando condições adequadas daqui para frente, sem vendavais, granizos ou estiagens, o que deve gerar pouco mais de 7 toneladas por hectare.
Silo secador
Fin evidencia a facilidade com que produtores que possuem silo secador de alvenaria ou lata contam, são mais de 550 produtores com este recuso em Venâncio Aires. A grande maioria, segundo ele, armazena os grãos e comercializa na entressafra, em um preço superior. Produtores com grandes volumes também estocam a produtividade em cooperativas, associações ou em silos maiores. Ele lembra ainda que o valor de 2% cobrado para armazenamento externo geralmente induz a venda aos produtores. Venâncio Aires está entre os cinco municípios com maior área plantada de milho do estado.
- 525 – é o número de famílias produtoras de milho em Venâncio Aires. O número aumenta para cerca de 800, quando são contabilizadas as famílias que plantam para subsistência.
Milho silagem
- Neste tipo, segundo o chefe da Emater, foram 4,5 mil hectares cultivados, com 38 a 40 toneladas por hectares na produção cheia. Na fase intermediária houve uma média de 50% de perda. Foram 2 mil hectares no tipo ‘cedo’, 500 no intermediário e mais 2 mil hectares no safrinha, em que são esperadas de 32 a 35 toneladas por hectare. “A média ficou próxima do esperado, em função do milho do cedo ter tido um bom resultado, na média entre todas as fases fica em 36,5 toneladas por hectare”, afirma. Cerca de 2,5 mil hectares já foram colhidos e outros 2 mil estão em desenvolvimento.