O Natal de duas pessoas foi mais especial em 2021. O Instituto Federal Sul Rio-grandense (IFSul), do campus de Venâncio Aires doou para elas scooters elétricas feitas pelos alunos do curso Técnico Subsequente em Eletromecânica.
O diretor-geral do instituto, Geovane Griesang explica que o trabalho de construir uma scooter é feito com a integração de várias disciplinas. Apesar da finalização dos projetos acontecer no quarto semestre, já no fim do curso, que tem duração de dois anos, os alunos começam já aplicando o que vão aprendendo. “O desenvolvimento do projeto vai desde o desenho até a prática em si”, explica.
O coordenador e professor do curso, Imar de Souza Soares Junior, observa que o foco principal dos projetos não é a doação, e sim, o desenvolvimento das competências por parte dos alunos para conferir o que aprenderam durante o curso. Inclusive, ocorre até uma banca com a presença dos familiares dos alunos para apresentação dos projetos. “As doações são uma consequência de um trabalho bem feito”, ressalta. O professor comenta que muitas pessoas chegam a procurar o instituto querendo ‘reservar’ uma scooter para doação, porém, ele explica que isso não é possível, pois não há como saber quantos projetos estarão em condições de segurança para doação ao fim do curso dos alunos daquele ano.
Ao todo, cinco scooters já foram doadas pela instituição para a comunidade, desde a a criação do curso em 2013. Os veículos são feitos com recursos do IFSul, dos alunos e doações de empresas. “Muitos materiais os alunos pegam do IF mesmo, e quando precisamos de alguma coisa mais cara, fazemos uma vaquinha entre nós mesmos”, destaca Junior. Ele ressalta que é importante cada vez mais receber o apoio de empresas locais e enfatiza que neste mês já estão com uma reunião marcada com uma empresa que deseja fazer parceria para apoio na motorização. “O motor é uma das partes mais delicadas e caras da scooter, geralmente pegávamos um de segunda linha, que era o que conseguíamos. O mesmo acontece com a bateria, que é recarregável.”
Quando a pandemia da Covid-19 veio, os alunos ficaram sem acesso a aulas presenciais – indispensáveis para as práticas em laboratórios. O projeto foi prejudicado atá retornar em outubro de 2021. O professor e coordenador enfatiza que para conseguirem fazer as doações em 2021, os alunos deram um ‘ligeirão’ no projeto. O uso dos laboratórios – necessários para as aulas práticas – só foi liberado no fim de outubro e em um mês e meio os alunos conseguiram finalizar. “Fiquei emocionado com a dedicação e o esforço que a turma teve. Eles se reuniam atá fora de horário de aula.”
“Depois do ano sofrido que tivemos, ver os alunos conseguindo fazer as doações e ajudando estas duas pessoas foi incrível.”
IMAR DE SOUZA SOARES JUNIOR
Coordenador e professor do curso Técnico Subsequente em Eletromecânica
Projeto
A ideia de fazer scooters no curso de Eletromecânica surgiu através do professor Marcelo Barros. A proposta era usar o projeto como uma forma de integrar todas as disciplinas do curso. A convite de Barros, Junior começou a auxiliar na parte mecânica dos projetos. Após, mais dois colegas professores foram convidados para participar do projeto, Henrique Stangarlin e Gustavo de Antoni.
A primeira doação aconteceu em 2018, e em 2019 a professora de inglês Letícia Pacheco – hoje afastada para realização de doutorado – entrou para o grupo também, com o objetivo de aumentar a participação dos alunos do curso na disciplina de Inglês. A partir de então, começou a fazer parte da apresentação final uma explicação em vídeo na língua inglesa e a produção de um manual, também na língua estrangeira. Quem administra a disciplina hoje é a professora Catherine Werlang. O último a participar do curso foi o professor Luciano Porto.
A proposta atual de ensino para o curso foi reformulada em meio à pandemia, quando as aulas eram remotas. A turma teve este planejamento apresentado quando já estavam no terceiro semestre, no fim de 2021. A etapa de ensino já foi concluída pela turma de Eletromecânica, faltando agora a realização do estágio e a entrega do relatório de atividades. Junior afirma que alguns alunos já iniciaram a etapa do estágio e logo estarão com o certificado em mãos. “É importante salientar que esta é uma proposta dos docentes, a adesão depende de cada um. Felizmente, no último semestre vimos que é possível investir nesta proposta, integrando não apenas disciplinas dentro de um mesmo semestre, mas integrando o curso como um todo.” Junior acredita que a própria integração entre os professores teve evolução, com reuniões para ajustes de estratégias. O impacto nos alunos foi grande. e desde então. cinco disciplinas se integram e criam um ambiente de trabalho e ensino satisfatório.
- 9 foi o número de alunos envolvidos na produção de três scooters. Três grupos foram formados e a terceira scooter só não foi doada pois apresentou problemas técnicos um dia antes da apresentação.
Processo de criação da scooter
1. No primeiro semestre, quando os alunos começam criação do chassi do veículo em uma espécie de carrinho de rolimã, é aprimorada a parte técnica. São feitos desenhos no papel também.
2. No segundo semestre, os desenhos são refeitos no computador e cálculos também são revistos. É concluída a parte do chassi.
3. No terceiro semestre é feita a motorização e transmissão da scooter.
4. No quarto e último semestre, os já alunos com mais experiência, fazem a finalização dos projetos e apresentação.
“O melhor presente que Papai Noel já me trouxe”
A afirmação é de Diego Armando Müller, 26 anos. Ele é cadeirante e foi um dos contemplados com uma das scooters do IFSul de Venâncio Aiers. Ele comenta que foi convidado para participar da banca de apresentações como avaliador e foi surpreendido com uma doação. “Para mim isso só mostra o quanto a inclusão é importante. A scooter hoje é uma ferramenta de autonomia para mim.” Até o momento, Diego se locomovia com uma cadeira de rodas tradicional e agora pretende fazer uma adaptação da scooter em sua cadeira.
Quem também recebeu uma scooter foi Lauro Frey, 56 anos, que através do vereador Eligio Weschenfelder (PSB) visitou a instituição e, após alguns dias, recebeu a notícia que seria contemplado. Atualmente, Frey está acamado devido a uma fratura na perna, mas assim que se recuperar, pretende voltar a usar o veículo e tem planos de fazer melhorias, como estreitar o assento e colocar um rodado maior. “Foi o meu primeiro veículo que eu conseguia me locomover sozinho, funciona muito bem”. O morador de Linha Cerro dos Bois usava a scooter para andar dentro de casa e também na rua.

Escolha
O professor e coordenador Imar de Souza Soares Junior destaca que a escolha dos nomes para receber as scooters sempre foi um dilema ao fim do curso. Lauro Frey, por exemplo, foi visitar a instituição com o vereador Eligio Weschenfelder em outubro de 2021, logo após as aulas retornarem, e demonstrou interesse em receber um dos veículos. O professor ressalta que o vereador Elígio foi importante neste processo, pois foi quem apresentou Frey aos estudantes e professores do IFSul. “O Elígio nos ajudou bastante, agendou reuniões para que empresários nos ajudassem e para mim, ele está muito acima da política, virou um parceiro da instituição.”
Já o segundo escolhido para receber a scooter foi conhecido através de uma amiga de Junior, a Lisandra Ines Metz. Ela e Diego são administradores de uma empresa chamada Realidade Acessível, que tem o objetivo encontrar soluções inclusivas, tendo como diretriz os direitos das pessoas com deficiência.
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