Frases como “apaga a luz”, “desliga a televisão”, “tira o micro-ondas da tomada”, serão mais recorrentes em algumas casas depois do novo reajuste da energia elétrica. No fim do mês passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aumentou a bandeira vermelha 2, a mais alta do sistema, de R$ 6,24 para R$ 9,49, para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. Reajuste de 52% sobre o valor que já vinha sendo cobrado.
Na casa de Marlise Helena Reichert, 60 anos, os cuidados de evitar gastos já são comuns, mas devem ser ainda mais rigorosos agora. A moradora do bairro União afirma que só deixa ligado na tomada geladeira, freezer e televisão. Outros equipamentos ela liga somente quando vai usar. “Máquina de lavar eu ligo uma vez na semana. Às vezes, uso até na casa da minha filha, que tem placa de energia solar. Já para economizar”, observa.
A conta de luz da aposentada, que dá em média R$ 130 por mês, é classificada com bandeira vermelha 2, da taxa mais alta. Na última conta, aparece que 11 dias foram dessa classificação. “É muito alto o valor que pagamos e isso só aumenta. Se olhar a conta detalhadamente, metade do valor é em taxas, o consumo fica em cerca de R$ 50. É uma tristeza”, considera.
O AUMENTO DA ENERGIA
A Aneel prevê que esse reajuste siga em vigor até, pelo menos, novembro. A decisão ocorre devido ao baixo índice de chuvas em boa parte do país e a consequente queda do nível dos reservatórios hídricos. No Brasil, 61% da energia depende de hidrelétricas. Com a falta de chuvas nas principais bacias hidrográficas, o governo é obrigado a acionar usinas termelétricas para dar conta da demanda. Essa fonte de energia, no entanto, custa mais e causa mais prejuízos ao meio ambiente. O sistema de bandeiras tarifárias busca compensar o aumento de custos com a produção de energia.
Saiba quais são os ‘vilões’ que mais consomem energia
Já parou para pensar quais são os equipamentos que mais gastam energia elétrica? Conforme o professor de eletricidade, Jordan Trapp, o consumo de energia dos equipamentos elétricos de uma residência varia em função da sua capacidade ou potência. Os equipamentos que consomem mais energia elétrica são o chuveiro e a torneira elétrica, seguidos dos aquecedores elétricos e micro-ondas. Os aparelhos de ar condicionado apresentam um consumo médio de energia. “Entretanto, dependendo da época do ano, podem ficar ligados durante horas”, observa o professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) Venâncio Aires.
Ele esclarece que isso ocorre principalmente no verão e depende da temperatura interna que se deseja. Geladeiras e freezers também apresentam um consumo médio de energia e se enquadram nas características do ar condicionado, com maior consumo no verão. “Ainda podemos citar os equipamentos eletrônicos, tais como aparelhos de TVs e receptor de TV a cabo ou via satélite, computador, modem e roteador e o sistema de iluminação da residência. São equipamentos eletrônicos que apresentam um consumo baixo, mas podem representar uma boa fatia no consumo mensal da residência, assim como as lâmpadas, se estiverem presentes em grande quantidade e forem usados durante muito tempo”, exemplifica.
Atitudes para amenizar o consumo
- Reduza o tempo do banho e tente usar uma temperatura mais baixa.
- Use o mínimo necessário de aquecedor elétrico.
- Use a torneira elétrica na temperatura mais baixa e quando for estritamente necessário.
- Retire equipamentos eletrônicos, como roteadores, modens, computadores, impressoras e outros, da tomada, quando fora de uso.
- Reduza o número de vezes que abre a porta da geladeira e ou freezer durante o dia e, também o tempo que a porta fica aberta.
Audiência pública deve debater cenário hidrológico
Por sugestão do diretor Sandoval de Araújo Feitosa Neto, a Aneel ainda vai discutir a realização de uma audiência pública para, nas palavras de Neto, “trazer à luz o cenário que estamos vivenciando”. Segundo ele, simulações técnicas demonstram que o país está em meio a um cenário hidrológico excepcional que exige um tratamento extraordinário das bandeiras tarifárias para evitar prejuízos ao sistema. “Há grande probabilidade de termos, no segundo semestre, cenários mais críticos do que o histórico até aqui conhecido”, declara Neto, ao admitir que, para zerar o risco de déficit projetado, seria necessário elevar ainda mais o valor do patamar 2 da bandeira vermelha.
Neto explica que esse aumento foi necessário, para que não haja déficit. “Se nada for feito e a bandeira permanecer com os resultados da metodologia, teríamos, de julho a dezembro, um déficit de aproximadamente de R$ 5 bilhões.”
De acordo com o diretor-geral da agência, André Pepitone, em abril, o déficit chegava a R$ 1,5 bilhões. “Em boa parte do ano de 2020, houve um superávit de R$ 1,5 bilhões. Isto se degradou a partir de setembro/outubro, quando este superávit virou déficit”, comenta, prevendo que o déficit tende a aumentar a partir deste mês.
Como funcionam as bandeiras?
• As bandeiras são indicadoras do valor da energia de quanto está custando para o Sistema Interligado Nacional (SIN) a gerar. Quando a conta de luz é calculada pela bandeira verde, significa que não sofre nenhum acréscimo.
• A bandeira amarela significa que as condições de geração de energia não estão favoráveis, e a conta sofre acréscimo de R$ 1,874 por 100 kilowatt-hora (kWh) consumido.
• A bandeira vermelha mostra que está mais caro gerar energia naquele período e é dividida em dois patamares. No primeiro, o valor adicional cobrado passa a ser proporcional ao consumo, na razão de R$ 3,971 por 100 kWh; o patamar 2 aplica a razão de R$ 9,492 por 100 kWh.
*Com informações da Agência Brasil