Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o número de emplacamentos de veículos elétricos em Venâncio Aires apresentou aumento pelo segundo ano consecutivo. Só em 2024, 21 carros dessa categoria foram emplacados na Capital do Chimarrão. Em comparação, no ano de 2023 foram 19 e, em 2022 – primeiro ano com dados da ABVE -, nove. Assim, no triênio, o município soma 49 veículos eletrificados (VE).
O fenômeno é reflexo de um movimento nacional. No Brasil, por exemplo, foram comercializados 177.358 VEs, aumento de 89% em relação ao ano anterior. Em 2012, por exemplo, o número de emplacamento no país era de 117. Em entrevista ao programa Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, na última quinta-feira, 9, o diretor de Segurança da ABVE, Clemente Gauer, explicou que o perfil dos proprietários de carros eletromotores mudou.

BYD Dolphin GS foi o primeiro carro comprado por Leonel Silveira. Hoje é utilizado mais nas tarefas da empresa (Foto: Juan Grings)
Se antes era um tipo de veículo voltado para as classes mais altas da sociedade, hoje já é possível encontrar modelos novos por cerca de R$ 100 mil, como o BYD Dolphin Mini e Renault Kwid E-Tech – este o mais barato do último ano. Esse processo de popularização, conforme Gauer, permitiu que motoristas por aplicativo, por exemplo, passassem a investir nos modelos, já que a manutenção é muito mais baixa que as opções tradicionais, à combustão.
Veículos elétricos podem ser carregados em casa
A principal comodidade dos veículos eletrificados é a possibilidade de ‘abastecê-los’ em casa. “A tecnologia evoluiu muito, mas o que a gente nota como destaque é a experiência. Quem tem onde carregar em casa acorda todos os dias com a bateria recarregada”, contou o representante da entidade. Segundo ele, a despesa operacional de um motor elétrico corresponde a aproximadamente 20% do custo de um veículo equivalente com motor à combustão.

Este é o caso do empresário Leonel Lopes da Silveira, de 39 anos, proprietário de dois carros elétricos em Venâncio Aires. Ele conta que, como tem placas solares na sua residência, optou por instalar um wallbox – carregador de parede para motores deste tipo. Segundo Silveira, costuma levar cerca de quatro horas para completar uma carga total. O equipamento tem 7,6 kW de potência e custa entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil.
Já um carregador normal, mais simples, que costuma vir em muitos modelos de carros elétricos, pode levar cerca de 12 horas para a carga completa. No entanto, o custo, mesmo para quem não possui placas solares, ainda é significativamente mais baixo do que os de carros tradicionais.
Tomando como exemplo um veículo com bateria, com capacidade para 50 kWh, que demandaria praticamente metade de um dia em uma tomada, o custo com energia elétrica ficaria na casa R$ 37,44 – sem considerar tarifas adicionais – na área de abrangência da RGE, cujo valor do kWh é de R$ 0,72. Modelos de carro com essa bateria projetam autonomia de cerca de 220 quilômetros, em média, pouco menos que o suficiente para ir e voltar de Porto Alegre (260 quilômetros).
Carregar na estrada

