Inclusão do imunizante foi aprovada pela Conitec. Vírus sincicial respiratório é uma das principais causas de infecções em bebês.
O Ministério da Saúde anunciou que vai incorporar ao Sistema Único de Saúde (SUS) duas tecnologias para prevenir complicações causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais causas de infecções respiratórias graves em bebês, incluindo quadros de bronquiolite.
Trata-se do anticorpo monoclonal nirsevimabe, indicado para proteger bebês prematuros e crianças de até 2 anos de idade nascidas com comorbidades, e da vacina recombinante contra os vírus sinciciais respiratórios A e B, aplicada em gestantes para proteger o bebê ao longo dos primeiros meses de vida. Até então, a principal opção disponível para a prevenção do VSR no SUS é o palivizumabe, destinado a bebês prematuros extremos, com até 28 semanas de gestação, e crianças com até 2 anos que apresentassem doença pulmonar crônica ou cardiopatia congênita grave.
De acordo com a União, a medida faz parte de estratégia para reduzir a mortalidade infantil associada ao vírus. Dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde indicam que o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% dos quadros de pneumonia em crianças menores de 2 anos. Atualmente, a vacina está disponível na rede privada, por isso, o anúncio da futura disponibilidade pelo SUS foi motivo de comemoração para médicos e famílias.
Mudança de cenário
A pediatra Manuela Graef da Rosa, que atende no Centro Materno Infantil (Cemai) de Venâncio Aires desde 2017, celebrou a informação. “A chegada da vacina no SUS para as gestantes e bebês nos deixa esperançosos, especialmente pelo inverno. Há muitos anos, infelizmente, acompanhamos notícias de UTIs pediátricas lotadas, sem leitos, o que é muito triste. Espero que essas vacinas, assim que estiverem disponíveis, mudem esse cenário.”
A profissional, que no Cemai acompanha os primeiros anos da criança (puericultura) e também atendimentos de consultas agendadas, explica que na pediatria ocorre o fenômeno da sazonalidade, o que faz com que a demanda aumente muito nas épocas críticas, especialmente no inverno. “É época dos vírus respiratórios e o vírus sincicial respiratório [VSR] é uma das principais causas de infecções das vias respiratórias e pulmões em recém-nascidos e crianças pequenas. A bronquiolite sempre nos preocupa, especialmente em bebês menores de seis meses, pelo risco de evoluir para um quadro grave com necessidade de internação e até tratamento intensivo, já que não tem tratamento específico. O tratamento é suporte ventilatório e hidratação.”
Ainda conforme a pediatra, apesar de ser mais frequente em crianças pequenas, a infecção pelo VSR também pode ser grave em idosos e adultos com comorbidades, com doenças pulmonar e cardíaca, por exemplo.
*Com informações Agência Brasil.
Internações
De acordo com a Vigilância Epidemiológica de Venâncio Aires, os dados reportados referentes aos vírus respiratórios são de pacientes que internam no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Todos os pacientes que chegam ao hospital com síndrome respiratória aguda têm material coletado, que é enviado ao Laboratório Central do Rio Grande do Sul (Lacen) para pesquisa de vírus respiratórios, entre eles o sincicial respiratório (VSR).
Conforme a Vigilância, foram seis casos de Venâncio e dois de fora do município em 2023. Já em 2024, houve 32 casos de venâncio-airenses (não necessariamente internados na UTI Pediátrica do HSSM) – maioria com menos de um ano – e 54 de outros municípios, os quais todos internaram na unidade intensiva.
Desde que UTI Pediátrica abriu, em setembro de 2023, a maioria dos casos é de crianças internadas devido a problemas respiratórios, como bronquiolite, asma e pneumonia. Segundo a médica intensivista pediátrica, Giani Cioccari, que também coordena a unidade no HSSM, o motivo principal de internação na UTI é a bronquiolite, que acomete mais os bebês.
“Quanto menor o bebê, mais grave é o potencial do curso da doença. Aquelas crianças com comorbidades também, cardiopatas ou que tenham sido prematuras. Então temos uma excelente expectativa com a redução no número de casos e redução da gravidade das crianças que forem vacinadas”, comentou Giani.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, entre 2018 e 2024, foram registradas 83.740 internações de bebês prematuros – com menos de 37 semanas de gestação – causadas por complicações relacionadas ao VSR, como bronquite, bronquiolite e pneumonia.

Prevenir uma futura internação
“Só quem passa por isso, sabe o quão angustiante é ver um filho internado e não poder fazer nada.” A afirmação é de Josiele Taíse Pfaffenzeller, 36 anos. A atendente de uma cooperativa de crédito em Venâncio Aires viveu longos dias de angústia com as filhas gêmeas em agosto do ano passado.
Quando ainda nem tinham completado dois meses de vida, Joana e Lara testaram positivo para o vírus sincicial respiratório (VSR). “A Joana teve primeiro, mas foram sintomas mais ‘tranquilos’, como uma gripe. Mas logo em seguida a Lara também começou, com muito esforço respiratório, febre e tosse. Assim que consultou, já internou. Mas não precisou da UTI”, relatou Josiele.
Segundo a mãe, foram 10 dias de internação com muito antibiótico, nebulização, oxigênio e fisioterapia respiratória. “Tive que me dividir entre ela e a Joana, que estava em casa. Mas tivemos anjos ao nosso lado, nossa pediatra e toda equipe do Hospital São Sebastião Mártir.”
Para Josiele, a futura disponibilidade da vacina pelo SUS é um grande avanço para a saúde pública e que pode prevenir futuras internações de bebês. “Acredito que se há prevenção podemos e devemos fazer. Indico para todas as gestantes que conheço, que façam a vacina, porque eu faria, com certeza. Com a saúde, não podemos brincar.”