A ausência do frio faz com que algumas frutíferas, que têm o auge de sua frutificação nos meses do verão e do outono, continuem a produzir, em pleno inverno. É o caso do figo e das goiabeiras.
Na propriedade de Robério Krammes, em Linha Travessa, são 300 figueiras. O agricultor, que comercializa as frutas na Ceasa, em Porto Alegre, e para restaurantes locais, está colhendo de 200 a 300 quilos de figo por semana.
Krammes, que tem na horticultura a principal produção e fonte de renda da propriedade e implantou o pomar há cinco anos, não se lembra de ter colhido figo nesta época e em tão grande quantia. Segundo ele, a produção de agora se equipara à de dezembro, período em que ocorre o auge da colheita.
“Porém, as frutas de agora não são tão gostosas como as da safra normal, que colho em dezembro”, frisa, acrescentando, porém, que na lavoura, os frutos estão mais bonitos e acredita que isto ocorra em função do tempo seco com temperaturas mais amenas, que não prejudicam tanto.
Krammes conta que este fenômeno não está ocorrendo somente em Venâncio Aires e que produtores rurais de outras regiões do estado que também comercializam na Ceasa, igualmente estão colhendo figos e outras frutas fora de época.
O engenheiro agrônomo e chefe do escritório municipal da Emater/RS-Ascar, Vicente João Fin, explica que as plantas ainda continuam produzindo porque não fez frio suficiente para induzir a transformação da clorofila em xantofila (pigmentos amarelos) e em caroteno, o que faz as folhas mudarem de cor e caírem. Ele acrescenta que, como ainda não fez frio suficiente para induzir a queda, a planta, tendo temperaturas acima de 15ºC, continua crescendo e, com isso, fica ativa e produz frutos.
VAZIO SANITÁRIO
1 – Apesar de beneficiar algumas culturas, como a do figo e da goiaba, o calor fora de época prejudica outras produções.
2 – O engenheiro agrônomo da Emater, Vicente Fin, explica que um dos problemas causados por não fazer frio quando deveria, como está acontecendo agora, é que não ocorre o vazio sanitário nos pomares e também nas lavouras onde não foi colhida a soja safrinha. “Aquela que ficou na lavoura, por exemplo, está reproduzindo doenças.”
3 – Além disso, quando se tem o figo na lavoura e não estão sendo efetuadas as aplicações quinzenais de sulfato de cobre, está se reproduzindo doenças. Isto vale também para a goiaba e outras frutíferas que são de um ciclo mais longo e não tão determinado, porque vão produzindo à medida que vão crescendo os frutos.
4 – Com as rosáceas (pêssego, ameixas, pêras), por exemplo, vão ocorrer problemas, pois elas florescem e abortam, florescem novamente e outra vez abortam e isto vai provocando doenças e quando do período de frutificação, por não ter feio frio, pode reduzir a produtividade.
“Desde que implantei o pomar, não me recordo ter colhido figo nesta época do ano. É algo atípico, incomum, que nunca vivi.”
ROBÉRIO KRAMMES
Produtor rural