Em meio a avanços, o desafio da formação na área de informática e tecnologia em Venâncio

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Nas últimas décadas, somado ao setor do tabaco, Venâncio Aires se firmou como um forte polo na área de refrigeração e metalurgia. Isto está estabelecido nas quase 200 empresas do setor metal-mecânico e de frigoríficos, por exemplo, que empregam milhares de pessoas.

Ainda em crescimento, o que naturalmente puxa a necessidade de formar mão de obra, a demanda nesse segmento industrial foi e segue responsável pela manutenção de muitos dos cursos técnicos oferecidos no Instituto Federal Sul-Rio-grandense (IFSul). Mas, em paralelo a essa condição, o município vê a expansão do setor de informática e tecnologia, necessário em vários setores da indústria, e também precisa, portanto, de quem saiba fazer.

Desde 2019, Venâncio Aires virou sede da Combate à Fraude (CAF), criada pela necessidade de pensar ferramentas que evitem golpes e fraudes recorrentes nas redes digitais. “Hoje em dia, em um mundo passando por uma profunda transformação digital nos mais diversos setores, a demanda por profissionais de TI (tecnologia da informação) tem sido cada vez maior. Em uma pesquisa recente da Gartner [empresa dos Estados Unidos], os dados apontam que a falta de talentos no setor de TI disponíveis no mercado é a maior barreira para o lançamento de aproximadamente 64% das novas tecnologias”, destaca Vinícius de Borba, do setor de Gente e Cultura (RH), da Combate à Fraude.

Ainda, conforme Borba, fica evidente que, com o passar do tempo, a demanda por profissionais seguirá crescendo de maneira exponencial, enquanto a formação não será capaz de seguir o mesmo comportamento, resultando em um problema. “Quando pensamos em aquisição e retenção de talentos, o maior desafio são as posições relacionadas à tecnologia. A falta de profissionais é uma dificuldade nacional, o que foi apelidado como ‘apagão tecnológico’, então, todas as empresas de tecnologia estão enfrentando a dificuldade de contratação.”

Local

Embora entenda o problema como geral, Vinícius de Borba ressalta que Venâncio Aires tem um “ótimo diferencial”: o IFSul. “Com a proximidade da CAF com o IF, conseguimos recrutar talentos locais para nossa empresa e suprir parte da nossa necessidade de profissionais da área de TI.”

A CAF tem atuais 94 funcionários de Venâncio Aires (pouco menos da metade do total de colaboradores da empresa). Entre eles, Kelli Maria Gutterres, 19 anos, ‘cria’ do IFSul no técnico em Informática integrado ao Ensino Médio e que já decidiu seguir na área. “Pretendo fazer uma graduação, pois a partir do conhecimento e da experiência no ensino técnico, quero me especializar. Essa área era muita ampla e que te possibilita um futuro dentro dela.”

“A tecnologia vem crescendo cada vez mais e se mostrando cada vez mais presente no nosso dia a dia. Com a pandemia, o mundo tecnológico se desenvolveu muito rápido e, atualmente, não se tem como pensar em inovação sem pensar nos avanços tecnológicos.”

KELLI GUTERRES – Técnica em Informática

Formação

Além da ‘informática pura’, o setor de tecnologia também tem peso e importância no que se refere ao maquinário usado em indústrias diversas, como de refrigeração e metalurgia. A essas empresas, o conceito de indústria 4.0 virou assunto corriqueiro.

Na prática, não se trata apenas de uma melhora na mecanização, mas sim, a conexão de tudo e se tornaram comuns termos como inteligência das máquinas, internet das coisas ou a conectividade dos equipamentos.

Mesmo não sendo algo ‘novo’ em determinados setores, a maior dificuldade e que pode atrasar um crescimento potencial do negócio é a mão de obra, o que mexe diretamente com as instituições de ensino que oferecem formações nessas áreas.

No caso da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o reitor Rafael Henn explica que o tema já é trabalhado há algum tempo e destaca o curso de Engenharia de Produção. “O assunto é discutido em diversas disciplinas. O currículo foi todo atualizado, com um viés mais tecnológico. Precisamos formar talentos inovadores num ambiente de novas tecnologias.” A partir de agosto, a Unisc Venâncio Aires passará a oferecer o curso técnico em Indústria 4.0.

