Moradora do interior de Venâncio Aires é apaixonada pelo violino, o qual aprendeu a tocar há menos de um ano.
É dentro de uma casa em Linha Ponte Queimada, no interior de Venâncio Aires, que um pedacinho cor-de-rosa vibra não apenas pela tonalidade das paredes, mas pela musicalidade que emana dele. Esse pedacinho é o quarto de uma menina de 11 anos, talentosa para a música e que toca um instrumento não tão popular entre crianças. A menina é Milena Aparecida da Costa da Silva, que adora tocar violino, o menor e o mais agudo instrumento de corda numa orquestra convencional.
Milena começou a ter aulas de violino há menos de um ano, depois que a mãe, Deise dos Santos, 32 anos, perguntou se ela se interessaria em aprender um instrumento. Como a própria Deise toca violão e se arrisca na guitarra, Mi, como é carinhosamente chamada, cresceu nesse ambiente musical. “Nós gostamos de música e ela também. Toda vez que eu pegava o violão, ela ficava do meu lado, ‘batendo’ nele e cantarolando o ‘Atirei o pau no gato’ e outras musiquinhas”, conta a agricultora, entre risos.
Assim, em março de 2024, Milena passou a ter aulas semanais com Marcelo Fagundes (professor da Escola Violão Mágico). “A Mi aprendeu a tocar com partitura, mas memorizou as notas, por isso tem muita música que sai ‘de ouvido’. Não sei como consegue, mas o professor mesmo diz que pela idade e pelo pouco tempo de aula, ela já é um destaque”, relata a mãe, orgulhosa.

Um violino entre as pelúcias, os patins e os livros
Milena tem aquela timidez normal da idade, que faz as crianças olharem para os pais antes de responderem algo para outra pessoa. Mas logo a ‘vergonha’ passa e aí sorri fácil, o que evidencia os furinhos nas bochechas e estreita os olhos. “No meu quarto”, responde, ao ser perguntada sobre onde toca o violino.
O quarto de Milena é pintado de rosa (cor escolhida por ela). Sobre a cama (com lençol e coberta igualmente rosas), tem cachorro, gato, coruja, cavalinho, polvo, macaco e outros animais de pelúcia, um dos brinquedos favoritos, ao lado das bonecas. Um quarto típico de menina, onde também ficam os patins e livros da coleção ‘As aventuras de Mike’. “Eu adoro brincar de boneca, andar de patins, ler e tocar violino”, detalha, mostrando todos os itens.
Também no quarto fica o pedestal, onde prende as folhas das partituras para ensaiar. Quando não está ensaiando, o material fica guardado numa pastinha da personagem Ladybug. O material escolar já está pronto, à espera no início das aulas. Milena vai para o 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Adelina Isabela Konzen, de Vila Estância Nova.

De ‘Brilha, brilha, estrelinha’ à ‘9ª Sinfonia de Beethoven’
- A primeira música que Milena aprendeu a tocar foi a canção de ninar ‘Brilha, brilha, estrelinha’. Mas, atualmente, domina um repertório bem eclético.
- A menina toca, por exemplo, ‘Ave Maria’, ‘The Sound of Silence’, clássico mundial dos anos 1960 da dupla Simon & Garfunkel e a já bicentenária ‘9ª Sinfonia de Beethoven’, considerada uma obra-prima e que revolucionou a música clássica mundial.
- Entre as canções que ainda quer aprender, ela cita ‘Carol of the bells’, de Lindsey Stirling, violinista norte-americana mundialmente reconhecida.


Uma família cultural
O interesse de Milena pela música não surpreende ao se conhecer os pais dela, Elisandro da Costa da Silva, 36 anos, e Deise Marques dos Santos, 32. O casal, que cultiva tabaco em Linha Ponte Queimada, é entusiasta das tradições gaúchas e vive a cultura dentro de casa.
Deise, como mencionado no início, toca violão. Elisandro, em tom de brincadeira, diz que não toca nada, mas dá apoio e é o motorista. Como casal, eles têm um gosto em comum: integram o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Lenço Branco, de Linha Cerro dos Bois, onde são professores de danças gaúchas de salão. Também participam de apresentações artísticas na região.

Além do violino, o amor pelo interior
Milena, que aprendeu a tocar violino há menos de um ano, já se apresentou em vários lugares. Na Semana Farroupilha de 2024, mostrou seu talento durante um evento para crianças no CTG Lenço Branco, do qual também participa. No dia 20 de setembro, feriado farroupilha, desfilou tocando violino em plena rua Osvaldo Aranha, no Centro de Venâncio Aires.
Também já aceitou convites para tocar em evento do CTG Chaleira Preta, de Linha Bem Feita, na escola Adelina, onde estuda, e na própria 1ª Comunhão, em novembro passado. Outro local onde já é conhecida, é na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, em Vila Estância Nova, tocando nas missas. Na última terça-feira, 11, dia em que os católicos celebram Nossa Senhora de Lourdes, ela novamente participou. Para abril, o pai revela que a filha tocará na abertura do rodeio do CTG Lenço Branco.
A agricultura e o violino

Com tantas apresentações, apesar da pouca idade e tempo de aprendizado, Milena afirma que quer continuar tocando violino quando crescer. “Eu queria ficar em casa, ajudando o pai e a mãe na agricultura, mas também quero continuar tocando violino. É isso que quero fazer”, disse, decidida. Assim como a música, a menina não esconde o carinho pelo interior e conta com orgulho sobre Caramelo, o cavalo que ganhou de presente do pai e que chama de ‘meu amigão’, e Futrica, uma vaca já velhinha, mas que Milena, quando pequena, tirou muito leite, ordenhando com as próprias mãos. “Eu enchia uma canequinha e tomava direto”, revela.
Sobre algum desejo em relação à música ou um tipo específico de violino, Milena diz que gosta do seu ‘4/4’, o tamanho clássico do instrumento, mas só faz uma ressalva, com aquele sorriso de covinha na bochecha: “Queria um cor-de-rosa”, confidencia, baixinho.

Aparecida
Milena ganhou o segundo nome de Aparecida porque os pais são devotos da padroeira do Brasil. Ambos tiveram problemas graves de saúde quando eram bebês, por isso, quando engravidou, Deise prometeu que, se a filha nascesse saudável, faria essa homenagem.
A fé da família também está materializada numa grutinha construída na frente de casa. Dentro dela, estão as imagens de Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora de Lourdes, que dá nome à paróquia de Vila Estância Nova, comunidade da qual eles fazem parte.