As primeiras letras: a importância do aprendizado lúdico na educação infantil

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Com formação para professores, programa de Leitura e Escrita na Educação Infantil tem sido aplicado na pré-escola das Emeis de Venâncio.

Lavínia tem 5 anos e mostra, orgulhosa, o nome escrito por ela no quadro (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

“L, A, V, I, N, I, A.” Assim, de forma pausada e atenta, Lavínia soletra o próprio nome. “Tem um ‘Q’ também, porque sou Quadros”, complementa. Ela usa o dedinho indicador e aponta letra por letra (umas com traçados mais compridos, algumas mais gordinhas, outras com perninhas curtas) e sorri, orgulhosa, ao identificar que é o nome dela que está no quadro da sala de aula. A menina de 5 anos é uma das 20 crianças que integram a turma do pré B 2 da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Arco-Íris, no bairro Aviação, em Venâncio Aires, e vive o encantamento de aprender as primeiras letras e escrever o próprio nome.

Você, leitor, lembra quando conseguiu esse feito, praticamente uma conquista para qualquer criança? Lembra com qual idade e em que situação? Talvez o momento não esteja mais tão claro na memória, mas para a Lavínia e os colegas, tem tudo para ser inesquecível. Isso porque tem muita cor, muita música, contação de histórias e brincadeiras, tudo que o aprendizado lúdico pode contribuir para a leitura e a escrita.

Foto: Arquivo pessoal

O planejamento e a implementação dessas práticas pedagógicas para o desenvolvimento da linguagem oral, da leitura e da escrita são os objetivos da Formação LEEI, Leitura e Escrita na Educação Infantil, que ocorre para professores de pré-escola, um projeto em nível federal que, no Rio Grande do Sul, integra o Programa Alfabetiza Tchê. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a ação integra um conjunto de iniciativas de formação continuada do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada.

LEEI

Em Venâncio Aires, na rede municipal de ensino é coordenado pela pedagoga Jéssica Campos, articuladora municipal do Programa Alfabetiza Tchê. Segundo ela, o LEEI atua na formação de professoras que trabalham pelo letramento e desenvolvimento de linguagens de crianças da pré-escola (entre 4 e 5 anos), respeitando as especificidades dessas faixas etárias. “Durante os encontros, as práticas e as trocas são fundamentais, pois permitem que as professoras retornem às suas escolas e revisitem os aprendizados adquiridos durante a formação. Dessa forma, a experiência contribui significativamente para o desenvolvimento profissional”, destaca Jéssica.

Foto: Débora Kist/Folha do Mate

Como são as formações

Na Capital do Chimarrão, o projeto tinha previsão de começar no início de 2024, mas iniciou no segundo semestre devido à situação de calamidade pós-enchente, e se encerra em junho de 2025. Na prática, três grupos de professores (cada um com cerca de 30 profissionais) passam por formações com três pedagogas que são as formadoras. Essas profissionais são Bianca Campos da Silva, Jaqueline Richter e Júlia Grasiela Thiesen, selecionadas através de edital.

Uma vez por mês elas participam de uma formação em nível de estado em Santa Cruz do Sul. Depois, elas repassam para os grupos no município. Em nível local, na Secretaria de Educação, são dois encontros presenciais para cada grupo – quatro horas para cada encontro – além de algumas atividades remotas.

Turma da formadora Bianca Campos da Silva (Foto: Arquivo pessoal)
Turma da formadora Jaqueline Richter (Foto: Arquivo pessoal)

Ampliar o repertório

A formação abrange professores de todas as Emeis que têm turmas de pré (A e B). A exceção é a Vó Helma, no bairro Brands, que tem turmas até o nível III. A pedagoga Júlia Grasiela Thiesen é uma das formadoras. Ela tem experiência de 11 anos em escolas e atualmente trabalha na Emei Yolita da Cruz Portella, no bairro Brígida. Segundo a profissional, a ideia é ampliar o repertório das professoras para reaplicar as práticas com as crianças. “É um projeto que traz a leitura e a escrita de outra maneira na educação infantil. Traz um contexto onde estamos inseridos, como somos formados sobre esses escritos e também como a nossa cultura influencia. Muito da formação não é nem ensinar. É refletir nossas práticas, do quanto isso impacta na formação das crianças, da leitura e escrita, falando também de afetividade. E isso é levado para as escolas.”

Ainda conforme Júlia, do que é levado para a sala de aula, estão indicações de livros e brincadeiras culturais (que estão se perdendo); formas de contar histórias; trabalhos com fichas dos nomes; ideias de inserir a cultura do escrito no cotidiano por meio de fichas de leitura; e fazer listas de compras, de livros lidos e de brinquedos. “Também ocorrem muitas trocas. Por exemplo, quando falamos sobre as fichas de nomes, pedimos para cada uma compartilhar alguma proposta que já havia feito. Assim essas atividades vão sendo discutidas e se ampliando o repertório.”

Um dos grupos de professoras na capacitação com a formadora Júlia Grasiela Thiesen (Foto: Arquivo pessoal)

“Nos faz pensar fora da caixa e enaltece a educação infantil”

A pedagoga Fernanda Brandt Martins trabalha há quatro anos com educação infantil e é a atual profe do pré B 2 da Emei Arco-Íris, a turma da Lavínia, mencionada no início da matéria. Segundo ela, a capacitação junto à Secretaria de Educação oportuniza trocas de ideias e vivências entre os professores, já que são contextos e comunidades diferentes em cada Emei. “O curso nos faz repensar a prática junto com as crianças e nos provoca a refletir sobre o dia em sala de aula, sobre as vivências. Nos faz pensar fora da caixa e enaltece a educação infantil e a importância dela na formação de todo cidadão.”

Foto: Arquivo pessoal

A profissional entende que a educação infantil é a etapa mais linda da infância e precisa ser levada a sério. “Enquanto escola, a gente precisa proporcionar a eles vivências lúdicas, que possam ter esses primeiros contatos, mas não impor. Com o brincar, as cantigas e as histórias, eles já estão nesse caminho da leitura.” Fernanda afirma ainda que o processo de leitura e escrita é natural e na pré-escola a curiosidade se intensifica. “Sou uma defensora da educação infantil, acredito muito na potência dela. E a LEEI foi ao encontro disso, porque veio com uma formação de muita qualidade e, consequentemente, resulta em uma educação de qualidade para nossas crianças.”

Compromisso com a educação infantil

O secretário de Educação de Venâncio Aires, Émerson Henrique, observa que o projeto Leitura e Escrita na Educação Infantil (LEEI) faz parte do compromisso nacional pela alfabetização na idade certa. “Nós assumimos o compromisso de alfabetizar nossas crianças até o fim do 2º ano do ensino fundamental, mas também de ter os alunos com uma boa leitura e uma boa escrita até o 5º ano. São justamente essas idades que fazem as avaliações externas [Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers),] e que estamos nos destacando nos últimos tempos em Venâncio. Então essa formação é muito importante, porque tem impacto direto na aprendizagem dos alunos.”

“Nós, como professores, temos a missão de incentivar ainda mais esse gosto pela leitura e escrita e proporcionar momentos lúdicos em que a criança possa ter vivências significativas e aprender brincando.”

FERNANDA BRANDT MARTINS – Pedagoga



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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