Após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no mês de maio – inclusive os vales do Rio Pardo e Taquari -, o Governo Federal anunciou, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), linhas de crédito de R$ 15 bilhões direcionadas às empresas que sofreram perdas, danos e consequências econômicas e sociais em decorrência dos eventos climáticos extremos. No entanto, algumas empresas dos Vales revelam problemas para acessar valores, principalmente em virtude de erros na mancha de inundação. Entre os motivos estão falhas no sistema de georreferenciamento e o critério de liberação dos financiamentos para aplicar na cidade-sede do CNPJ. Empresas de Venâncio Aires estão incluídas neste esquecimento, como a Haas Madeiras.
Com sede em Linha Brasil, a Haas Madeiras no distrito Vila Estância Nova, em ponto atingido pela cheia do rio Taquari. Contudo, não consta na delimitação georreferenciada realizada pela Empresa de Tecnologia e Informação da Previdência (Dataprev), órgão que o Governo Federal utiliza como base para a liberação de crédito.
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Conforme o diretor da madeireira, Junior Haas, como já era de conhecimento que o processo para obter as linhas de crédito necessitaria de agilidade, a empresa procurou bancos comerciais para organizar a documentação e os protocolos necessários. “Ficamos surpresos quando recebemos a informação de que não estávamos elegíveis em virtude do georreferenciamento, de que não fomos afetados pela enchente e, por isso, não temos acesso aos recursos”, explica.
A reportagem tentou contato com Maneco Hassen, secretário de Comunicação Institucional do Governo Federal e número 2 na hierarquia da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Como um processo protocolar, em contato com o banco, caso haja a negativa, não existem novos meios para argumentar ou buscar informações, sendo esta a avaliação final. Entretanto, Haas questiona os motivos pelos quais não se enquadra entre os atingidos, sendo que a filial foi tomada pelas águas do Taquari e houve prejuízos ainda a serem contabilizados – as atividades no espaço ainda não foram retomadas. “Fizemos contatos com a CIC-VT [Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari] e com a Fiergs Santa Cruz e, depois, em Porto Alegre, além de deputados estaduais e federais, para tentar entender os motivos. A princípio, fica evidente que o valor oferecido pela União é baixo e, por conta disso, não há recursos para todos”, completa o empresário.
Todavia, a maior reclamação é a falta de transparência com relação ao resultado do Dataprev e a impossibilidade de acessar o serviço. “Ninguém tem acesso ao georreferenciamento. Não temos meios de questionar, ficamos desamparados, pois este era o único auxílio que viria para a empresa”, lamenta.
“Peço até que me mandem áudio explicando os motivos da recusa. Todos falam da falta de recursos, por isso esperamos que o Governo Federal anuncie novos valores.”
MILTON DOS SANTOS
Diretor da Bom Frango
Entenda
O BNDES disponibilizou R$ 15 bilhões do Fundo Social, conforme Medida Provisória publicada em 29 de maio de 2024, por meio do programa emergencial de auxílio para o Rio Grande do Sul. As linhas de créditos têm juros que variam entre 0,6% e 0,8% ao mês, com carência de até 12 meses e, até o momento, cerca de R$ 8 bilhões já foram depositados.
Podem solicitar o financiamento pessoas jurídicas de direito privado de todos os portes, produtores rurais, cooperativas, transportadores autônomos de cargas e empresários individuais, com negócio em áreas efetivamente atingidas pelos eventos climáticas extremos e que tenham sofridos perdas materiais, conforme a delimitação georreferenciada do Dataprev.
Modalidades de apoio às empresas
Máquinas e equipamentos: financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos para recompor capacidade produtiva afetada de todos os setores.
Investimento e reconstrução: financiamento a projetos de investimento, tais como construção/reforma de fábricas, galpões, armazéns e estabelecimentos comerciais, entre outros.
Crédito emergencial (capital de giro): apoio financeiro para necessidades imediatas, tais como pagamento de folha e/ou fornecedores, recomposição de estoques e demais gastos para manutenção e/ou retomada das atividades.
Bom Frango
- Localizada em Linha Picada Nova, no distrito de Estância Nova, a Granja Avícola Bom Frango também foi atingida pela enchente do rio Taquari e segue na busca por créditos para capital de giro.
- Conforme o diretor Milton dos Santos, a princípio todos os bancos consideram que a empresa está dentro da mancha de inundação, mas o crédito já foi negado por diversas instituições e, até o momento, apenas um banco abriu crédito para a Bom Frango.