Dezembro Vermelho: um mês para prevenir as ISTs

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Além do fim de ano, com as festividades de Natal e Ano Novo, o mês de dezembro reserva uma atenção especial para a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). No último mês do ano é trabalhada, de forma mais intensa, a conscientização para o diagnóstico precoce das infecções, principalmente o vírus HIV.

Em Venâncio Aires, o local especializado para estes atendimentos é o Centro de Atendimento de Doenças Infecciosas (Cadi), inaugurado em 2007 e localizado junto à Unidade Básica de Saúde (UBS) Central. No local são oferecidos testes para HIV, sífilis e hepatites B e C, além de uma série de profissionais e especialistas para acompanhamento dos positivados.

Segundo a coordenadora do Cadi, Solange Sehn, mesmo com o Serviço de Atendimento Especializado (SAE), hoje as equipes expandem os atendimentos também para a atenção básica. Ela complementa que é importante esta atividade, pois mesmo que o Cadi ofereça recursos, ações de prevenção, primeiras consultas e primeiros exames, a intenção é sempre direcionar a realização do tratamento para a unidade de saúde de origem, ou seja, aquela mais próxima da casa do paciente. “Tentamos manter um acesso o mais facilitado possível para tratar estas infecções.”

A coordenadora destaca que, apesar da maior conscientização e divulgação dos métodos para tratar o vírus HIV, o preconceito da sociedade e o medo dos positivados ainda continua. “Infelizmente, isso ainda é um tabu e não mudou, mesmo que hoje, com o tratamento adequado e diagnóstico precoce, o positivado possa ter uma vida normal.”

Solange explica que, atualmente, a maioria dos casos são designados como HIV, já que HIV é o vírus e pode ser também detectado de forma avançada. Se torna aids quando a infecção não é tratada, ou seja, aids é a doença do vírus HIV. “Nosso objetivo é que não se tenha mais a aids. O indicado é ter um tratamento desde o início para o vírus não desenvolver.”

  • HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+.

O que é oferecido no Cadi?

1 Consultas especializadas com ginecologista, infectologista, pediatra, gastroenterologista e pneumologista, além de atendimentos com psicóloga, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O Cadi também tem parceria com a Vigilância Epidemiológica e uma equipe para higienização.

2 No local, os pacientes pegam medicamentos, fazem consultas de acompanhamento pelo menos duas vezes ao ano com os especialistas e realizam exames semestrais.

3 O horário de funcionamento do Cadi é de segunda a sexta, das 7h30min às 12h e das 13h às 16h30min.

Notificações

Solange enfatiza que, nos dois últimos anos, o número de positivados para HIV diminuiu. No entanto, essa baixa ainda pode ser reflexo da pandemia, quando as pessoas deixaram de sair de casa e, consequentemente, de procurar por atendimentos. “Tememos ter surpresas ruins no próximo ano, com a vinda de casos atrasados.”

Desde 2007, quando o Cadi foi inaugurado, foram no total 470 casos notificados e em tratamento contra o HIV e HIV avançado. Destes, 47 casos estão com o vírus inativo (pessoa vivendo com HIV e com carga viral indetectável) e 31 pacientes vieram a óbito. Solange reforça que praticamente todas as pessoas já passaram por situações de risco, nas quais possam ter tido contato com o HIV ou outras infecções sexualmente transmissíveis, e que nunca fizeram exame preventivo.

Quem teve qualquer tipo de exposição, como relação sexual sem camisinha ou até uma violência sexual, deve fazer os testes. “Quando uma traição conjugal é descoberta, para não ficar com a ‘pulguinha’ atrás da orelha, o indicado é sempre fazer testes de ISTs, já que muitas pessoas não apresentam sintomas.”

Aos pacientes que temem procurar ajuda por vergonha ou de que mais pessoas possam saber da condição, a equipe do Cadi garante anonimato e confiança durante todo o tratamento. “O importante é não ter medo de vir no Cadi. Queremos que todos se mantenham bem e, quando o resultado for positivo, o tratamento é todo direcionado e sem exposição”, afirma.

  • Entre 400 a 450 – É o número mensal de testes para HIV, sífilis, e hepatites B e C feitos no Cadi e em toda rede de atenção básica de saúde. Todos são feitos gratuitamente. No último sábado, 10, em ação especial contra as ISTs, foram feitos cerca de 30 testes.
  • 16 – É o número de casos de HIV e aids confirmados neste ano. Duas pessoas morreram. Em 2021, foram 24 casos.
Cadi está localizado junto à UBS Central, do lado da Farmácia Municipal.

Uma vida normal com o HIV

Uma das pacientes em tratamento no Cadi, uma mulher de 40 anos – que solicitou ter sua identidade preservada -, tem hoje uma vida normal com a sua família, mesmo positivada com o vírus HIV. Ela conta que descobriu estar infectada em 2000, mas faz os tratamentos com coquetel de remédios desde 2002. “No início sofri muito preconceito e fiquei muito mal, as pessoas me apontavam”, lamenta.

A descoberta do vírus aconteceu de forma traumática. Grávida de três meses, conheceu um rapaz com o qual se envolveu e, durante a gestação, o homem, já portador do vírus, foi o responsável pela transmissão do HIV.

Como a mulher não sabia que o parceiro portava o vírus, só descobriu quando a filha nasceu e adoeceu. “Descobri o vírus na minha vida quando levei minha filha, na época com 1 ano e 7 meses, para a UTI, em Porto Alegre”, revela. Na capital, a equipe médica descobriu que a criança estava com HIV e, no mesmo instante, a mãe também fez o teste e foi positivada. A criança acabou falecendo em decorrência do vírus. “Nesse momento, meu mundo caiu. Fiquei desolada e muito mal”, conta.

Sobre o tratamento, ela comenta que no começo foi tudo tranquilo, mas em 2016 parou com os remédios e teve uma toxoplasmose cerebral. Voltou com o coquetel e melhorou, mas ano passado, em julho, se repetiu o processo e ficou internada quase um mês no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), novamente com toxoplasmose cerebral, que desta vez a deixou com sequelas na fala e nos movimentos das mãos.

Hoje, com 40 anos, é mãe de dois filhos, uma menina de 19 anos e um menino de 12 anos. É casada há 17 anos e o marido, que está negativado para o vírus HIV, faz testes frequentes. Além disso, o casal toma os devidos cuidados. “Aconselho as pessoas a não terem medo de fazer os testes, pois quando a descoberta é tardia, o problema é muito maior.”

“Hoje estou bem, pois faço meu tratamento certinho e não tem erro. É preciso encarar a vida e os riscos, mas acima de tudo, se prevenir sempre, principalmente fazendo uso de preservativos nas relações sexuais.”
MULHER DE 40 ANOS
Paciente do Cadi e em tratamento contra o HIV



Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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