A partir de 2022, quando está prevista a construção de um novo prédio, a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Frederico Reinaldo Closs, vai sair do bairro União. A mudança para uma área no bairro São Francisco Xavier, quase 33 anos depois da inauguração dela, foi a alternativa da Prefeitura para tentar resolver, definitivamente, um problema histórico: a cada enxurrada, enchente do arroio Castelhano ou mesmo alagamento, a Emei corre risco iminente de ser atingida pela água.

O susto mais recente foi no último fim de semana de junho, quando após horas de muita chuva, a rua em frente à escola foi tomada pela água. Dessa vez, ela parou na calçada, mas toda situação semelhante deixa pais e funcionários de ‘orelha em pé’. Como prevenção, o jeito é levantar móveis, eletrodomésticos e fazer barreiras com areia nas portas. Até sobre os ralos dos banheiros são colocados sacos de areia.
“É uma grande vitória essa mudança, porque toda vez ficamos apreensivos, de que vem enchente. É um sufoco toda vez.” O relato é da atendente Rejane Claudete da Silva Pereira Lima, 51 anos, que mora na rua dos fundos da Emei. Ela trabalha na Closs desde 1999 e já presenciou momentos complicados. O mais emblemático para ela foi em 29 de junho de 2014, quando uma grande enchente atingiu Venâncio Aires e levou quase um metro de água para dentro da escola.

Segundo a diretora, Anelise Heinen Böhm, que trabalha há 11 anos na Closs, todos estão ansiosos com o anúncio da mudança. “Não só pelo risco das enchentes, mas a escola está, digamos, em cima da calçada, está mais exposta. Então vai ser bom para a própria segurança e o conforto dos alunos.”
A definição sobre a mudança aconteceu na noite de terça-feira, 6, durante uma reunião entre Secretaria de Educação, direção e a Associação de Pais e Mestres (APM). Para o tesoureiro da associação, Juliano da Luz, a mudança será importante. O filho dele, Ian, de 5 anos, frequenta a Emei desde o berçário. “É válida a troca. Talvez alguns acham melhor ficar no bairro, mas hoje a maioria das crianças vem de regiões diferentes. Além disso, a parte baixa da cidade, dos terrenos que têm, são alagadiços. Então seria trocar seis por meia dúzia”, avaliou.
Projeto
A localização da Emei Closs é discutida há muito tempo e, em 2017, a Prefeitura comprou uma área de 4 mil metros quadrados e que custou mais de R$ 700 mil.
A ideia da Administração anterior era construir a nova escola na quadra entre as ruas Cláudio Reckziegel e Emilio Michel, próximo ao Cemitério Municipal. No entanto, isso não vai acontecer. O motivo, segundo o secretário de Educação, Émerson Henrique, é que o terreno tem seis metros de desnível, o que torna a obra inviável.
A alternativa imediata é um terreno que nem fica tão longe do pensado anteriormente. A área escolhida, que já pertence ao Município, fica na rua Antônio Carlos, a poucos metros da escola Benno Breunig, no bairro São Francisco Xavier, bairro vizinho do União. São mais de 3,2 mil metros quadrados.
“É uma área grande, que vai nos possibilitar construir uma escola maior e aumentar a capacidade [são 126 matriculados atualmente]. Queremos conseguir chegar no processo licitatório ainda esse ano e talvez começar a construção em 2022”, revelou o secretário.
Sobre a troca mudar a logística de muitas famílias, Henrique entende que o impacto não será grande, já que o zoneamento não interfere mais na disponibilidade de vagas. Na Closs, por exemplo, há crianças que moram nos bairros Coronel Brito e Bela Vista, geograficamente em lados opostos ao bairro União.
Ainda conforme Henrique, a nova Emei Closs deve ser construída com recursos próprios do Município. Ainda não há uma estimativa de custos.

“Não é certo tirar a escola daqui”, avalia moradora
Embora tenha sido consenso entre Prefeitura, direção, funcionários e pais de que a Emei precisa ser realocada, há quem não concorde. Dulce Teresinha Müller, 62 anos, que mora a vida toda no bairro União, é contrária à ideia. “Sempre convivemos com enchente e agora querem tirar? Abram e limpem o arroio Castelhano, que já vai ajudar muito. Não é certo tirar daqui”, destacou.

A opinião de Dulce também remete ao passado da escola, que foi construída porque houve mobilização da comunidade. Segundo ela, até a década de 1980, a opção dos venâncio-airenses que não tinham onde deixar os filhos era o Centro de Assistência Social de Venâncio Aires (Casva). “Foi a comunidade que correu atrás da creche e depois que a família Closs [proprietária do antigo curtume], doou o terreno, os moradores ajudaram com material e trabalharam na obra”, recorda.
Dulce conta que o marido, Zeno Müller, e os irmãos dela, Ardêmio e Verni Brixius, ajudaram a construir a primeira parte da Emei, inaugurada em outubro de 1988, durante mandato do ex-prefeito Almedo Dettenborn. “Acho errado tirar a creche daqui. É uma referência no bairro, foi uma conquista das famílias. E depois que sair, vão colocar o quê nela?”
A pergunta de Dulce ainda não tem resposta. Segundo o secretário, Émerson Henrique, isso ainda será pensado. Da mesma forma, ainda não está decidida qual a destinação do terreno próximo ao cemitério.