Dados da erva-mate são Comex Stat, sistema oficial para extração das estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens.
Quando o assunto é exportação, a fama venâncio-airense se sustenta, na sua grande maioria, no volume de tabaco que vai para fora do país. O carro-chefe da economia local representou 94% do total de exportações do município em 2024, de acordo com dados do Comex Stat, sistema oficial para extração das estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens. Mas a cidade que carrega o título de Capital Nacional do Chimarrão não foge às origens, portanto, a erva-mate também tem protagonismo. Ainda que na totalidade das exportações venâncio-airenses ela represente apenas 0,73%, o volume vendido pela indústria local e o valor que atingiu no ano passado fizeram o município se destacar no pódio dos maiores exportadores brasileiros do produto.
No ano passado, Venâncio Aires foi o segundo município gaúcho que mais exportou erva-mate em volume e o terceiro em valores no ranking brasileiro. Conforme o Comex Stat, foram vendidas 4,6 mil toneladas, totalizando US$ 8,08 milhões. No estado, ficou atrás apenas de Encantado, que também é o líder nacional (veja abaixo).
Elacy
A quantidade que saiu de Venâncio Aires corresponde às vendas da Elacy, ervateira que começou as atividades em 1957. Segundo o diretor da empresa, Gilberto Heck, hoje 65% do volume produzido já é exportado e há uma negociação em curso que talvez resulte em novo crescimento das vendas externas. Os principais destinos são Argentina, Uruguai, Chile e Síria – mercado que começou a ser explorado em 2023. Para isso, a Elacy mantém parceria com uma empresa argentina. “Hoje, para fazer exportação, tem que comprar um estoque grande, porque tem que deixar de 12 a 15 meses maturando. Quando começamos na Síria, a parceria com a Argentina era importar parte e adicionar outra parte da Elacy, por uma questão de ‘blend’, de gosto, e não tínhamos estoque para manter a quantia mensal. Hoje estamos com 70% de erva brasileira e 30% argentina”, explica Heck.
Surpresa
Gilberto Heck, que também é vice-presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate), disse que a posição de Venâncio Aires no ranking lhe surpreendeu. “Me surpreendeu porque tem outros municípios que há muitos anos já trabalham com exportação, têm uma clientela cativa, e acabamos chegando em terceiro lugar pelo volume que exportamos em 2024. Vamos ver se chegamos no segundo lugar em 2025.”

Municípios brasileiros que mais exportaram erva-mate em valores em 2024
- 1º Encantado (RS): US$ 51,8 milhões
- 2º Canoinhas (SC): US$ 8,13 milhões
- 3º Venâncio Aires (RS): US$ 8,08 milhões
- 4º Barão de Cotegipe (RS): US$ 7,89 milhões
- 5º Arvorezinha (RS): US$ 5,16 milhões
Mercado interno
Embora tenha se destacado na exportação, o diretor da Elacy comenta que também foi possível aumentar o mercado interno e ele é a prioridade. “Sempre disse que a ‘menina dos olhos’ da Elacy é o mercado interno e continua sendo. No mercado externo, temos mercados de ocasião e temos um cliente muito expressivo, mas é um só. No mercado interno, se uma pessoa deixar de tomar, outra começa. Então, a prioridade é o mercado interno”, reforça Gilberto Heck.
O consumo de erva-mate no Uruguai
De acordo com dados do Comex Stat, o Uruguai importou do Brasil 32.667.697 quilos de erva-mate em 2024. É disparado o maior comprador. “No Uruguai não se planta erva, porque ela não se adapta, então quase 100% da erva eles importam do Brasil. O povo uruguaio é conservador, não aceita muito bem o padrão de erva argentina, nem paraguaia, que são os dois outros produtores, além do Brasil”, observa o vice-presidente do Sindimate, Gilberto Heck.
Além disso, conforme Heck, o Uruguai tem o maior consumo per capita. “O Rio Grande do Sul tem 11 milhões de habitantes, mas o Uruguai, que tem 3,4 milhões de habitantes, consome mais erva que todo nosso estado.” Ainda segundo o empresário, há cerca de 20 anos, 95% das exportações brasileiras de erva iam para o Uruguai. “Hoje, acredito que se exporta ainda mais para lá, mas o Uruguai só representa 60% das exportações.”
Gilberto Heck explica que cerca de 70% da erva consumida no país vizinho é fornecida pela ervateira Baldo, que tem a matriz no município gaúcho de Encantado. A Baldo produz o rótulo da Canarias, bastante tradicional entre os uruguaios. Foi essa demanda que ajudou Encantado a se tornar a cidade brasileira que mais exportou em 2024, com US$ 51,8 milhões em vendas. A erva-mate corresponde a 65% do total de exportações do município do Vale do Taquari.

Outros compradores, para além do chimarrão
Além de Uruguai, Argentina e Síria, que importam muita erva para beber chimarrão, existe uma gama de países que está comprando, não necessariamente para essa finalidade. “Estados Unidos produz energético e a Alemanha faz refrigerante, cerveja e energético. É uma folha rica que está sendo usada como matéria-prima para diversos produtos. A Alemanha, por exemplo, é uma das maiores vendedoras de café do mundo, enquanto Vietnã e Brasil são os maiores produtores. Ela não planta, mas compra, agrega valor e vende. E a erva está indo nesse ritmo”, comenta Gilberto Heck.
A erva brasileira foi para 58 países em 2024 e, entre os que mais importaram, estavam Uruguai (US$ 66,7 milhões), Argentina (US$ 13,8 milhões), Síria (US$ 6,1 milhões), Alemanha (US$ 3,8 milhões) e Espanha (US$ 3,4 milhões).
Erva-mate maturada
Segundo Gilberto Heck, atualmente, só no Brasil se consome erva-mate verde e jovem. “Quanto mais breve, melhor para o consumidor brasileiro. Mas todos os países que importam, precisa de uma maturação de no mínimo um ano. É um padrão imposto pelo cliente. Hoje seria um padrão tipo argentino: erva maturada, com granulometria maior, pouco pó e pouco palito.”
O solo paranaense
Embora a indústria seja venâncio-airense, a maior parte da matéria-prima não foi colhida no município ou mesmo em outro lugar no Rio Grande do Sul. No caso da Elacy, 95% da erva-mate é cultivada no Paraná. “Infelizmente a produtividade e a quantia de produtores disponíveis na nossa região são insuficientes para a indústria. No Paraná evoluiu muito na região do Vale do Iguaçu, onde temos filial em Cruz Machado, e também no Rio Grande do Sul, no Alto Vale do Taquari. Mas eu sou um otimista com essa cultura e acredito que esses números positivos da exportação podem refletir na produção local.”
Segundo Gilberto Heck, Cruz Machado está a uma altitude onde a erva se adapta bem, com solo apropriado, muitas araucárias e onde há reservas de Mata Atlântica do país. “Se concilia a cultura da erva com a preservação da mata. A maior parte fica em área sombreada e adensada no meio de floresta. Essa erva tem período longo entre uma colheita e outra e vai levar mais de dois anos entre um corte e outro. Terá uma produtividade menor, mas será uma erva completa, saborosa, com todo complexo bem fortalecido”, avalia. Foi lá que a Elacy perdeu um depósito devido a um incêndio, em janeiro. Foram perdidas 1.370 toneladas de erva-mate que estava pronta para exportação. O local está sendo reestruturado para voltar a estocar.