Em 60 anos, muita coisa muda. Para jovens recém-saídos da escola, seis décadas atrás, este foi o tempo de formar família, consolidar uma carreira profissional e se aposentar. Mas uma coisa não mudou para um grupo de venâncio-airenses que segue unido desde 1954: a amizade. Nesta quarta-feira, 19, o Real Associativo de Desportos completa seis décadas. Para registrar esta história, a Folha do Mate apresenta este conteúdo especial sobre o Real, que já foi time de futsal e segue como um grupo de 22 amigos com encontros periódicos e sede própria no Parque Municipal do Chimarrão.
O início, sob a sombra de uma goiabeira
No verão de 1965, de forma despretensiosa, um grupo de adolescentes de Venâncio Aires deu início a uma história de esporte, amizade e integração. Foi em um passeio de bicicleta, sob a sombra de uma goiabeira, em Linha Madalena, no interior do município, que surgiu a ideia do Real.

Entre eles, estavam amigos já de longa data, colegas de aula desde o jardim da infância, que recém haviam completado os estudos no Colégio Nossa Senhora Aparecida. “Cada um tinha a sua equipe de futebol no colégio. Em 1964 nos formamos e começamos a reunir no Clube Comercial [atual Clube de Leituras] e aí surgiu a ideia”, relembra João Alceu Bogorny.
A criação da associação foi oficializada à noite, em uma janta na casa de Hilário Reinaldo Dillenburg. Assim, surgiu o Real Associativo de Desportos, inicialmente chamado de Real Associativo Máfia – nome alterado ainda no primeiro ano de atividades.
Ao longo das últimas seis décadas, o Real chegou a ter 75 integrantes. Atualmente, são 22 amigos que seguem fiéis e atuantes ao grupo. Dos fundadores, seguem na ativa Hilario Reinaldo Dillenburg, Erni Kunkel, Mauro João Alles, João Alceu Bogorny, Altair Schwendler e Joaquim Roberto Henn (atual presidente). O primeiro presidente do Real foi José Carlos Henn, o Guaíba, falecido recentemente. “Em homenagem a meu irmão, que foi fundador, recebi o encargo de ser presidente neste momento tão importante, nos 60 anos do Real”, destaca Joaquim Henn, 76 anos, em referência a Guaíba.
Fundadores do Real
Participaram do encontro que deu início ao Real: Juarez Ribeiro Rosa, Jader Ribeiro Rosa, Hilário Reinaldo Dillenburg (Rabanete), Mauro João Alles (Amarelão), Luiz Carlos Krelling (Gringo), Flávio Barden, Albano Irineu Becker (Baninha), José Francisco Schmidt (Chico), Renê Schwengber, Erni Kunkel (Kanica) e João Alceu Bogorny (Ceceu). Também foram fundadores José Carlos Henn (Guaíba), Joaquim Roberto Henn (Juca), Hélio Schmitz, Heitor Happe, Joel Nervo, Celso Valdir Schultz, Hugo Büllow, Seno Bergmann, Adroaldo Klein, Luiz Carlos Lopes (Calanga), Roni Schwengber e Bayard Klein.
Nos primeiros anos, destaque no futebol de salão
O time do Real passou a disputar competições municipais e regionais, com jogos em cidades como Lajeado, Estrela, Taquari, General Câmara e Santa Cruz do Sul, e se notabilizou no cenário esportivo. Em 1967, chegou a organizar um torneiro regional de futsal, competindo com times como AA Capet e G.A Diamante, de Lajeado, G.A. Bancário de Candelária, C.A. São José de Monte Alverne, e G.A. Barroso, de Venâncio Aires.

Apesar de ter sido a principal motivação para o Real, o time de futebol de salão durou apenas cerca de 6 anos. O suficiente, no entanto, para garantir histórias contadas, até hoje, pelos membros do grupo.
Entre as lembranças citadas pelos remanescentes da época estão o primeiro jogo em uma quadra de parquet, em Lajeado (em Venâncio Aires a quadra era de concreto), e uma partida contra radialistas da Guaíba, de Porto Alegre, realizada em Venâncio Aires, em 1971, quando os atletas do Real foram presenteados com uma série de discos dos comunicadores da Capital.
Em Venâncio Aires, o grande rival foi o Barroso, lembrado até hoje pelos integrantes do Real. “Dentro de quadra, éramos grandes rivais, mas sempre nos demos muito bem”, relembra Hilario Dillenburg.
“Meus irmãos são a turma do Real”