Atualmente, no IFSul, o laboratório de robótica é um dos ambientes usados por estudantes dos cursos técnicos em Informática e em Refrigeração e Climatização (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Quanto ao IFSul, o técnico em Informática integrado ao Ensino Médio existe desde o início das atividades do campus de Venâncio, em 2011, e ainda hoje é um dos mais procurados, com turmas cheias. “Mas a quantidade de formados que saem do IF hoje não dá conta de atender a demanda de empresas que nos procuram”, comenta o diretor, Geovane Griesang.

Atento às necessidades da área de informática e tecnologia, o IFSul local implementou seu primeiro curso superior. Com o tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistema, o objetivo é formar profissionais para todas as etapas envolvidas no desenvolvimento de sistemas de informação, desde o planejamento até a concepção de produtos de softwares.

“Inclusão da TI na educação básica pode favorecer processos”, opina especialista

Para professor do Departamento de Gestão de Negócios e Comunicação da Unisc, Julian Israel Lima, não há como negar que a área da tecnologia da informação é uma das que mais tem demandado profissionais qualificados, o que tem gerado uma competição das empresas atrás dos melhores perfis.

“Tenho acompanhado jovens que conseguem emprego na área da TI já nos primeiros meses de curso e com salários e benefícios muito interessantes. A demanda por esse tipo de profissional tem sido tão elevada que empresas de outros estados e do exterior têm recrutado na região. A possibilidade de trabalho remoto potencializou muito esse efeito, o que favorece os jovens que buscam uma formação na área.”

Julian Israel Lima, que tem pós-graduação com foco na gestão de pessoas, destaca que a demanda por profissionais de TI tem gerado competição entre as empresas (Foto: Divulgação/Unisc)

Ainda, conforme Lima, gestores de RH e recrutadores têm relatado muita dificuldade de captação e manutenção de profissionais, tamanha é a procura por esses perfis. “A inclusão de assuntos relacionados à TI já na educação básica, de modo que os jovens experimentem e desenvolvam competências também nesse âmbito, pode favorecer esse processo no futuro, ao menos para que possam ter a percepção de que esse pode ser um caminho viável para eles.”

O professor destaca também que áreas como as engenharias e todas as mais técnicas, vinculadas à indústria local, também têm demandado fortemente. “Para todas elas, uma formação consistente aliada à alguma vivência prática faz toda a diferença, por isso sempre ressalto a importância da escolha, na medida do possível, por instituições de qualidade.”

Falta de qualificação

Implementar o assunto já na escola também é algo defendido pelo empresário Junior Bohn, da FBNet de Venâncio Aires. Ele conta que em Lajeado participa de um grupo de trabalho, entre várias empresas que pretendem começar uma qualificação para alunos de Ensino Médio. “Pelo menos estimular o interesse na área de tecnologia. Vejo que as escolas não estão preparadas para dar esse estímulo. Isso poderia começar com um pouco de programação ou robótica e, nas aulas de Física, noções de eletrônica.”

“Temos que estimular o interesse de jovens no setor da tecnologia, pois é um dos que melhor pagam e, no futuro, vai ser muito mais exigido com a chamada ‘internet das coisas’, a conexão de objetos com a internet, que são capazes de coletar e transmitir dados.” JUNIOR BOHN Empresário (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Bohn diz que no setor de tecnologia falta mão de obra de forma geral e, quando qualificada, ainda é mais raro. “As pessoas não estão buscando se qualificar. Vagas não faltam na região. O que falta é qualificação, muitas vezes nem Ensino Médio a pessoa tem.”

O empresário destaca ainda que há muito tempo está com 12 vagas para técnicos e não consegue preencher vagas. “Nós simplesmente paramos de procurar e estamos formando os profissionais internamente.”

68 – é o número de empresas de Venâncio no setor de tecnologia da informação, conforme dados do fim de 2021 da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo.

Sequência

No próximo sábado, 28, a Folha publica a quarta e última reportagem da série Caminhos do Emprego, com entrevista com um especialista em empregabilidade, além de projeções e expectativas de representantes do setor público de Venâncio.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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