“A enchente de 2024 foi cruel. A água invadiu nossa casa, perdemos muitos móveis e eletrodomésticos. Quando começa a chover, ficamos com medo de enfrentar outra enchente de novo”. O relato é do morador do bairro União, João Pedro Pinheiro dos Santos, 72 anos. A residência da família Santos foi uma das muitas afetadas pela enchente histórica registrada no fim de abril e no início de maio do ano passado. Agora, apesar de tudo estar limpo e a vida ter seguido em frente, o episódio deixou marcas visuais e memórias de um dia que parecia não ter fim.
Há 15 anos, João Pedro e a esposa Terezinha residem na rua Getúlio Vargas, em frente ao ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professora Odila Rosa Scherer e ao campo de futebol Onze Unidos.

Para Santos, o ambiente um dia após a água baixar era comparável a um cenário de guerra. “Quando saímos de casa, a água estava no peito. Fomos nos segurando na cerca, pois a correnteza era forte. O medo que fica é de passar por isso de novo, pois não pretendemos sair daqui. Embora tenha o problema com a enchente e muitos vizinhos tenham deixando as casas do bairro, eu gosto do lugar de onde moro e vou continuar morando aqui”, comenta.
Ele lembra que, no ano de 2014, houve uma enchente que chegou até a rampa de sua casa, mas não chegou a invadir a residência. A cheia de 2024 foi a primeira que adentrou a residência. “Não devemos ficar procurando culpados. Naquele episódio, o acúmulo de água foi muito grande em pouco tempo, e, por isso, tudo alagou. O desassoreamento do arroio Castelhano e das sangas na parte baixa começou a ser realizado pela Prefeitura nesta semana, e isso pode ajudar a desafogar um pouco”, comenta o morador das proximidades da sanga do Cambará.
“Quando começa a chover, ficamos com medo de enfrentar outra enchente de novo. Mas eu gosto do lugar de onde moro e vou continuar morando aqui.”
JOÃO PEDRO PINHEIRO DOS SANTOS
Aposentado
Desafios enfrentados pelos empresários da parte baixa
No bairro Morsch está localizada a empresa D’Quality Móveis Sob Medida, que completa, neste ano, seis anos. Antes de se estabelecer na rua Adolfo Scheibler Sobrinho, no Loteamento Artus, o empreendimento esteve por dois anos, em um endereço próximo, na rua atrás do atual prédio, na avenida João Artus. Conforme o proprietário Elias Fagundes Corrêa, a empresa conta com quatro funcionários que atendem a diversas demandas na área de móveis sob medida, como a confecção de cozinhas, dormitórios e banheiros. “Nós fabricamos os móveis, transportamos e realizamos a montagem na casa do cliente”, comenta.
Para Corrêa, o bairro é bem localizado, próximo a supermercados, farmácia e posto de combustível. No entanto, após a enchente que ocorreu no fim de abril e em maio do ano passado, o pavilhão da empresa foi duramente atingido, danificando 100% o estoque de chapas de MDF, além de móveis já montados e prontos para entrega. Já a parte que não foi afetada, pertencia o estoque de ferragem, como parafusos, colas, corrediças e dobradiças, que fica armazenado na parte mais alta. “Gosto do bairro, ele é bem localizado e tem uma vizinhança muito boa. Porém, se eu perceber que não são feitas melhorias efetivas para evitar outra enchente, não descarto a possibilidade de mudar o pavilhão da empresa para outro bairro em Venâncio”, afirma.

Ele relata que, quando a chuva começou, ele e os funcionários estavam preparados para um alagamento semelhante aos anteriores, que costumava atingir apenas a rua e o pátio da empresa. “Em setembro de 2023, vivenciamos uma enchente e nos preparamos para algo parecido. Levantamos os materiais a 80 centímetros do chão, mas não foi o suficiente, pois a água subiu muito rápido. Algumas ferramentas conseguimos salvar, colocando na parte mais alta do prédio. Agora estamos aflitos e cheios de dúvidas. Precisamos que algo seja feito para evitar novas ocorrências como essa. Uma das alternativas seria a construção de pontes secas na RSC-453, o que ajudaria a desafogar o fluxo de água aqui na parte baixa de Venâncio”, sugere.
“Precisamos que algo seja feito para evitar novas ocorrências como a enchente do ano passado. Uma das alternativas seria a construção de pontes secas na RSC-453, o que ajudaria a desafogar o fluxo de água aqui na parte baixa de Venâncio.”
ELIAS FAGUNDES CORRÊA
Empresário