No fim de fevereiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022 – Educação. Os dados, que avaliam os níveis de educação no país, apontam detalhes sobre alfabetismo, educação básica e Ensino Superior.
Com um distanciamento de 12 anos entre a realização das pesquisas (o último Censo completo era de 2010), os números que mais tiveram mudanças foram os relacionados à população com mais de 25 anos com Ensino Superior completo. Em Venâncio Aires, 13,88% dos moradores declararam ter Ensino Superior completo, sendo que em 2010 eram apenas 6,75%.
Segundo o reitor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rafael Henn, o contexto é que, entre 2010 a 2014, o programa de Financiamento Estudantil (Fies), do Governo Federal, ocasionou uma ‘explosão’ na quantidade de matrículas e que, a partir de 2015, a curva se inverteu, com redução de alunos ano a ano. “Na Unisc, chegaram a entrar mil alunos por ano com o Fies e, hoje, são menos de 100”, compara.
A queda do número de alunos na graduação presencial ocorreu de forma paralela com o crescimento da modalidade Ensino a Distância (EAD). Conforme Henn, entre 2015 e 2023, as universidades comunitárias e privadas tiveram uma redução de 40% dos alunos presenciais no Rio Grande do Sul. Por outro lado, no mesmo período, o EAD avançou mais de 200%.
Em 2022, pela primeira vez na história do país, o número de alunos matriculados no EAD foi maior do que o de estudantes presenciais. “Isso, obviamente, gera uma complicação grande para as instituições, que tiveram que organizar todos os seus processos e ajustar o seu tamanho. Nós conseguimos, a partir do ano passado, estabilizar o tamanho da nossa estrutura”, diz o reitor.
Henn afirma que o planejamento aponta um crescimento de 3% a 5% para este ano, em decorrência de três principais fatores: as bolsas do programa federal Professores do Amanhã, o programa estadual RS Talentos e o encerramento das operações de sete cursos na Faculdade Dom Alberto, de Santa Cruz do Sul.
Demanda reprimida no ensino superior
Para a vice-reitora da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Cíntia Agostini, os anos 2000 proporcionaram para a população linhas de financiamento de crédito e bolsas, o que ocasionou uma ampliação das universidades e dos cursos, para atender a uma demanda reprimida na região.
Agora, no entanto, os financiamentos e a demanda reduziram e, com isso, o crescimento do Ensino Superior avança junto com o crescimento populacional. Na região, o acesso mais facilitado e o EAD auxiliaram na inserção das pessoas na graduação. “O EAD não é uma novidade, mas fez a inserção de pessoas, que antes não tinham acesso, no Ensino Superior. Hoje, nós temos 65% dos nossos alunos no presencial e 35% no EAD”, detalha.
Por outro lado, os cursos técnicos, conforme Cíntia, surgem como uma alternativa, mas vão ao encontro de outro público, as pessoas que buscam mudar de carreira ou retomar os estudos. “Pelos custos mais baixos e a duração dos cursos”, completa.
Ensino Superior na região
Município | Censo 2010 | Censo 2022 |
Venâncio Aires | 6,75% | 13,88% |
Mato Leitão | 3,97% | 10,32% |
Passo do Sobrado | 2,92% | 9,25% |
Vale Verde | 2,73% | 6,53% |
Educação básica tem índices positivos
Além dos dados do Ensino Superior, o Censo também divulgou estatísticas sobre o alfabetismo e a educação básica dos municípios. Venâncio Aires contou com uma queda de quase 20% na população sem instrução ou nível fundamental incompleto, saindo de 58,6% para 39,59%. O cenário de queda se repete em todos os municípios da microrregião.
Conforme o secretário municipal de Educação, Émerson Eloi Henrique, o aumento do nível de alfabetização da população e a erradicação do analfabetismo são metas do Plano Municipal de Educação. “Estratégias como a busca ativa escolar e o incentivo aos estudos através da EJA [Educação de Jovens e Adultos] na cidade e interior, aos longos desses últimos anos, certamente contribuíram para a melhora significativa desse índice”, acrescenta.
Confira: Venâncio é o município mais ‘casamenteiro’ da região
A vice-reitora da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Cíntia Agostini, enfatiza que, apesar deste crescimento, a evasão escolar, principalmente do Ensino Médio, é um dos principais problemas do país. “Percebemos uma deficiência das pessoas de 25 anos ou mais, que metade, na média brasileira, não termina o Ensino Médio. Com isso, aparecem dificuldades como um todo, não só de acessar o Ensino Superior, mas quando falamos de qualificação de mão de obra”, observa.
População sem instrução ou nível fundamental incompleto
Município | Censo 2010 | Censo 2022 |
Venâncio Aires | 58,6% | 39,59% |
Mato Leitão | 60% | 48,58% |
Passo do Sobrado | 71,6% | 49% |
Vale Verde | 76,7% | 57,66% |
* Importante: No Censo de 2010, os números consideram apenas a população acima de 25 anos
Taxa de alfabetização
• Outro número apresentado pelo Censo Demográfico 2022 é a taxa de alfabetização. Em Venâncio Aires, 96,35% da população é alfabetizada, enquanto que nos municípios da microrregião os números ficam levemente abaixo: 96,67% em Mato Leitão, 96,04% em Passo do Sobrado e 93,52% em Vale Verde.