Cerca de R$ 110 milhões para investir nos próximos 15 anos. Essa é a estimativa (considerando valores atuais) de custo e de tempo da Prefeitura de Venâncio Aires para deixar as obras de pavimentação no município dentro de um patamar considerado, no mínimo, adequado.
Nesse pacote estão contabilizadas apenas obras que estão em vias de sair do papel ou ainda no campo da ideia. Entre elas, a pavimentação de trechos em 10 bairros, da Estrada Velha para Santa Cruz, do acesso ao Frigorífico Boi Gaúcho e aquelas necessárias para recuperar o que já se tem. “Temos essa passivo na infraestrutura, uma demanda muito grande. A população solicita, mas a Administração tem um limite financeiro”, mencionou o prefeito Jarbas da Rosa.
Embora algumas obras contem com recursos do Estado, mais de 90% delas dependem de financiamentos feitos pelo próprio Município. Entre elas um convênio firmado ainda em 2018 para pavimentar ruas em 10 bairros. O projeto foi dividido em quatro lotes e, até o momento, um deles está concluído, entre o Bela Vista e o Santa Tecla.
Com investimentos de mais de R$ 3 milhões, essa primeira parte contemplou 2,4 quilômetros em trechos de sete ruas, como na rua Aurino Guterres de Carvalho, onde mora a dona de casa Adriana Wagner Guterres, 48 anos. “O maior problema sempre foi a poeira e os buracos. Querendo ou não, o asfalto traz um conforto pra gente, além de valorizar o bairro e os terrenos”, comentou.
Da porta de casa, ela já observou aumento no movimento de veículos e, por isso, deixou uma sugestão: que sejam construídos quebra-molas para conter a alta velocidade.

Lotes
A dona de casa e outros moradores próximos estavam incluídos no chamado lote 2 do projeto, contratado com o Banco de Desenvolvimento da Região Sul (BRDE). Para os outros três que faltam, serão mais R$ 11 milhões em investimentos via Caixa Federal. A substituição do agente financiador foi feito pela Prefeitura em maio de 2021, na tentativa de economizar com juros.
O financiamento em questão será para pavimentação de trechos nos bairros Gressler, Aviação, Brígida, Cruzeiro, Bela Vista, Santa Tecla, Leopoldina, Universitário, Cidade Alta e Coronel Brito. A obra também prevê drenagem, compactação do solo, canalização e passeio público.

Expectativa
Enquanto Adriana comemora a chegada do asfalto, há quem está prestes a vê-lo na frente de casa. Morando há 50 anos na chamada Estrada Velha para Santa Cruz do Sul, entre a Bela Vista e a Linha Hansel, Alcerino Carvalho, 81 anos, segue na expectativa. “Não é exagero, mas já perdi as contas de quantas vezes vieram aqui medir. É como dizem, o dono do salão muda, mas o baile é o mesmo”, opinou o agricultor aposentado, sobre a demanda que já passou por mais administrações.
Carvalho resumiu ainda o que significou a confirmação de um financiamento de R$ 12 milhões, via Badesul, para asfaltar 4,7 quilômetros. “Vai ser bom para todos.” A opinião também é compartilhada pelo vizinho, Luiz Alberto Werlang, 56 anos, que mora na região desde 1995. “Muito se fala que é só uma demanda local, mas vai beneficiar toda a cidade. É assim que penso: uma obra precisa ser boa para todos e essa aqui vai mudar a logística de muita coisa em Venâncio.”
Urbano
Além de projetar 50 quilômetros com novas pavimentações, a Prefeitura programa um trabalho de recuperação de ruas centrais e nos bairros. Só aí a estimativa é de investimentos de R$ 25 milhões.

