Na propriedade da família Hendges, em Linha Estância São José, no distrito de Estância Nova, a colheita do tabaco começou nesta semana. A exemplo de outros produtores de Venâncio Aires e região, Diego Rogério Hendges, 36 anos, o pai Rogério e o irmão Igor, que juntos cultivam 150 mil pés de tabaco, apostaram na safra antecipada, com o objetivo principal de escapar do calor e da estiagem em dezembro e janeiro – meses usuais da colheita.
“No ano passado começamos a colher no dia 20 de setembro e neste ano já em 27 de agosto, pois começamos a plantar em junho. Antigamente nessa época estávamos plantando o fumo”, recorda o jovem produtor.
De acordo com ele, a antecipação tem trazido bons resultados, especialmente por possibilitar o término da colheita antes do auge do verão, quando, além da alta temperatura, a falta de chuva também se torna um problema. “No fim do ano passado ainda tínhamos fumo na estufa, mas já estava tudo colhido”, comenta.
Hendges cita que a localização da propriedade, na região do 9º Distrito, contribui para que seja possível antecipar o plantio, já que geralmente não tem registro de geada. “Tem regiões em que não seria possível, até porque nessa semana teve geada em algumas localidades”, considera.
Riscos e benefícios
O engenheiro agrônomo Vicente Fin, chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires, explica que a geada no fim de julho e início de agosto e o frio prolongado são os maiores riscos para quem antecipa a safra, pois o tabaco não tolera temperaturas abaixo de zero. Mesmo assim, ele cita que fumicultores de várias localidades de Venâncio têm arriscado.
“Na semana passada estive em Linha Cachoeira e um produtor já tinha até vendido uma quantidade de tabaco e estava na segunda fornada. Felizmente o frio não foi intenso no município, mesmo na região serrana, onde poderia ter dado um estrago maior, como aconteceu em outros municípios”, comenta.
Com relação à qualidade do produto, Fin afirma que a tendência é ser um pouco inferior e as folhas pesarem menos. “A qualidade fica um pouco aquém com relação ao tamanho da folha, mas se comparado com o fumo em período de estiagem, o fumo antecipado teve qualidade maior para muitos produtores que fizeram essa experiência”, compara.
“Como houve anos impróprios, três anos de estiagem e, ao mesmo tempo, invernos mais amenos, muitos produtores enxergaram a possibilidade de antecipar o plantio e assim evitar a estiagem e o sol forte de dezembro e janeiro para a colheita. O grande risco é o frio prolongado e a geada no fim de julho e início de agosto.”
VICENTE FIN – Chefe do escritório da Emater

Mais conforto e facilidade para os trabalhadores
A antecipação do plantio e da colheita do tabaco é uma das inovações que a família Hendges adotou para a cultura do tabaco, que é a principal fonte de renda da propriedade há décadas. Esta é a terceira safra na qual será utiliza a estufa elétrica de carga contínua para secagem do tabaco. Além disso, nesta semana, a família estreou uma máquina para auxiliar a colheita.
A retirada das folhas segue sendo manual, mas, agora, os trabalhadores têm a possibilidade de realizarem a atividade sentados. O equipamento percorre os canteiros da lavoura, na altura dos pés de tabaco, e numa velocidade controlada pelo motorista. A capacidade do veículo é para três pessoas, sendo uma o condutor, que também colhe.
Segundo Diego Hendges, o rendimento do trabalho com a máquina é o mesmo, mas a principal vantagem está no conforto, por não ter mais que se abaixar para colher as folhas e também pela cobertura que protege do sol. “É uma facilidade muito grande, nos sentimos bem mais dispostos no fim do dia. Agora a disputa é por um lugar na máquina”, brinca.

O produtor, que produz para a Philip Morris, ressalta a importância do auxílio da empresa, que oferece financiamento sem juros para aquisição dos equipamentos, que garantem mais qualidade de vida. Assim, foi possível adquirir a estufa elétrica de carga contínua e, agora, a máquina para a colheita. “Como a produção de fumo é um trabalho puxado, vamos tentando encontrar formas de inovar e facilitar.”
De acordo com Hendges, uma máquina nova para a colheita custa em torno de R$ 100 mil, mas o equipamento comprado por eles é usado, de um produtor de General Câmara que parou de plantar tabaco.
“Como a produção de fumo é um trabalho puxado, vamos tentando encontrar formas de inovar e facilitar. Foi assim com a estufa de carga contínua e agora com a máquina para colher.”
DIEGO ROGÉRIO HENDGES – Produtor de tabaco