A neurologista Cláudia Alves da Cunha explica que o diagnóstico de autismo nos pacientes adultos ocorre, geralmente, em casos leves. “Os sintomas do autismo leve em adultos geralmente ficam mais evidentes nas áreas da interação e comunicação social do que no desenvolvimento cognitivo propriamente dito”, explica a médica. Em entrevista à Folha do Mate, ela aborda o aumento de casos de TEA, nos últimos anos, e a importância do diagnóstico precoce para a criança.
O que é o Transtorno de Espectro Autista?
Cláudia Alves da Cunha: É um transtorno do desenvolvimento do cérebro que acarreta alterações no comportamento, comunicação e socialização.
Em geral, em qual idade o autismo é identificado?
Em geral, é identificado entre 2 e 3 anos de idade. Mas pode ser diagnosticado mais tardiamente, dependendo do caso e até em função de que o espectro autista possui uma variabilidade de manifestações.
Como ele é diagnosticado?
O diagnóstico é clínico baseado na história, no desenvolvimento da criança, no comportamento com estereotipias, agitação, seletividade por alimentos, intolerância a barulhos, etc. É corroborado através de alguns questionários validados em nosso meio. Ainda não há marcadores biológicos e exames específicos para autismo, mas alguns exames, como o cariótipo com pesquisa de X frágil, o eletroencefalograma (EEG), a ressonância magnética nuclear (RNM), os erros inatos do metabolismo, o teste do pezinho, as sorologias para sífilis, rubéola e toxoplasmose; a audiometria e testes neuropsicológicos podem ser necessários para investigar as causas e doenças associadas.
“Acredito que o principal desafio do autista é se incluir no sistema educacional, se inserir na sociedade e ser compreendido nas suas diferenças de sentir, de se expressar e viver sua vida normalmente.”
CLÁUDIA ALVES DA CUNHA – Neurologista
Os diagnósticos têm aumentado nos últimos anos? Por quê?

Sim. Não se sabe ao certo porque isso está ocorrendo. Algumas teorias estão sendo aventadas como fatores ambientais, por exemplo. Mas também tem-se estudado mais esse assunto com melhora nos critérios diagnósticos, maior número de especialistas envolvidos e maior difusão das informações e isto também pode explicar um expressivo aumento nos casos diagnosticados.
É comum ocorrer o diagnóstico em adultos?
Sim. Casos leves que passaram despercebidos na infância por vezes são diagnosticados tardiamente. Os sintomas do autismo leve em adultos geralmente ficam mais evidentes nas áreas da interação e comunicação social do que no desenvolvimento cognitivo propriamente dito.
Qual a importância do diagnóstico para o paciente e para a família?
O quanto antes for diagnosticado o autismo, melhor, porque mais cedo serão iniciadas as intervenções, orientações e adaptações tanto da criança como da família que passará a ter mais respostas para suas angústias e maior compreensão da questão, o que vai facilitar o manejo e melhorar a qualidade de vida.
Quais os principais desafios que uma pessoa que tem autismo enfrenta? Ele pode desencadear outras doenças, transtornos mentais?
O autismo pode estar associado a outras doenças como comorbidade. Entre as mais comuns temos hiperatividade, transtornos psiquiátricos, cefaleias, distúrbios do sono, síndromes genéticas, encefalopatias e paralisias cerebrais.
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