Preservação das geleiras: por que precisamos falar disso?

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Com o tema Salvem os Glaciares, o Dia Mundial da Água deste ano, celebrado em 22 de março, evidencia a importância da preservação das geleiras. Afinal, qual o impacto delas no nosso dia a dia? Nossas atitudes têm relação com o derretimento das geleiras?
Em entrevista sobre o tema, a professora e especialista do Centro Socioambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Priscila Pacheco Mariani, explica sobre o quanto o estilo de vida tem um impacto direto nas emissões de gases de efeito estufa e, consequentemente, como o aquecimento global reflete no derretimento das geleiras e no desequilíbrio de outros sistemas naturais do planeta.

Engenheira ambiental, mestre em Ciência do Solo e doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, ela também esclarece o papel fundamental dos glaciares na regulação climática global e no fornecimento de água para milhões de pessoas. “O degelo acelerado afeta diretamente a disponibilidade hídrica, altera ecossistemas e contribui para a elevação do nível do mar, impactando populações em diversas partes do mundo”, alerta.

Folha do Mate: Por que precisamos preservar as geleiras?
Priscila Pacheco Mariani: As geleiras desempenham um papel fundamental na regulação climática global e no fornecimento de água para milhões de pessoas. Elas funcionam como grandes reservatórios naturais de água doce e são essenciais para a manutenção dos ciclos hidrológicos. O degelo acelerado afeta diretamente a disponibilidade hídrica, altera ecossistemas e contribui para a elevação do nível do mar, impactando populações em diversas partes do mundo.

Qual a relação do aquecimento global com o derretimento das geleiras? Por que isso está ocorrendo?

O aquecimento global, impulsionado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, aumenta a temperatura média do planeta, acelerando o derretimento das geleiras. O aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera impede que parte do calor da Terra seja dissipado para o espaço, causando o aquecimento excessivo da superfície terrestre e a perda de gelo nas regiões polares e em altas montanhas.

“Nosso estilo de vida tem um impacto direto nas emissões de gases de efeito estufa. O aquecimento global, impulsionado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, aumenta a temperatura média do planeta, acelerando o derretimento das geleiras.”

PRISCILA PACHECO MARIANI
Doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental

Há como frear ou evitar essa situação?

Sim, mas isso exige mudanças globais urgentes. A transição para uma matriz energética limpa, a redução do desmatamento, o incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e o consumo responsável são medidas fundamentais. Além disso, políticas públicas mais rigorosas para redução de emissões e investimentos em tecnologias de captura de carbono podem ajudar a frear o avanço do aquecimento global.

Na região dos Vales, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) conduz iniciativas inovadoras voltadas para a mitigação dos impactos ambientais e o aumento da resiliência climática. O Programa Muda, por exemplo, promove a recuperação de áreas degradadas, a estabilização de margens de rios e a implementação de práticas conservacionistas no setor agropecuário, favorecendo a retenção de carbono no solo e a redução da erosão. Já o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) incentiva produtores rurais a adotarem práticas sustentáveis em suas propriedades, valorizando a conservação da água, do solo e da biodiversidade. Essas iniciativas demonstram como soluções baseadas na natureza e incentivos adequados podem contribuir para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e a preservação dos recursos naturais.

Qual o impacto do derretimento das geleiras na nossa vida, considerando a distância geográfica delas com o Brasil?

Mesmo estando distantes, as geleiras influenciam o clima global. O derretimento contribui para o aumento do nível dos oceanos, o que representa uma ameaça direta para regiões costeiras, incluindo o Brasil. Além disso, altera padrões climáticos, intensificando eventos extremos como secas, tempestades e mudanças na disponibilidade de água doce. O litoral brasileiro pode sofrer com erosão costeira, avanço do mar e impactos na biodiversidade marinha.

No Rio Grande do Sul, já sentimos os efeitos dessas mudanças climáticas. Nos últimos anos, enfrentamos eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, como as inundações históricas que assolaram diversas cidades do estado, deixando milhares de desabrigados e causando danos socioeconômicos severos. Além disso, ondas de calor recordes vêm sendo registradas, comprometendo a produção agrícola e aumentando os riscos para a saúde da população. Esses eventos refletem o desequilíbrio climático global, agravado pelo derretimento das geleiras e outras alterações nos sistemas naturais do planeta.

Como nossas atitudes influenciam no aquecimento global?

Nosso estilo de vida tem um impacto direto nas emissões de gases de efeito estufa. O consumo excessivo de energia de fontes não renováveis, o desperdício de alimentos, o uso indiscriminado de combustíveis fósseis e o desmatamento são algumas das práticas mais prejudiciais. Além disso, escolhas diárias, como transporte, alimentação e consumo de bens, afetam diretamente a pegada de carbono individual e coletiva.

Que práticas devemos adotar no dia a dia para contribuir com a preservação do planeta?
Optar por meios de transporte mais sustentáveis, economizar água e energia, evitar o desperdício de alimentos, separar corretamente os resíduos para reciclagem e apoiar iniciativas de reflorestamento e conservação ambiental. Além disso, é fundamental cobrar e apoiar políticas públicas voltadas para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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