Depois de 22 anos desde as primeiras ideias em torno do projeto, Venâncio Aires passa a contar, oficialmente, com um crematório. Foi nesta segunda-feira, 21, que técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e profissionais de uma empresa de análise de emissões atmosféricas, estiveram no cemitério Parque Jardim Bela Vista, das Organizações Kist, para acompanhar as primeiras cremações.
Mesmo que seja uma situação delicada, que envolve o sentimento da perda, se trata de uma novidade para Venâncio e região. Por isso, a reportagem viu parte desse trabalho para explicar como funcionará o serviço, que também vai abranger os municípios dos Vale do Rio Pardo e Taquari, Centro Serra e Região Central.
A fase inicial das atividades terá acompanhamento específico porque é necessário testar os equipamentos e analisar a emissão de gases resultantes do processo de cremação. Na prática, os técnicos da Fepam irão participar de 21 cremações de pessoas e 21 de animais, o que não tem um período específico para acontecer e pode durar pelos próximos dois meses. “Esse acompanhamento, depois que tivermos a licença definitiva para operar, acontecerá todos os anos”, destacou José Luiz Kist, proprietário do empreendimento.
Enquanto a Fepam acompanha os fornos, um equipe coleta o que sai das chaminés. E não é fumaça. “Como o calor desintegra as partículas sólidas, sai só o vapor e oxigênio purificado. Esse deve ser o resultado”, explicou o operador de campo da SJC Química, Deivid Brum.
Ontem, os profissionais acompanharam as cremações de uma pessoa e de seis animais de estimação. Esse número, depois que for liberada a licença definitiva de operação, vai aumentar. Conforme Kist, será possível realizar 20 cremações diárias (10 de cada).
Estrutura do crematório
O pavilhão onde ocorrem as cremações tem cerca de 400 metros quadrados. Por enquanto, há dois fornos crematórios (um para humanos e um para animais), mas há espaço para mais dois. Também há duas câmaras frias, para acondicionar os corpos antes da cremação. Atrás de cada forno, isolados por uma parede, ficam os motores de alta potência.
Também foi construído um prédio para recepção dos familiares. Do lado oposto, devidamente cercado, está um cilindro de 2 mil quilos de GLP, gás suficiente para 170 cremações. Ao lado, 200 placas solares de 400 watts. Para o serviço de cremação dos pets, José Luiz Kist também adquiriu um carro específico para buscar ou levar os animais.
Futuramente, a ideia é construir uma capela e um ‘auditório de despedida’ – quase 1,3 mil metros quadrados a mais. Até o momento, o investimento estimado para toda a estrutura já chegou a R$ 2,5 milhões.


Fornos
- Os fornos crematórios foram fabricados em Santa Catarina, mas parte da estrutura (queimadores) é importada da Alemanha. O maior deles (humano) tem cerca de nove toneladas. Ambos têm painéis elétricos que comandam as ações, ligadas por um tablet.
- O revestimento interno do crematório é de cerâmica. Enquanto o humano é aquecido através de Gás Liquefeito de Petróleo (o GLP de cozinha), o forno dos animais funciona através de resistências elétricas. Nos dois a temperatura pode chegar a 1.200 graus.
- Quando a temperatura chega a 860 graus, são inseridos os corpos, dentro dos caixões. Dessa forma, tudo é incinerado. Todo o processo da cremação varia entre 1h30min a 2h.
- No caso de humanos, as cremações são sempre individuais. Quantos aos pets, a quantidade depende do peso. Nessa fase inicial, a carga máxima é de 50 quilos. Assim, mais animais podem ser cremados ao mesmo tempo.
- No fim, as cinzas caem em um coletor e passam por um homogeneizador. Só então, são armazenadas em uma urna, que será entregue à família.
Valores
Em Venâncio, o valor da cremação de humanos será de R$ 2,8 mil para quem não tem plano funerário. Quanto aos pets, o custo deve variar entre R$ 500 (até 20 kg) e R$ 1 mil (grande porte).
Cinzas do Crematório
- Segundo José Luiz Kist, para quem utilizar o serviço no município, a orientação será para os familiares enterrarem as cinzas.
- No Cemitério Parque Jardim, além da sepultura tradicional, haverá outra possibilidade. “Temos um espaço onde será possível enterrar as cinzas junto de uma muda de árvore. Não haverá lápide e as cinzas ficarão dentro de um cilindro numerado. Ficará apenas a natureza.”
- O cemitério também conta com um memorial coletivo e gratuito, onde as cinzas são depositadas ‘soltas’ dentro de uma estrutura de dois metros de profundidade.
- Embora os processos que envolvem a cremação tenham normas determinadas, com licenças e autorizações específicas, o que os parentes podem fazer com as cinzas ainda gera dúvidas. Para algumas religiões, a sugestão é que elas sejam enterradas. Mas, no Brasil, não há uma única determinação que regre isso.
Parceria
Com a falta de espaço nos cemitérios do município, José Luiz Kist revela que levará uma proposta à Prefeitura. “Sabemos que existe uma dificuldade com a ocupação, então a ideia é oferecer o serviço de cremação, pensando no social, com um preço mais acessível ao Poder Público.” O valor, segundo ele, ficaria em torno de R$ 1,6 mil.