Eram cerca de 14h30min desta segunda-feira, 3, quando pouco mais de 30 alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem (CAJ) saíram para o intervalo. Com um pátio grande e poucos estudantes, o ‘barulho’ foi pouco no recreio, algo inimaginável em uma situação sem pandemia.
Mas, como a realidade é outra há mais de um ano, corredores e salas mais silenciosos ou vazios viraram parte do novo cenário das escolas. O dia de ontem marcou a retomada das aulas presenciais dos Anos Iniciais (1º ao 5º anos) do Ensino Fundamental nas escolas estaduais. No CAJ, uma das maiores de Venâncio Aires, a segunda-feira recebeu cerca de 80 alunos somando os dois turnos. Pela determinação do Estado, que estipula metade da capacidade, 105 poderiam ir à escola nesse início de semana.
Na turma do 5º ano da tarde, por exemplo, 21 estão matriculados e 10 poderiam ir a partir de ontem. No entanto, a contagem foi de seis em sala de aula durante a tarde. Quantos irão nos próximos dias, não se tem uma certeza, porque a decisão continua sendo dos pais. Vale lembrar que a criança que não participar das aulas presenciais, deverá fazer as atividades de forma remota.
Ao analisar o primeiro dia, a diretora do CAJ, Cláudia Neumann, diz que a semana ainda será de experiências. “O primeiro dia foi de muitas incertezas, estávamos com uma angústia grande de como receber os alunos com toda segurança. Mas seguimos todos os protocolos e foi mais tranquilo que pensávamos, sem deixar a criança nervosa. Espero que continue assim.”

Etapas
A partir de quinta-feira, 6, os intervalos no CAJ e nas outras escolas estaduais de Venâncio tendem a ser um pouco mais ‘movimentados’, já que voltam os Anos Finais (6º ao 9º anos). No caso do CAJ, são 251 matriculados e 125 poderiam frequentar a escola ainda nesta semana. Já o Ensino Médio está previsto para retomar as atividades presenciais na próxima segunda, 10.
Essa organização de três dias diferentes nas estaduais foi determinada pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que tinha autonomia para decidir em cima do calendário proposto pela Secretaria Estadual de Educação. Por enquanto, a CRE ainda não tem um número estipulado de quantos alunos voltarão para a sala de aula. A coordenadoria informou que essa organização tem sido feita por cada escola, que faz seu próprio levantamento.
À espera da vacina
Na última semana, o Cpers, Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Rio Grande do Sul, requereu a manutenção da liminar que suspendia as aulas presencias. Diante do pedido, a Justiça determinou que as ações fossem conduzidas pelo Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Porto Alegre. A primeira audiência com o Estado aconteceu ontem e não teve acordo. Por isso, uma nova mediação ocorre amanhã, 5.
Uma das principais cobranças do Cpers é que as atividades presenciais só acontecessem quando houvesse vacina contra a Covid para os professores. Sobre isso, a professora Vivian Hickmann, que ensina Matemática para os Anos Iniciais no CAJ, afirmou que gostaria de ser imunizada antes de voltar para a sala de aula. “Todos têm receio e entendo que poderíamos ficar no remoto até ter vacina, os alunos já vinham dessa organização. Mas também entendo que, aos poucos, precisamos voltar para nossas rotinas.”
A professora Carla Inês Rabuske Weber, que também leciona Matemática no CAJ, mas para os Anos Finais do Ensino Fundamental, não escondeu a apreensão para o retorno na quinta-feira. “Todos têm medo, todos têm angústias e incertezas. Por isso a vacina tem que ser para todo mundo. Mas enquanto ela não estiver disponível para todos, temos que garantir um ambiente o mais seguro possível e que dê condições para voltar.”
Substituições
Até a tarde de ontem, cinco professores de um total de 541 da rede estadual de Venâncio Aires, apresentou atestado médico por ser considerado grupo de risco à Covid.
Segundo a chefe do Departamento de Recursos Humanos da 6ª CRE, Silvia Grando, há municípios na região que estão ‘zerados’ nesse quesito. “São pouquíssimos profissionais que precisarão ser substituídos. A maior parte dos atestados se refere a problemas cardíacos, pulmonares, diabetes e algumas gestantes.”
No caso de Venâncio, esses cinco profissionais trabalham nas escolas Monte das Tabocas, Cônego Albino Juchem e Miguel Macedo de Campos, na Linha Herval. Dois deles já foram substituídos por colegas que tiveram ampliação de carga horária. As outras três vagas foram informadas para a secretaria de Estado e serão necessários novos contratos temporários. A previsão do RH da 6ª CRE é que as contratações sejam feitas ainda nesta semana.
Transporte
O que também deve ser resolvido nos próximos dias é o transporte escolar, mantido em parceria por Estado e Município. O secretário de Educação de Venâncio, Émerson Henrique, projeta uma definição até quarta, 5, na véspera do retorno das Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs).
“Transporte necessita de cinco dias úteis para regularizar documentações. Paralelo a isso estamos coletando dados sobre o retorno dos alunos, inclusive na rede estadual. Após compilarmos esses dados iremos nos reunir com os transportadores”, informou o secretário.
Henrique disse ainda que não há definição sobre a carga horária presencial nas Emefs. De qualquer forma, as escolas estaduais já cogitam pedir à 6ª CRE para rever a decisão de ser apenas 3 horas de manhã e 3 de tarde. De manhã, as aulas foram retomadas das 8h às 11h e à tarde das 13h às 16h.
“No caso da manhã, tem ônibus e van que chegam às 7h15min. Então temos essa preocupação, com a segurança antes e depois, além de que a escola não tem como ficar com todo esse volume de alunos no saguão. O ideal seria atender em horário normal”, mencionou Cláudia Neumann, diretora do CAJ. Só no Cônego Albino, cerca de 200 estudantes devem utilizar o transporte escolar em 2021.