Faleceu nesta semana a venâncio-airense Jonia Terezinha Fank, aos 57 anos. Talvez muitos moradores da Capital do Chimarrão não a conheceram, mas ela teve um trabalho relevante relacionado ao estudo e à valorização das culturas indígenas Brasil afora. Jonia dedicou mais de 30 anos da vida ao indigenismo, atuando no Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e na Operação Amazônia Nativa (OPAN).
Segundo o irmão, Sérgio Fank, Jonia descobriu um câncer de mama há cinco anos e o tratou. No entanto, há cerca de um ano, a doença voltou. “Ela estava morando no Rio Grande do Norte e aí decidiu se tratar no Sul”, contou o irmão. Jonia faleceu na terça-feira, 26, no Hospital de Caridade Sant’Ana, de Bom Retiro do Sul, município onde ela estava morando com a mãe, Virena. O velório dela aconteceu em Venâncio Aires e foi cremada.
Sérgio Kank lembra que a irmã, desde a adolescência, participava dos grupos de jovens de Linha Herval, de onde a família é natural, e também da Pastoral da Juventude em Venâncio Aires. Nessa época recebeu um convite de Teresinha Weber, também venâncio-airense e que por décadas atuou como missionária, trabalhando com povos indígenas. Desde então, se dedicou ao indigenismo.
A morte de Jonia também foi lamentada pelo Governo Federal, que através da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), emitiu uma nota de pesar. “Seu trabalho incansável e compromisso deixará uma marca em todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. A Funai lamenta a perda e se solidariza com os familiares e amigos, neste momento de profunda tristeza”, diz a nota.
Histórico
De acordo com informações do site da Operação Amazônia Nativa (OPAN), Jonia se engajou nas lutas sociais desde muito cedo, atuou na Pastoral da Juventude em Venâncio Aires e, em 1989, foi convidada por Teresinha Weber e Gunther Kroemer para a equipe de trabalho com o povo Suruwaha, no sul do Amazonas.
Fez o curso de formação do CIMI e, em 1990, passou a compor a equipe que implementou o Projeto Suruwaha, programa de ação indigenista e de proteção ao território desse povo de recente contato, que constituiu os primeiros e mais consistentes materiais etnográficos sobre os Suruwaha até então. Na OPAN, Jonia dedicou-se também à gestão do convênio entre a OPAN e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que atendeu de 1999 a 2010 os povos Enawene Nawe, Myky e Manoki, no noroeste de Mato Grosso.
Como secretária-executiva do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), foi uma das organizadoras do Projeto Mato Grosso Sustentável e Democrático, realizado nos anos 2000, para levantamento de dados e monitoramento da sustentabilidade e da democracia no estado, cujos resultados foram publicados em 2006 em artigos sobre agricultura, mineração, recursos hídricos, áreas protegidas e educação ambiental.
Mudou-se para Castanhal, no Pará, onde atuou como professora e, em 2016, retornou para a sede da OPAN em Cuiabá como gerente financeira. Em 2018, assumiu a liderança do setor e neste cargo permaneceu até o final de 2020. Em 2021 e 2022, foi diretora-tesoureira da OPAN.
Conforme texto publicado pela OPAN, “são inúmeros os relatos de companheiros que foram acolhidos por Jonia na sua chegada à instituição. Junto com outros colegas gaúchos, era figura certa nas rodas de chimarrão na sede da OPAN, em Cuiabá, todas as manhãs. Filha de Virena e Sebastião, irmã de Sérgio e Alfeu e tia de Elvira, Rafael e Murilo, Jonia deixa o legado de alguém que, com determinação e espírito livre, conquistou aquilo que almejou, sem perder a esperança e a coragem.”