Hilario Dillenburg, 79 anos, o Rabanete, é um dos fundadores do Real e um dos participantes mais ativos. Foi ele o responsável pela organização do histórico do grupo, com a relação de todos os presidentes, atas e registros dos tradicionais acampamentos e demais eventos. “Somos um grupo muito organizado. Temos história e regras. Seguimos as mesmas desde o início. Respeitamos muito um ao outro. Quem é do Real não sai por qualquer coisa”, afirma o contador aposentado.
Diferente da maioria dos integrantes do grupo, ele não é natural de Venâncio Aires, mas sim de Estrela. A família se transferiu para a Capital do Chimarrão quando ele tinha 17 anos, em razão do trabalho do pai, bancário. “Meus irmãos são a turma do Real. Eles são minha família”, define Dillenburg, que tem 79 anos.
Junto ao amor pelo grupo e um histórico bem organizado com relações de todas as diretorias, atas de regiões e registros das datas e locais de todos os acampamentos, ele guarda outra relíquia: o coturno de couro usado no Serviço Militar, em São Leopoldo, em 1964, e nos jogos pelo Real, nos anos seguintes, quando ocupava a posição de zagueiro.
Encontros embalados pelo lema “fazer amigos”
Se o foco principal do Real Associação de Desportos, nos primeiros anos, era o futebol de salão, com o passar do tempo, foram as atividades de integração que se consolidaram como marca do grupo, que tem como lema ‘fazer amigos’. Ao longo do tempo, o Real promoveu diversas atividades sociais no município, como reuniões dançantes e jantares de casais. “Hoje o Real é só aproveitar a vida. Confraternizar”, define o professor aposentado Erni Kunkel, 77 anos. Os encontros ocorrem, em geral, uma vez ao mês, e incluem os já consagrados Schweinfest, Xixofest e Encerramentfest.

O principal evento é o tradicional acampamento, realizado uma vez por ano, em março. A edição deste ano está marcada para os dias 14 e 15 de março, na sede do Real, no Parque do Chimarrão. Desde que o grupo conquistou a sede própria, ela passou a ser o endereço ‘oficial’ do acampamento, que sempre começa na noite de sexta-feira – com direito a barracas, chope e música – e se estende ao longo do sábado, quando há a presença de esposas, filhos e demais convidados dos integrantes.
Entre as atrações da programação estão o tradicional Gre-Nal, brincadeiras e muita descontração. A preparação para o evento já mobiliza os membros do Real semanas antes. Bem antes da existência do WhatsApp, convites com a programação do acampamento eram entregues na casa dos integrantes do grupo. As cópias eram mimeografadas (exemplo acima) ou, mais tarde, xerocadas. “Tudo uma brincadeira, para já ir entrando no clima”, comenta Kunkel.



Ao longo das seis décadas do Real, já foram realizados 56 acampamentos. Os primeiros eram às margens do arroio Castelhano, que a gurizada do grupo batizou de ‘água santa’. Além da antiga área da Metalúrgica Venax, locais em Linha Ponte Queimada, Vila Mariante e a chácara de Zé Schuh também sediaram encontros memoráveis. “Nos primeiros anos, quem dava uma grande ajuda era meu pai, Almiro Kunkel, ele levava mesas, tudo o que precisávamos. Nos auxiliava bastante”, relembra Erni Kunkel.
Amizade
Integrante do Real há aproximadamente cinco décadas, o sócio-proprietário da Folha do Mate, Asuir Silberschlag, também evidencia a importância do grupo e o orgulho de fazer parte. “Participo do Real há quase 50 anos e sempre foi um local de conquistar amigos, conhecer pessoas, conversar e trocar experiências. É uma alegria muito grande integrar o grupo do Real e comemorar essas seis décadas de história.”

Sócios do Real
- João Alceu Bogorny
- Altair Schwendler
- Asuir João Silberschlag
- Carlos S. Krelling
- José Claucio Ferreira
- Erni Kunkel
- Flavio Bienert
- Flávio Luiz Seibt
- Hilario R.Dillenburg
- Jader Maria
- Jaime Freeze
- Joaquim R. Henn
- Juarez Ribeiro Rosa
- Luiz F. Dillenburg
- Mauro João Alles
- Paulo C. Colombo
- Carlito Vogt
- Roberto Etges
- Roberto Novaczinski
- Vinicius Maria
- Walter Bergamaschi
- Wilson F. Helfenstein