Leocádia: Recordações do tempo que não havia luz e água encanada no bairro São Francisco Xavier

-

Albino Agnes, ela veio morar na cidade, desde então, já se passaram 66 anos. A dona de casa aposentada, Leocádia Maria Agnes, 85 anos, mora no bairro São Francisco Xavier. Natural de Grão-Pará, vinda de uma família de nove irmãos, dos quais dois falecidos, dona Leocádia recorda: “Somos entre sete, mas éramos nove, mas dois faleceram, o Flávio e Otávio, um tinha 11 dias e outro três anos. Daí ficaram o Nestor, Inácia, Marina, Silvia, Ermina, Rufino e eu”, conta ela que seguiu a tradição de ter uma família ‘grande’. Leocádia tem seis filhos e ficou viúva há dez anos.

A filha de Olívia e Eugênio Schlosser, recorda que conheceu o falecido marido Albino nos bailes da época, namorou, casou e o acompanhou para morar na cidade. O casamento foi na igreja Matriz São Sebastião Mártir e a festa em Grão- Pará. “Naquela época (1954) aqui era chamada de ‘campo’, não tinha nome. O meu marido era daqui, compramos as terras do sogro e construímos uma casinha de madeira bem bonitinha. Depois fizemos aqui (onde mora hoje).

Quando a Iara fez 15 anos festejamos o aniversário dela nesta casa”, lembra.
Ela conta que o marido e os irmãos tinham uma olaria, mas com o tempo não deu muito certo. “Então meu marido perguntou, o que a gente iria fazer? Daí começamos a plantar na roça e tínhamos umas vacas. Começamos a tirar leite e vendíamos leite, entregávamos nas casas de manhã e de noite”, conta Leocádia.

Inclusive, a última vaca que ainda estava na estrebaria, foi vendida neste ano. Temos ainda só algumas galinhas”, lamenta a aposentada que disse que sente falta de tirar leite e cuidar das vacas. Com a ajuda dos filhos que já estavam maiores, faziam nata, keschmia, queijo e outros produtos com o leite. Vendiam em média 100 litros por dia.

ESCADINHA NASCIDA EM CASA

Leocádia mostra a foto dos filhos pequenos, na frente da primeira caminhonete da família e uma foto dela, de 2015, com os filhos já adultos: Iara, Mauro (falecido),Yolanda, a mãe Leocádia, Roni, Ieda e Milton
Leocádia mostra a foto dos filhos pequenos, na frente da primeira caminhonete da família e uma foto dela, de 2015, com os filhos já adultos: Iara, Mauro (falecido),Yolanda, a mãe Leocádia, Roni, Ieda e Milton

Leocádia e Albino tiveram seis filhos e a maioria reside com suas famílias em torno da casa onde foram criados, no bairro São Francisco Xavier. Mauro 65, que faleceu no ano passado, Milton, 64 anos, Roni, 63 anos, Yolanda, 62 anos, Ieda, 60 anos, Iara 57anos. “O Roni era bebê de colo ainda quando nasceu a Yolanda, conta Leocádia que admite que teve uma ‘escadinha’ de filhos.

O mais velho e a filha mais nova nasceram no hospital e os demais com auxílio de parteira, em casa. “Quando fui ter o meu filho mais velho, disseram que eu tinha que ir pro hospital, por que era o primeiro filho. No último filho, a mais nova, um tempo antes, minha cunhada havia falecido no parto, então, a fui ter no hospital, mas os outros todos foram em casa”, diz Leocádia, que afirma que os partos mais difíceis foram no hospital. Todos de forma natural tiveram auxílio de dona Mariha Kuhn, a parteira da época. “Ela vinha até na casa, fazia parto dava tudo certo e ela ia embora”, conta.

Dona Leocádia conta que passou muito trabalho quando os filhos eram pequenos. Não havia luz elétrica e nem água encanada e por consequência não tinha fogão, geladeira. “Pra esquentar o leite de madrugada já tinha que deixar os gravetos prontos separados para não demorar muito”, conta ela que arrumava as ‘trouxas’ e levava os filhos todos juntos para roça. “Na várzea (arroio Castelhano) as crianças iam tudo junto. Os guris adoravam ir pra lá, pra poder tomar banho no Castelhano”, recorda. Ela conta que à tardinha, depois da roça, deixava as roupas separadas na cama e o filho mais velho ajudava a dar o banho nas crianças, enquanto ela ia tratar os bichos, afinal eram seis filhos. O marido quase nunca estava, pois viajava de caminhão. “Hoje, quando as gurias, as minhas netas, às vezes, reclamam eu digo: Tudo passa na vida”, aconselha.

Leocádia fala da dedicação e da ajuda que os filhos sempre deram à família. “As crianças iam para a escola no Aparecida e na ida levavam o leite para quem encomendava. Frio que era, esquentava a cozinha, tirava leite e às 15 para as 8 horas da manhã eles tinham que estar na escola e antes disso entregar o leite na cidade, para dr. Granja e para o Lenz, e eles faziam, levavam o leite e depois iam para a escola, todos os dias, e pior era quando chovia”, lamenta a mãe que ainda demonstra o mesmo carinho da infância pelos seis filhos, hoje quase todos sessentões.

“Depois quando as gurias ficaram grandes, a Ieda tinha uns 14 anos, ela ia junto com pai de caminhoneta para entregar o leite, mas a condição era o pai deixar ela dirigir (risos). Ela chegava ali, perto do cemitério e pedia pro Albino pra ser a motorista” (risos)

OS ACONTECIMENTOS

As lembranças estão nos porta-retratos da família
As lembranças estão nos porta-retratos da família

Questionada sobre o que de bom aconteceu durante os 66 anos que mora no bairro, dona Leocádia fala do nascimento dos filhos, dos vizinhos bons. “Não posso me queixar, a gente teve uma vida boa. Jovens gostavam de vir, eles faziam as festas deles aqui. A gente passou muito trabalho, mas o mundo evoluiu”, conta ela que conheceu praia depois dos 40 anos e, agora, sua preferência é viajar. Leocádia conta que gosta de ir nas águas termais, na praia de Garopaba na casa da filha Iara. Com vitalidade destacada, dona Leocádia diz que a comida diária em casa é ela quem faz.

“Eu varro a área, lavo a louça do café. Vontade nunca me falta. Só não posso por causa das dores nas pernas, em função de duas cirurgias que fiz. Quase todo dia da semana eu caminho com a filha Yolanda”, ressalta. Por outro lado, diz que gostaria de poder fazer muito mais em casa em relação aos trabalhos, como sempre foi acostumada a fazer.

Oferecido por Taboola

    

Destaques

Últimas

Exclusivo Assinantes

Template being used: /bitnami/wordpress/wp-content/plugins/td-cloud-library/wp_templates/tdb_view_single.php
error: Conteúdo protegido