O calendário marca que a estação ainda é o outono; na sexta-feira, 21, às 12h54min, começa o inverno mas, quem caminha pelas ruas se sente em plena primavera. Na época em que as folhas secas deveriam estar se acumulando nas calçadas, são as flores que chamam atenção em pleno mês de junho.
Relatos dão conta de que muitas flores que florescem apenas nos meses de agosto e setembro, já estão com os botões se abrindo. Segundo o engenheiro agrônomo do escritório municipal da Emater, Vicente Fin, isto é consequência do calor, pois a temperatura está como se tivesse ocorrido um veranico. Já aquelas espécies que são menos dependentes de horas de frio, ou seja, de 40 a 50 horas, estão começando a ´achar` que estão na primavera. “Na verdade, estamos vivendo o veranico que era para ter ocorrido no mês de maio, pois no início daquele mês ocorreu bastante chuva e fez frio, mas claro que não chegou a ocorrer a geada, quando as temperaturas foram bem inferiores às de agora”, salienta. Fin observa que têm espécies que são desta época do ano e que florescem normalmente, e algumas variedades, como as orquídeas e a primavera, são de florescimento em setembro.
TEMPERATURA
As previsões dos principais centros de meteorologia do país marcam para amanhã, chuva com a consequente queda da temperatura, onde as mínimas da quinta-feira, 20, e da sexta-feira, 21, serão de 8ºC – mas ainda não suficientes para provocar geada.
Para Fin, se fizer frio e elevar novamente as temperaturas, é péssimo, pois desencadearia o florescimento de todas as frutíferas. Por enquanto, observa o agrônomo, esta situação ainda não chega a ser trágica pois se esfriar logo, não vai ter problemas. “O agravante é quanto tempo vai durar ainda este calor”, frisa. Embora atrasado, para Fin, o calor traz benefícios para algumas flores desta época e para as abelhas que ficaram muito tempo sem sair das colmeias, que é o que estão fazendo e produzindo mel. “Isto é muito bom em todos os sentidos.”
AGRICULTURA
No tangente à agricultura, segundo Fin, o que está preocupando é a resteva de soja safrinha, pois como ocorreu bastante umidade, teve perda de colheita alta e ocasionou a germinação de muitos grãos e com isso, o problema é que não vai criar o vazio sanitário se não esfriar. Isto vai ser uma reprodução de doenças a longo prazo e quando ocorrer a próxima safra, o produtor vai precisar usar um herbicida para matar estas doenças.
O trigo, por exemplo, está na hora do plantio, mas aquele que já foi plantado, em vez de perfilhar, vai se alongar se continuar assim, pois a cultura precisa de muitas horas de frio para ocorrer o perfilhamento.
O milho que ainda está por ser colhido, mesmo transgênico, começa e germinar na espiga e vai ficar na lavoura e com isso, vai virar hospedeiro de pragas e doenças. Além disso, têm pássaros que fazem seus ninhos e procriam no inverno e, como elevou a temperatura, eles ainda não construíram os seus ninhos. “Isto é consequência da desregulação do tempo”, alerta.
A maioria das árvores, mesmo estando quente e umidade alta, está abortando mais folhas do que na época do frio. Dentro da genética destas plantas, que são nativas, elas respondem menos a esta mudança, porque elas têm uma genética acumulada de milhares de anos, o que é diferente das exóticas e frutíferas, por exemplo, que estão começando a florescer sem obedecer os períodos corretos.
PROBLEMAS
Se não baixar sensivelmente as temperaturas e não ocorrerem geadas, o agrônomo salienta que na fruticultura vai acarretar em sérios problemas, pois se terá frutas de tudo que é tipo e tamanho e com maturações desuniformes na época normal. “Vão começar a florescer agora e seguir por um bom período”, frisa.
No caso de algumas variedades de hortaliças, como brócolis e couve-flor, por exemplo, ninguém está conseguindo controlar as doenças como a pinta-preta e bacterioses, porque o normal era não ter a velocidade de reprodução, mas o clima está favorável e os produtores têm perdido áreas destas culturas em função destas doenças. Com o forte calor, as hortaliças que são próprias do inverno, sofrem uma alteração que quando passa a fase juvenil, tanto podem produzir uma cabeça , bem como a haste para florescer e produzir sementes. “É como se ocorressem dois ciclos num só”, resume.
“Se não fizer frio agora, as consequências desta desregulação do tempo serão drásticas.”
VICENE FIN
Engenheiro agrônomo da Emater