15 anos convivendo com a sinceridade mais genuína

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Apesar de ser natural de Sapucaia do Sul, Claudemir Bittencourt, 48 anos, se tornou um venâncio-airense com o passar dos anos. Popularmente conhecido por Toco Bittencourt, se mudou para a Capital do Chimarrão em 1988 e iniciou a trajetória nos transportes como caminhoneiro a partir de 1994. Contudo, a experiência que mais alegra seu dia teve seu estopim em 2003 – o transporte escolar.

A experiência nos caminhões o ajudou no começo. Porém, o maior incentivo estava no prazer de trabalhar com pessoas e passar mais tempo com a família – ele é casado com Cármen Borba e pai de cinco filhos. Segundo Toco, a ideia de investir em transporte coletivo escolar foi pioneira em Venâncio, sendo que este era bem limitado no ramo particular. “Comprei a primeira Topic e fomos perguntando, de pai em pai, quem precisava de transporte”, relembra o motorista, que, atualmente, vive apenas de sua empresa de transporte, que conta com sete veículos.

O primeiro obstáculo foi um processo sofrido com acusação de que atuava de forma ‘clandestina’. “Não fazia sentido, pois eu tinha contrato com os pais, apenas levava de um local para o outro. Ganhamos na Justiça, não estava cometendo nenhum crime”, pontua.

A experiência com a Apae

Nos primeiros anos de atuação, já surgiu a oportunidade de transportar alunos da Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) em Venâncio Aires. No entanto, entre 2003 e 2007, eram estudantes isolados, de forma particular. A partir de 2007 iniciou-se o transporte dos alunos contratado pela Prefeitura, que durou até 2019 e retornou agora, após a pandemia.

De acordo com Toco, a primeira alegria é saber que são crianças verdadeiras, totalmente sinceras. “Quando fiz uma cirurgia, em 2017, e fiquei nove dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), as crianças passaram a semana toda mandando cartinhas para mim”, lembra.

Toco afirma que é um ambiente muito familiar, sendo assim, a experiência é única. “Tem pessoas que transportamos por uns 8 ou 10 anos. E todas as crianças me cumprimentam, sempre me param para dar ‘oi’. Até quem não é mais passageiro, nunca esquece.”

O motorista realiza ações de tempos em tempos. Ele relembra de um dia, recentemente, no qual comprou 12 brigadeiros para comemorar o aniversário de uma das alunas, que é cadeirante. “Cantamos parabéns e todos ficaram emocionados”, conta.

Segundo ele, a melhor sensação é quando um pai vem agradecer pelo carinho com o filho dele, ou, então, quando uma criança vem abraçar o ‘tio Toco’. “É uma sensação inexplicável.”

Histórias do transporte escolar

Com o passar dos anos, uma das principais conquistas de Toco Bittencourt foi a implementação de um monitor para auxiliá-lo. Segundo ele, estava ficando perigoso cuidar de 28 crianças sozinho, ainda mais em um ambiente fechado. “Eles são hiperativos, é difícil deixá-los parados. Por isso, pedi um monitor e conquistamos após diversas reuniões. Não importava o dinheiro, precisávamos de ajuda. Hoje, é obrigatório na Prefeitura e também mantemos, mesmo no particular.”

Um dos momentos mais marcantes para Toco foi quando estava dirigindo, em um dia comum, com todas as crianças com cinto de segurança. Porém, uma menina, Vitória, levantou para mostrar um recado da escola e passou uma viatura policial no exato momento. “Lá na frente, ele me parou, pedindo habilitação e documentos do veículo. ‘Por que você deixa as crianças transitarem dentro do veículo?’, ele falou. Explicamos a situação e, quando a menina contou, o policial acabou entendendo.”

Outro caso inesquecível para ele foi de um menino que pedia para o transporte chegar exatamente 12h10min. O pai contava que, um minuto antes, ele não levantava do computador e, um minuto depois, já começava a bater à porta perguntando sobre a Topic. “Expliquei que me esforço. Mas tem complicações, tem crianças que vomitam, ou não aceitam descer, tem umas que não acatam as ordens”, cita, ao se referir aos imprevistos no caminho.

Eventos

Motorista e esposa de Toco, Cármen Borba observa que, entre as crianças atendidas pela Apae, se convive com algumas famílias carentes. “Então, quando pudemos, sempre doamos algo. Um dia chegou o Toco sem tênis por que doou para um menino”, relembra.

O motorista destaca que, a cada 15 dias, paga um refrigerante para os alunos e até leva picolés. “Também doamos cestas básicas, estamos sempre tentando ajudar”, comenta. Em datas festivas, toda a equipe se fantasia para alegrar os alunos durante o transporte. “Fizemos isso em datas como o Dia das Bruxas, Páscoa e São João. As crianças adoram”, diz Cármen.

Em 2017, Toco participou de uma Semana Farroupilha na Apae, sendo convidado como patrono. “Fiz carreteiro, pilchava eles e jogávamos carta, foi bem gratificante”, recorda. De acordo com ele, é necessário ter calma, paciência, respeito com os alunos. “Eles são felizes, mesmo com as dificuldades, isso mostra que não podemos reclamar da vida”, considera.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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