Por muito tempo, Marco Antônio dos Santos, 53 anos, plantou tabaco e tinha como profissão ser produtor rural, mas, depois de um ano difícil para o setor, ele resolveu mudar um pouco. Saiu de Linha Coronel Brito para morar na região urbana e começou a dirigir caminhão e ônibus. De lá para cá, já são quase 20 anos de profissão.
Acostumado a plantar quase tudo que comia, Boca, como é conhecido, mudou sua rotina em meados de 2001, quando saiu do interior para fazer habilitação de motorista para caminhão e ônibus. “Tivemos alguns anos ruins plantando, estava desgostado, então mudei para outra profissão.”
Mesmo atuando como motorista, ele enfatiza que o trabalho do colono também é essencial e observa que ambas profissões são puxadas e nem sempre valorizadas. “Eu não tive incentivo para continuar na roça, é algo que cada vez tem menos. No ramo de motorista, também percebemos a desvalorização, mas são dois serviços essenciais”, reforça Boca.
“O colono e o motorista prestam dois serviços essenciais, que é produzir e levar alimentos, além de transportar pessoas. São profissões que precisam ser mais valorizadas e reconhecidas pelas pessoas.”
MARCO ANTÔNIO DOS SANTOS – Motorista
Todos os dias, às 6h, Boca já está na estrada em direção à Vila Mariante, para rota que ele faz. Antes de ligar o ônibus no estacionamento da Viasul, no entanto, ele reza um ‘Pai Nosso’ e pede para Deus cuidar dele no trânsito. Ao fim do dia, agradece por estar tudo bem. “Eu tenho muita fé, sei que algumas ações na estrada, de pensar rápido e me livrar de coisas ruins, foram resultado das minhas preces”, afirma o motorista, que mesmo quando não está trabalhando, ora pela manhã.
Essa crença vem desde a sua primeira viagem de ônibus, quando buscou alguns trabalhadores na antiga empresa Andreza, em Santa Clara do Sul, pois com o nervosismo ele se ‘agarrou’ na fé. “Fui e voltei virado em olhos na estrada, tive medo de lidar com o povo, fazer algo errado nas paradas, pois com o caminhão era só eu, na ônibus são muitas vidas, mas graças a Deus deu tudo certo e logo peguei o jeito.”
Na rotina de trabalho, histórias marcantes e amizades
Todos os dias, Boca tem histórias para contar. Em Mariante, já é conhecido pelas pessoas, sabe o horário dos passageiros, ajuda-os e tem um ótimo convívio. “Quando alguém que vem todos os dias trabalhar vai entrar em férias, me avisa. Se vai se atrasar uns minutos, me manda um WhatsApp e também quando não vai, avisa que não preciso me preocupar e esperar. É costume, porque, quando sei que alguém sempre vai e não está na parada, eu espero um ou dois minutos, pois ela pode estar chegando e, se perder o ônibus, perde a hora de chegar no serviço”, relata.

Por isso, em quase duas décadas de trabalho, ele já vivenciou muitas coisas, boas e ruins. Entre as histórias, ele recorda de quando uma mulher e a filha sofreram tentativa de feminicídio e pegaram o ônibus para a cidade.
“Era uma conhecida, entrou correndo no ônibus e eu percebi que estava chorando. Deu uns minutos e ela veio me falar que o companheiro tinha tentado matá-la, mas o tiro pegou de raspão na criança. Então, pediu para que eu andasse mais rápido. Eu fiquei nervoso, liguei para o escritório para chamar ajuda. No caminho, a ambulância e a polícia nos encontraram e ampararam elas, tudo correu bem”, lembra, emocionado.
Também houve outras vezes que o motorista prestou auxílio para a comunidade, levando pessoas direto ao hospital, ajudando a carregar sacolas e bicicletas. “Sempre que posso, ajudo. Já colocamos cadeiras, máquina de lavar roupa, televisão e outras coisas no bagageiro, porque algumas pessoas dependem do transporte de ônibus para tudo, então tento sempre ajudar.”