Olhe ao seu redor, pense nos seus familiares e amigos e conte quantas pessoas do seu convívio usam óculos. Com certeza, várias dela, não é mesmo?! Trocadilho à parte, o uso de óculos tem crescido a ‘olhos vistos’, nos últimos anos, inclusive, entre adolescentes. Mas, afinal, o que está acontecendo?
A explicação é simples: o olho descansa enquanto está olhando para longe e trabalha quando está olhando de perto. Não é preciso pensar muito para se dar conta de que passamos muitas horas do dia olhando de perto. Enquanto rolamos o feed das redes sociais, estudamos ou conversamos no WhatsApp, nossos olhos estão trabalhando – e muito.
“Com o uso frequente do celular e do computador, um olho que a vida toda foi feito para olhar para longe, hoje é forjado a aproximar o foco. Todos estão muitas horas do dia dentro de escritórios, seja no trabalho, no quarto ou na sala de casa”, explica o oftalmologista Ricardo Schwendler. “O mundo inteiro está miopizando”, define o médico, referindo-se ao problema da miopia – dificuldade de enxergar longe.
Segundo ele, embora o erro de visão mais comum seja a hipermetropia – dificuldade de enxergar de perto –, a miopia é o problema que mais exige o uso de óculos. Entre os motivos que levam à miopia, além da sobrecarga pelo tempo excessivo em que olhamos de perto, somam-se os efeitos da luz azul das telas e a diminuição do número de piscadas por minuto. Outro fator que tem sido observado, segundo Schwendler, está relacionado à exposição ao sol. O sol enrijece as fibras do olho e ele não cresce tanto. Logo, não miopiza tanto. “Quando as crianças brincam na rua, o sol ajuda a enrijecer o colágeno do olho. Mas, atualmente, nem sempre isso tem acontecido.”
O oftalmologista comenta que a relação com as telas ainda é algo muito novo para que seja possível entender as reais consequências. O que não gera dúvidas, no entanto, é que os problemas de visão têm sido mais frequentes e é preciso ficar atento a sinais, como dor de cabeça e ardência nos olhos.
- É hora de procurar um oftalmo…
Se você tem sintomas como dor de cabeça, ardência nos olhos, se precisa se afastar ou aproximar de algo para enxergar melhor.
Dicas para a qualidade de visão
- Mantenha uma distância aproximada de 60 cm dos olhos até a tela do computador.
- Mantenha a altura da tela do computador ligeiramente abaixo da linha dos olhos.
- Realize intervalos periódicos durante o uso prolongado do computador. A cada 20 minutos na frente da tela, faça um intervalo de 20 segundos ‘relaxando’ a visão, focando os olhos para longe.
- Pisque regularmente.
- Crianças de até 2 anos não devem ter acesso a celular ou tablet.
- Dos 2 anos aos 5 anos, é recomendado um tempo máximo de uma hora por dia. A partir dos 5 anos, o limite são duas horas por dia, sendo que estes períodos devem ser fracionados. Para os adultos, não há um limite de tempo máximo estabelecido, mas algumas orientações devem ser seguidas.
As consultas ao oftalmologista devem acontecer ao nascer, entre os 2 e 3 anos e na idade pré-escolar (antes de ser alfabetizado). Além disso, ao identificar algum sintoma, é preciso buscar atendimento. Quem tem algum problema de visão deve consultar anualmente.
Orientações dos médicos oftalmologistas Micheline Paula Mariana Mattiello e Ricardo Schwendler.
Um acessório, um aliado
Desde a infância, Carolina Konzen, 16 anos, tem os óculos como aliados. Antes mesmo de saber ler e escrever, ela precisou usar óculos. Na época, Carol sentia muita dor de cabeça e os pais a levaram no oftalmologista, então começou a relação dela com os óculos de grau. “Eu não lembro muito, mas sei que era um óculos rosa, com florzinha, bem bonitinho. E que eu usava bem tranquila”, recorda.
Depois de alguns anos de uso, ela pôde deixar eles de lado. Porém, aos 14 anos, a menina que tem miopia, teve que voltar a usar. Ela sentia novamente dores de cabeça e dificuldade ao ler. “É um grau fraquinho, uso mais para estudar, olhar televisão e para descanso.”
Para a guria, usar óculos é tranquilo, não incomoda e fica legal. “Eu gostei, pois acho muito bonito usar óculos. Eu prefiro a minha aparência com óculos, por isso nunca usei lente”, explica Carol, que também comenta que, na escola vários colegas usam e na família mais pessoas também precisam do óculos, por isso é bem ‘normal’.
Carol costuma escolher as armações de óculos pelo conforto, por isso, normalmente, pega algum pequeno, mais arredondado. “Até tento mudar, mas quando vou comprar sempre vou pelo que fica bonito, mas confortável ao mesmo tempo.”
“É estiloso usar óculos”
O estudante Lucas Turcatto, 16 anos, descobriu que precisava usar óculos quando tinha 9 anos e sentia muitas dores de cabeça, frequentemente. Na consulta, descobriu que tinha miopia e predisposição à ceratocone. “Eu gostei e ainda gosto de usar óculos, é estiloso”, considera.
Para Lucas, ir escolher a primeira armação foi um momento marcante. “Escolhi uma legal, que tinha gostado muito na época”, diz. Na escola também foi tranquilo, logo se adaptou e não lembra de ser alvo de piadas. “Não sei se sofri algum tipo de bullying, mas já vi outros sofrendo.”
Na pandemia, o adolescente teve que aprender a usar a máscara e o óculos simultaneamente, que no início foi difícil. “Demorou um pouco, mas vi que se prender bem a máscara em cima do nariz, com o próprio óculos, não embaça”, indica.
“Adoro usar óculos, acho que fica legal com todo tipo de estilo. Logo, fica bom com o meu também.”
LUCAS TURCATTO
Estudante
Sem celular na hora de dormir
A oftalmologista Micheline Paula Mariana Mattiello explica que há evidências de que a luz azul emitida pelas telas dos celulares ou tablets tem efeito redutor sobre um hormônio chamado melatonina, que interfere na indução do sono. “Portanto, o uso de eletrônicos à noite, principalmente próximo à hora de dormir, pode causar insônia e alterar a qualidade do sono”, alerta.
Ler no ônibus ou no carro faz mal?
Não existe nenhum problema em ler no carro ou no ônibus, desde que seguindo os cuidados com a distância dos olhos, boa iluminação e tempo de leitura. “Não traz nenhum prejuízo aos olhos ou à visão, mas algumas pessoas não se sentem bem com estas práticas, podendo apresentar tontura e dor de cabeça e mais cansaço”, esclarece Micheline.
Leitura no papel x digital
Há diferença entre ler um livro e ler no celular. Segundo a oftalmologista Micheline Mattiello, ao ler ou assistir vídeos no celular, há um maior estímulo visual pela intensidade de cores, contrastes e do brilho presentes nas telas, o que não ocorre na leitura de livros. “A leitura no celular pode aumentar o esforço visual e, consequentemente, gerar ‘cansaço’ visual”, comenta.