Quase um mês após iniciar as chuvas que resultaram na maior enchente da história do estado e que causaram inúmeros deslizamentos de terra, seguem os trabalhos para desobstruir estradas e avaliar estragos no interior de Venâncio Aires. No sábado, 25, uma equipe do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) esteve no município e percorreu algumas localidades onde houve deslizamentos e desmoronamentos.
A equipe do professor doutor Masato Kobiyama, que integra o Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais do IPH, inspecionou pontos no interior, principalmente nas Linhas Arroio Grande, Sexto Regimento, Andréas, Cachoeira e América. Essas vistorias foram acompanhadas por integrantes da Prefeitura de Venâncio e da Emater. “Eles vieram ao município depois que alguns membros das secretarias e Defesa Civil de Venâncio participaram de um treinamento organizado pelo Governo do Estado na Univates, dia 15 de maio, numa capacitação sobre avaliação e monitoramento de movimento de massas do tipo deslizamentos”, explicou Rodrigo Garin, coordenador da Patrulha Agrícola.
Quem também esteve nesse curso e acompanhou a vistoria do fim de semana é o engenheiro de Minas da Prefeitura de Venâncio, Carlos Alves. Sobre a inspeção no sábado, o profissional destaca que foram identificados alguns deslizamentos desencadeados devido ao elevado volume de chuva em uma fração muito curta de tempo. “Pelo que identificamos, em conversa com os moradores, os deslizamentos ocorreram entre os dias 30 de abril e 1º de maio, justamente o dia em que houve a maior precipitação. Como a região serrana possui um aclive acentuado e a chuva foi muito intensa, o solo ficou saturado de água, passando a adquirir uma caraterística mais fluida vindo a causar esta série de deslizamentos”, explicou Alves.
Ainda conforme ele, neste momento o trabalho é de orientação aos moradores que se encontram em área de risco. “Onde foram identificadas rachaduras em solo, inclinação de árvores e fluxo de água nos taludes, os moradores devem buscar lugar seguro e comunicar a Prefeitura para avaliação. No último sábado, visitamos alguns pontos com problemas, incluindo os quais a Prefeitura já fez a recuperação de estradas que estavam bloqueadas ou que caíram.”
A reportagem contatou a equipe do professor Masato Kobiyama, que preferiu falar somente depois de analisar melhor a situação. Os especialistas devem retornar a Venâncio ainda nesta semana. Assim como na Capital do Chimarrão, os profissionais já vistoriaram pontos em outros municípios da região, avaliando estabilidade do solo, erosão e áreas potenciais para movimento de massas, usando técnicas de análise geológica. O objetivo é elaborar um plano de prevenção e segurança para os moradores dessas áreas.

Comparação com Bento Gonçalves
O coordenador da Patrulha Agrícola, Rodrigo Garin, comenta que, assim que os especialistas do IPH conseguirem voltar a Venâncio, a ideia é levá-los em pontos das Linhas Leonor, Julieta, Marmeleiro, da Serra e Cachoeira Baixa. Garin revelou ainda que o cenário no município assustou o professor Masato Kobiyama. “Ele ficou pasmo com o que viu no interior, devido à formação geológica, que tem características como da serra gaúcha. E um dos lugares com mais riscos fica em Bento Gonçalves e o professor achou nossa região com características idênticas a Bento.”
“O que mais me impressionou foi o dano causado por alguns deslizamentos. Houve pontos em que uma grande massa de solo foi movimentada causando danos nas estradas e na mata. O que impressiona também é a extensão dos deslizamentos e a quantidade de ocorrências.”
CARLOS ALVES – Engenheiro de Minas da Prefeitura
Capatazias seguem com reparos em estradas
Enquanto o tempo não ‘firma’ para valer, equipes das capatazias do interior de Venâncio Aires seguem nos trabalhos de desobstrução de estradas e reparos em vias com os chamados borrachudos (quando o solo está muito úmido e, compactado, levanta para o lado).
Segundo o coordenador das capatazias, William da Silva, na última semana os trabalhos se concentraram nos deslizamentos em Linha Cachoeira Alta, Alto Sampaio, Vila Deodoro e Linha Marechal Baixo (onde o trânsito segue em meia pista). “Todas as capatazias atuaram nos reparos de inúmeros borrachudos. As capatazias da Estância e do Mariante, quando puderam trabalhar, estavam colocando material no desvio entre a ERS-130 e a Picada Mariante. Assim que o tempo firmar, iniciaremos a recuperação das estradas em todas as regiões. Mas ainda não conseguimos dar sequência de patrolamento, porque não seca. É uma chuva atrás da outra”, comentou Silva.
