As ações da Folha do Mate acabaram não ocorrendo de forma presencial neste ano de 2020, como foi nos últimos 13 anos. O Folha Cidadania, que se deslocava às comunidades promovendo serviços e atividades culturais não pôde ser realizado, assim como o projeto que previa ações de leitura em sala de aula por meio do Folheando.
Por outro lado, foi possível manter as atividades a distância, graças à compreensão dos patrocinadores e apoio das escolas que neste ano estiveram envolvidas, destaca a jornalista e coordenadora das propostas Jaqueline Caríssimi.
“Os patrocinadores deste ano Corsan, Lojas Bade, Soller, Unisc e Sicoob, mesmo não estando nas escolas de forma presencial como previa o projeto, toparam a ideia de se manter conectados conosco e, de forma alguma deixaram o projeto, assinando suas marcas nesta proposta da Folha do Mate, reforçando a credibilidade e a importância do Folheando e do Cidadania fortalecendo estas ações”, destaca. A publicação consistiu em dez edições especiais durante o ano.
Estiveram engajadas na proposta as escolas Estadual de Ensino Médio Mariante, Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro, Estadual São Luiz, de Santa Emília e Estadual de Ensino Fundamental Cristiano Bencke, de Centro Linha Brasil. No decorrer deste ano, a intenção foi de aproveitar ao máximo as edições impressas e fazê-las chegar até os estudantes por meio das redes sociais e da internet. Uma das parcerias foi feita com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Conforme o professor do curso de Comunicação Social da Unisc, Hélio Etges, a sequência da parceria entre os projetos Conexão Escola e Universidade: sujeitos, ações e saberes, da Unisc, e o Folheando foi a distância, “mas seguimos em frente com as adequações que se fizeram necessárias e conseguimos chegar ao nosso público, ajudamos professores e alunos de forma diferenciada e plantamos, com certeza, uma semente em cada um daqueles que nos acompanhou e usufruiu dos materiais publicados nas edições do Folheando”, destaca Etges, que integra o projeto da universidade nas escolas. O professor acrescenta que existe interesse em dar continuidade a esta proposta de trabalho em 2021.

(Foto: Divulgação)
RESULTADOS A DISTÂNCIA
A diretora da escola Estadual de Ensino Fundamental Cristiano Bencke, Raquel Schmidt, avalia que o ano foi de muito trabalho, novidades, aprendizagem, principalmente no uso das tecnologias e com muitas demandas a serem atendidas em pouco tempo. Um ano atípico em que a escola, equipe diretiva, professores, pais e alunos tiveram que se reinventar, com desafios diários, demandas infinitas e angústias no coração. “Lamentamos muito não ter ocorrido de forma presencial o Folheando devido à pandemia, pois assim a escola (alunos e professores) teria aproveitado bem mais as atividades e materiais oferecidos, porque estes momentos seriam oportunidades de vivências diferentes e únicas, acontecendo dentro da escola”, diz.
Mesmo assim, Raquel reforça que o Folheando, de uma maneira ou outra, teve efeito positivo. “Os alunos que buscam e querem construir seu conhecimento sabem fazer a diferença e ao interagir com o projeto, tiveram a oportunidade de expor suas ideias, usando sua criatividade e imaginação e ao mesmo tempo ampliam seus conhecimentos”, reforça a diretora.
Na Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro, a diretora Adriana Scheibler diz que sempre que possível, encaminhava as edições impressas recebidas pelo jornal, assim como as demandas pelos aplicativos, em especial pelo WhatsApp. Segundo Adriana, os professores e a direção estiveram incentivando os estudantes a encaminhar questões a Folha do Mate, a realizar as atividades propostas na edição impressa, foram utilizados trabalhos com reportagens do jornal.
“De um fato temos certeza: o processo de aprendizagem ocorrido no período foi de grande proveito e vai ficar marcado na vida de todos os envolvidos nos projetos.”
HÉLIO ETGES
Professor da Unisc
OPINIÃO
Pensar sobre como foi este ano que, nas escolas, ainda está longe do final?
Diria que a chegada da Covid foi como acordar em meio a um tsunami que trouxe à tona uma série de lacunas, de realidades ocultas, de oscilação emocional e profissional… Todas ainda sem clareza para um novo rumo.
Na vida profissional, onde atuo como gestora desde 2007, tivemos nas escolas toda uma projeção pedagógica interrompida e que exigiu de todos os profissionais envolvidos uma nova e assustadora realidade até então não vivenciada dentro do contexto escolar: reorganização de calendário por etapas, de aulas que passaram a ser no modelo assíncrono e virtual, domínio de novas plataformas educativas e a exigência do fator mais doloroso neste processo humano: o do afastamento social..
Indagações pedagógicas nos martirizam constantemente: Como lidar com a aprendizagem dos alunos a distância? Como dar condições iguais de aprendizagem a alunos que não dispõem de internet e nem de recursos tecnológicos em suas casas ou de transporte coletivo para vir à escola e buscar de forma impressa suas atividades? E como lidar com as famílias que se ausentaram da vida escolar, uma vez que escola e aluno distanciaram-se?
O ano, diariamente, está sendo de busca ativa aos alunos… através de todos os mecanismos existentes: plataformas, bilhetes, telefone, WhatsApp, Messenger, Facebook… com um único objetivo de alcançar o tripé educacional: acesso, permanência e sucesso escolar.
Acredito que nunca sentimos tão intensamente o que é isolamento social, mas antagonicamente, nunca estivemos tão intensamente em família, nunca curtimos tanto nossos filhos, nunca zelamos tanto por nossos pais e avós. E quando tive contato com o vírus em agosto, um medo assustador me invadiu, uma inércia diante de algo tão microscópico e que ainda põe em xeque todo o conhecimento adquirido pela humanidade, pois a cura não está sendo tão simples, sonhamos todos com a vacina que curará.
Os espaços públicos e privados de nossas vidas misturaram-se: tivemos que levar a escola para dentro de nossas casas e nossas casas para dentro das escolas e, com isso, criamos novos conflitos, aumento de ansiedade, sensação de improdutividade e de inércia diante de situações que fogem de nosso dever enquanto profissionais da educação…
Mas acredito que está sendo um ano de grandes conhecimentos, de resiliência pessoal e social, de oportunidades para reavaliar e buscar novas mudanças, de releitura pessoal e interior, da clareza de nossas mazelas sociais e da certeza que viver é uma incógnita infinita única e esplêndida…
ADRIANA INÊS SCHEIBLER
Diretora da escola Jubal Junqueira