O ‘peso’ do asfalto para o desenvolvimento industrial
Na ordem das prioridades de Jarbas da Rosa, está a continuidade do chamado PAC dos Frigoríficos, cuja proposta inicial, ainda no governo Airton Artus (2009-2016), era asfaltar estradas de Vila Santa Emília, Linha Sapé, Vila Estância Nova e Vila Mariante, onde estão quatro frigoríficos.
Em Santa Emília, o asfalto foi concluído em 2016 e, agora, a expectativa é pelo término na estrada principal de Sapé (obra iniciada em 2019, no governo Giovane Wickert). Para Mariante, o anúncio da garantia do recurso aconteceu há poucos dias (R$ 3,4 milhões através do programa Pavimenta). Dessa forma, considerando o fator ‘dinheiro’, a busca é por cerca de R$ 10 milhões para um trecho de 5 km na Estância Nova – o acesso à Granja Avícola Bom Frango, de Linha Picada Nova.
“São investimentos a médio e longo prazo, que ‘se pagam’ com o tempo. Porque o asfalto chegando a determinadas indústrias, a empresas ‘âncoras’, se cria um ambiente favorável para ajudar no desenvolvimento de toda a localidade”, avalia o prefeito.

Essa ajuda também foi referida por Fábio Kroth, diretor do Frigorífico Kroth, de Vila Santa Emília. Segundo ele, ainda em 2009, a empresa projetava triplicar de tamanho e faturamento durante um período de 10 anos, o que já foi alcançado. “Sem o asfalto, teria sido mais difícil. Então isso ajudou no desenvolvimento da empresa”, comentou.
Ainda conforme Fábio Kroth, além de melhorar a logística diária dos funcionários, melhorou a imagem do frigorífico em relação a empresas terceirizadas e a clientes de casas de carnes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Hoje eles chegam na cidade e não percorrem mais uma estrada com pó ou barro. Isso é importante para todos, mas para nosso segmento, é fundamental.”
Decisivo
A importância da infraestrutura para o desenvolvimento industrial também é reconhecida por Junior Haas, proprietário da Haas Madeiras. Ele explica que, desde a década de 1990, quando a empresa decidiu investir novamente no Rio Grande do Sul, a falta de pavimentação na ERS-422, entre Linha Arroio Grande e Linha Brasil (onde está a empresa), já era um problema.
“Frente aos projetos que tínhamos para executar, esse era um gargalo muito grande. Veículos sujos e uma imagem ruim para clientes, além do custo de manutenção e tempo de deslocamento. Então no momento que houve essa mobilização maior, foi uma alegria muito grande. Isso deu mais força.”
Haas revela ainda que, antes da obra (anunciada em 2010 e concluída em 2013), a transferência de município foi cogitada. “Para nós, que estamos no interior, o asfalto foi decisivo para permanecer, crescer e ainda com planos no futuro.” Nos últimos 11 anos, a Haas Madeiras cresceu 148%.
Anel viário
Junior Haas, que também é vice-presidente da Indústria da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva), destacou ainda o que considera uma carência em Venâncio. “Falta um pouco de audácia em pensar em fluxos, especialmente para grandes veículos. Venâncio não tem um anel viário e não tem planejamento para os próximos anos de como esse fluxo vai funcionar na cidade. Sugiro que seja pensada essa alternativa.”
Perspectiva
Das obras previstas, existe uma outra que está projetada há mais tempo, mas para sair do papel provavelmente dependerá de mais um financiamento: o capeamento da Avenida Ruperti Filho. Até o fim do ano passado, havia a expectativa de vê-lo dentro do pacote do Pavimenta, mas ficou de fora. Segundo o prefeito Jarbas da Rosa, seriam necessários R$ 2 milhões.
Já entre aquilo que ainda está na perspectiva e na ideia da Administração, está a pavimentação de mais ruas no atual Distrito Industrial e do novo em Vila Estância Nova. “Uns R$ 5 milhões para terminar um e começar o outro”, resumiu o prefeito.
Jarbas também destacou o acesso às sedes dos distritos no interior. Seriam R$ 6 milhões para Vila Arlindo (3 km), R$ 6 milhões para Centro Linha Brasil (3 km) e R$ 10 milhões para Vila Teresinha (5 km). “Os centros dessas sedes já têm asfalto, mas precisamos pavimentar os trechos que dão acesso até as localidades”, justificou.
Outro exemplo são os 7 km na ERS-422, entre Linha Brasil e Vila Deodoro, avaliados em R$ 20 milhões. Conforme Jarbas, o alto custo não é somente pelo asfalto. “Essa é uma obra grande de engenharia, que prevê detonações. Tudo depende da largura do trecho, do tipo de terreno. São situações que vão encarecendo o projeto.”