Além do descontentamento por conta do preço em alta no fim da safra de tabaco – cerca de 80% da safra foi comercializada com classificação rigorosa e, agora, os 20% restantes estão sendo vendidos por valores melhores -, os representantes dos produtores estão preocupados com uma possível ‘isca’ para os agricultores. Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Albano Werner orienta que os produtores não aumentem suas áreas para a próxima safra contando com este cenário momentâneo, pois segundo ele, “isso não vai se repetir, a não ser que tenhamos uma nova quebra de safra”.
Em entrevista ao programa Terra em Uma Hora, da Rádio Terra FM 105.1, na quinta-feira, 17, ele destacou que a corrida das empresas por tabaco neste fim de safra, e consequente melhora no preço, se deve a uma frustração de aproximadamente 40 mil toneladas do tipo Virgínia no Zimbábue, um dos principais produtores mundiais. “Estamos realmente com um preço muito bom no momento, no entanto os produtores não podem se emocionar, porque o aumento de área é muito ruim e a safra do ano que vem não será da mesma forma. Certamente o Zimbábue vai querer recuperar o que frustrou nesta safra”, destacou.
Werner disse ainda que o consumo de cigarros está em queda no mundo, fato que reforça o alerta no sentido de manutenção da área projetada para a temporada 2021/2022. Ele afirmou que, em vez de ampliar a área plantada para aproveitar eventual oportunidade como a deste ano, os produtores têm que se preocupar com a qualidade do tabaco. “Depois de conversas e reuniões, sabemos que houve esta fatalidade no Zimbábue, que para nós é o que melhor explica este aumento de preço repentino. Porém, se nós aumentarmos a produtividade aqui e eles também, teremos um problema seríssimo: a baixa rentabilidade”, esclareceu.
Produtividade
De acordo com o presidente da Afubra, o mercado também se movimentou bastante neste fim de safra porque a produtividade 2020/2021 se comportou bem. “Tivemos um clima bom no período de desenvolvimento. Foi a melhor safra dos últimos três anos em termos de produtividade e também de qualidade”, afirmou. Em razão disso, os produtores que venderam o tabaco antes estão indignados com a diferença de preço. “Em meados de março, acompanhamos uma reviravolta na precificação na hora da venda. Entendemos que as empresas devem buscar uma forma de bonificação para quem comercializou antes”, concluiu.
“Queremos chamar a atenção dos produtores no sentido de que não se emocionem com os preços que as empresas estão praticando agora, porque isso não vai acontecer no ano que vem, a não ser que haja nova quebra de safra.”
BENÍCIO ALBANO WERNER – Presidente da Afubra
Presidente da Fetag confirma insatisfação
De acordo com o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, os sindicatos têm comunicado muitas reclamações de produtores de tabaco. “Estão extremamente insatisfeitos, xingando as empresas e se queixando até das próprias representações dos agricultores, que estariam coniventes com a situação”, comenta. Ele afirma que houve reuniões de tratativas de preços para o tabaco, este ano, “muito desgastantes, com empresas não querendo negociar e oferecendo percentuais abaixo do custo de produção”, sob alegação de que tinham dificuldades de comercialização e o mercado estava ruim. “A gente não aceitou e a Fetag se posicionou com firmeza, inclusive se retirando de algumas reuniões, por entender que as empresas não estavam respeitando a representação”, afirma.
O dirigente sustenta que as empresas do setor também forneceram insumos inflacionados e, depois, não repassaram na mesma proporção aos produtores, no momento da negociação da safra. “A gente sabe que há dificuldades na negociação todos os anos. Eu mesmo já plantei tabaco e sei como é. Só que neste ano compraram 80% da safra com extremo rigor na classificação e, agora, os outros 20% com classificação afrouxada, de uma hora para a outra, aí começa a comprar fumo inferior tudo por BO1”, critica. Ele lembra que a Fetag não é contra o preço que está sendo pago neste momento. “A classificação de agora, que valoriza o produtor, está corretíssima, defendíamos isso desde dezembro do ano passado, quando iniciamos as negociações”, frisa.
Bonificação
Carlos Joel da Silva diz que entende as questões relativas ao mercado, à oferta e à procura, contudo defende que, se as empresas estão comprando o produto mais barato, deveriam ser proativas no que se refere a uma bonificação aos produtores. “É isso que estamos pedindo, é uma questão de justiça. Não podemos concordar com o percentual de 80% comprado abaixo do preço. Estamos pedindo que as empresas reconheçam isso. Além disso, as empresas vão vender agora, por um preço muito mais elevado do que pagaram, o tabaco que compraram tempos atrás. Vão ganhar bastante, vão ter muita gordura, e queremos que uma parte seja repassada para o produtor que teve prejuízo”, argumenta. O presidente da Fetag ressalta que é preciso zelar pelo sistema de integração. “Precisemos mantê-lo vivo, porque ele já foi exemplo para outros setores, pela organização, pelo trabalho, pela maneira de negociação e também pela questão de respeito como sempre o agricultor foi tratado. A valorização do produtor, hoje, está em xeque”, finaliza o dirigente.
Investimentos
• Conforme Carlos Joel da Silva, a Fetag e parceiros já teriam tomado conhecimento de que, para a próxima safra, existe oferta de financiamentos sem juro para os produtores. “Cada um sabe da sua realidade, mas a gente tinha um cenário há 30 dias que agora mudou completamente. Investir agora, com esta falta de produto momentânea, talvez não seja o melhor caminho. Mas, quem define é o produtor”, comenta.
• Ele ressalta que a orientação da Fetag e dos sindicatos é para que os agricultores tenham muito cuidado. “Só invistam se for realmente necessário. Isto que está ocorrendo agora pode não ocorrer amanhã, e a dívida fica por muito tempo. Pés no chão, porque o cenário atual pode não ser duradouro”, alerta.
“Queremos que as empresas continuem comprando dos produtores com os preços praticados agora, mas também exigimos que os fumicultores que venderam suas safras antes, sejam bonificados. Ou as empresas reconhecem, ou vamos, se os produtores quiserem, apoiar na busca dos seus direitos.”
CARLOS JOEL DA SILVA – Presidente da Fetag-RS
Saiba mais
- O presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, participou de reunião com a regional Vale do Rio Pardo e sindicatos na quinta-feira, 17, que reforçou a necessidade de valorização dos produtores. Na próxima semana, segundo ele, haverá encontro estadual de sindicatos que representam os fumicultores.
- O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), que representa as indústria do setor, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se manifestar a respeito do assunto.