“Ainda se faz uma política de inimizades e durante muito tempo se estigmatizou a parceria entre o público e o privado. Isso gerou um atraso para o Estado. Mas precisamos acreditar que, com cooperação e parcerias institucionais, também se ganha.”
As palavras foram ditas pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na manhã da última terça-feira, 20, quando o trevo Fritz e Frida, em Santa Cruz do Sul, foi palco da formalização da primeira concessão do atual governo estadual. Foi no município vizinho de Venâncio Aires que aconteceu a assinatura do contrato que concedeu a RSC-287 à iniciativa privada.
Na prática, a partir de agora, a rodovia que também corta Venâncio, sai das mãos da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) e será administrada por uma empresa. Ao Estado caberá regular e regrar, mas tudo que for investimento será gerido pela Rota de Santa Maria, que vai administrar a concessão para o grupo espanhol Sacyr, que é o acionista.

Segundo o diretor da concessionária Rota de Santa Maria, Renato Bortoletti, os primeiros meses serão para mexer em pontos mais críticos (tapar buracos, recapear e reforçar a sinalização com placas e ‘olhos de gato’). “Em até 30 dias, devemos assinar o Termo de Arrolamento dos Bens da Rodovia. A partir daí começa a prática, que inclui a operação das praças de pedágio de Venâncio Aires e Candelária”, explicou. Dessa forma, será a partir do fim de agosto que a tarifa deve mudar. A tendência, conforme Bortoletti, é que o valor (sempre reajustado pelo IPCA), saia dos atuais R$ 7 e fique entre R$ 3,70 e R$ 3,80.
Recursos
Se por um lado a tarifa vai diminuir, o número de praças vai aumentar e haverá mais três que irão funcionar futuramente (Tabaí, Paraíso do Sul e Santa Maria). Essa ‘compensação’, segundo Renato Bortoletti, é importante para a empresa e o usuário. “Vai ter uma rodovia de qualidade com preço acessível, então a tendência é aumento do fluxo. Hoje aquele motorista que pega uma estrada esburacada para desviar, vai ver que não vale mais a pena”, argumentou. Os recursos arrecadados nas praças, conforme a concessionária, serão importantes para a custear obras de melhorias e a tão reivindicada duplicação.

Duplicação deve começar em 2024
Considerada problemática por lideranças políticas e usuários, uma das maiores reivindicações de quem passa pela RSC-287 sempre foi a duplicação. A medida, aliás, foi apontada há alguns anos pelo Plano Estadual de Logística e Transportes como necessária para evitar, conforme o estudo, um ‘colapso’ no trecho entre Tabaí e Santa Cruz. Ou seja, Venâncio Aires – no meio do caminho – sempre foi uma espécie de ‘olho do furacão’.
Os pedidos ganharam mais força depois do ‘Duplica 287’, movimento iniciado em agosto de 2018 por entidades empresariais do Vale do Rio Pardo. Na época, ainda quando Eduardo Leite estava em campanha eleitoral, já havia se comprometido com lideranças regionais. Já nos primeiros dias de mandato, em 2019, o governador confirmou que a concessão (caminho para tentar viabilizar a duplicação) estava ‘consumada’.
A promessa da empresa é que a obra vai sair do papel. Na previsão de investimentos, serão 204,5 quilômetros de extensão entre Tabaí e Santa Maria, mas ela só deve começar no chamado ‘ano 3’ da concessão. Conforme Renato Bortoletti, é provável que seja a partir de 2024.
R$ 2,7 bilhões – é o que prevê o contrato em investimentos nos próximos 30 anos
O que dizem os usuários da RSC-287

GILSON KAUFMANN
Caminhoneiro, que percorre cerca de 140 quilômetros diariamente na RSC-287

ROGÉRIO DA SILVA
Gerente de um restaurante na beira da rodovia

EDERSON STAUB
Proprietário de uma revenda de insumos agrícolas na RSC-287

DIONÍSIO FONTOURA
Aposentado, mora há 12 anos à margem da rodovia
Impulso para outros investimentos
A opinião de usuários e de quem trabalha junto à RSC-287, é que uma estrada em melhores condições pode ser um atrativo para mais investimentos. A questão também foi abordada pelo governador Eduardo Leite. “São seis milhões de veículos que passam por ano. Se tiver estrutura, será um impulso para outros investimentos. Boa logística, maior fluxo e mais empresas.”
Ao encontro disso, o prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, que participou do ato de assinatura do convênio em Santa Cruz do Sul, lembrou da localização dos distritos industriais do município. “É importante pela estrutura e pela logística, porque somos um dos municípios com a maior extensão [cerca de 37 quilômetros da 287 cortam o território de Venâncio]. Os dois distritos têm acesso pela rodovia e, com certeza, ter a estrada em condições vai ser um atrativo a mais, além da segurança, que é prioridade.”
“Esse modelo de concessão já existiu no passado e precisamos evoluir, pelo compromisso com uma rodovia fundamental para a economia. Tem muita carga que passa pela 287, no caminho para a Argentina e Chile. É um corredor importante para o desenvolvimento do Estado.”
EDSON BRUM – Secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul“É um momento histórico que o Estado resgata um pouco do passado, retoma o que deveria ter continuado e olha para o futuro. O Estado volta a ter uma parceria privada administrando uma rodovia, com capacidade técnica, financeira e conhecimento. Nós temos que enxergar que esse é o modelo do futuro.”
LEONARDO BUSATTO – Secretário extraordinário de Parcerias do Rio Grande do Sul