O primeiro carro elétrico de Silveira foi adquirido em abril do ano passado: um BYD Dolphins GS, que hoje é mais utilizado para os trabalhos com a sua empresa, que atua com soluções em segurança eletrônica. Depois, há cerca de um mês, foi a vez de investir em um modelo esportivo, o BYD Seal. Este segundo, atualmente utilizado pela família também durante viagens, proporciona autonomia de cerca de 420 quilômetros.
Para ter uma viagem tranquila, o motorista explica que é preciso estar atento aos eletropostos e ao quanto de bateria ainda está disponível: “Temos que nos organizar, ver as rotas e analisar onde podemos recarregar”, reforça. Nesse sentido, o aplicativo PlugShare acaba sendo o melhor amigo dos proprietários de carros elétricos, pois mostra onde há eletropostos, o tipo de carregador e a potência. Atualmente, esses pontos já não são mais tão raros nas principais rodovias, o que facilita a logística dos viajantes.
Em Venâncio Aires, por exemplo, há possibilidade de ‘abastecer’ no Posto Chama, na RSC-287, e na Help Solar, que fica na rua Osvaldo Aranha, no bairro Cidade Alta. O wallbox presente nos dois empreendimentos é semelhante ao de Silveira. Ou seja, para uma carga significativa, é necessário deixar o veículo parado por algumas horas. Porém, há eletropostos com maior capacidade. O mais próximo, de 50 kW, também fica na RSC-287, mas em Santa Cruz do Sul, no restaurante Lisaruth, e leva cerca de 30 minutos para a carga completa.
Economia dos veículos elétricos
“O carro elétrico é quase como um eletrodoméstico, como uma geladeira. Você tem que colocar na tomada, passar um pano e manter limpo. E quem tem tomada vai a Roma”, brincou Clemente Gauer, durante o programa. Outro aspecto muito atraente nos eletromotores é a facilidade na manutenção. Segundo contou, quando se precisa de algum ajuste, normalmente é na suspensão ou nos pneus.
A facilidade tornou o carro elétrico um parceiro para as atividades urbanas. Conforme o diretor de Segurança da ABVE, essa é uma constatação da entidade. Uma particularidade desses modelos é que são mais econômicos na cidade do que em viagens, isso porque ‘fazem menos força’ nos trechos urbanos, onde a velocidade é consideravelmente mais baixa.
A economia se estende também aos tributos. Como os carros 100% elétricos não emitem poluente na atmosfera, existe uma série de incentivos fiscais, como isenção total do pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) no Rio Grande do Sul.
Os 49 veículos elétricos emplacados em Venâncio
- Toyota: 21
- Caoa Chery: 14
- BMW: 3
- BYD: 3
- GWM: 2
- Volvo: 2
- Audi: 1
- Honda: 1
- JAC: 1
- Mercedes Benz: 1
Modelos mais vendidos
- Pro H (Caoa Chery): 5
- XRX Hybrid (Toyota): 5
- A Premium H (Toyota): 4
- Corolla A Premium H (Toyota): 4
- Tiggo 8 PHEV (Caoa Chery): 4
Tipos de eletrificados
- Os veículos eletrificados disponíveis no Brasil são divididos em cinco categorias: 100% elétricos (BEV), híbridos plug-in (PHEV), híbridos puros (HEV), híbridos a gasolina/álcool (HEV Flex) e micro-híbridos e mild hybrid (MHEV).
- De acordo com a ABVE, há uma polêmica quanto aos micro-híbridos, porque alguns destes – especialmente os mais recentes – não possuem recursos considerados básicOs para a classificação de veículo elétrico.
- Dessa forma, a partir deste ano, a associação não considerará os carros com bateria de 12 volts e sem tração elétrica na classificação.
- Ainda conforme a ABVE, o tipo mais comum em Venâncio Aires são híbridos a gasolina ou álcool: 23 veículos (46% da frota). Depois aparecem híbridos plug-in (8), 100% elétricos (7), híbridos puros (6) e micro-híbridos (5).
Os eletropostos da Capital do Chimarrão
O primeiro local aberto ao público para recarga de veículos elétricos em Venâncio Aires foi o Posto Chama, na RSC-287. Adriano Reginatto, proprietário do estabelecimento, explica que o investimento foi feito em 2022. “Eu tinha placas solares, então surgiu a oportunidade. Era um mercado que estava crescendo e seríamos um dos pioneiros na região”, lembra. Atualmente, o posto cobra R$ 1,90 pelo kW utilizado. A ferramenta carrega em 7,5 kW, levando cerca de quatro horas para uma carga completa.
O mesmo equipamento está presente na Help Solar, mas com a diferença de que neste estabelecimento não há cobrança pela carga. Instalado há dois meses, o serviço é uma aposta da empresa. “A gente trabalha nessa área e atende o estado todo. Então, veio a ideia de colocar aqui. Ainda não é algo tão atraente assim, mas vai ser. E quem precisar tem aqui”, explica o proprietário, Robson Nunes.
Arrependimento
Reginatto não esconde seu arrependimento em ter feito o investimento. “Eu percebi que muitas pessoas que compram carros elétricos depois acabam desistindo”, afirma. Além disso, ele menciona os casos em que esses veículos pegam fogo, muitas vezes enquanto estão sendo carregados – o que representa um risco para um posto de combustíveis, como o Chama.
No ano passado, o Corpo de Bombeiros Miliar de São Paulo se manifestou a favor de um regramento para segurança de eletropostos. De acordo com a guarnição, incêndios em veículos elétricos são de difícil controle. Assim, foram recomendadas adaptações, como distanciamento mínimo de cinco metros em diferentes pontos de recarga, separação com uma parede corta-fogo ou instalação de chuveiros elétricos automáticos sobre as estações.