Estiagem nas quatro estações: 5,6 milhões de litros de água já foram levados a mais de 50 localidades de Venâncio

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Os pedidos começaram dia 6 de setembro de 2022, quando ainda era inverno. De lá para cá, quase oito meses depois, as solicitações seguem. Pode parecer exagero, mas já estamos na quarta estação desde que tudo começou e a estiagem continua trazendo prejuízos e força uma logística constante para levar um item básico para centenas de famílias de Venâncio Aires: água.

Desde setembro, foram mais de 5,6 milhões de litros levados a mais de 50 localidades, sem exceção de distritos, nos mais de 773 quilômetros quadrados do território venâncio-airense. “Temos quatro caminhões só para isso e cada um, em média, faz quatro entregas por dia”, contabiliza o coordenador da Patrulha Agrícola do Município, Rodrigo Garin. É a patrulha, que está atrelada à Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp), a responsável pelas entregas.

Nos últimos meses, a média de solicitações diárias chegou a 30, mas foi nesta semana o recorde da temporada: 57 apenas na última segunda-feira, 24. Conforme Garin, março e abril foram meses bem ruins em relação à estiagem, mas em fevereiro houve a maior necessidade. “Foi aí que tivemos que colocar um quarto caminhão.”

Desde setembro de 2022, caminhões da Prefeitura têm percorrido as localidades do interior para levar água potável (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Atualmente, a Prefeitura conta com quatro veículos para entrega de água no interior de Venâncio Aires. Um caminhão-pipa, com capacidade para oito mil litros, e outros três caminhões improvisados, nos quais foram colocados, sobre as caçambas, reservatórios de cinco mil litros. Para fazer o pedido, é preciso contatar a Secretaria de Desenvolvimento Rural pelo telefone 2183-0734.

Localidades atendidas

Paredão Pires, Linha da Serra, Marmeleiro, Cachoeira, Cipó, Vila Deodoro, Santos Filho, Sexto Regimento, Linha Isabel, Picada Revólver, Saraiva, Linha Brasil, Esperança, Centro Linha Brasil, Sapé, Picada Três, Linha Antão, Marechal Floriano, Tangerinas, Canto do Cedro, Linha Hansel, Vila Arlindo, Ponte Queimada, Cerro dos Bois, Linha Coronel Brito, Vila Palanque, Herval, Travessa, Vila Santa Emília, Grão-Pará Baixo, Monte Belo, Palmital, Lucena, Teresinha, Campo Grande, Rincão de Souza, Taquari Mirim, Mangueirão, Picada Nova, Cerrito, Cerro dos Narcisos, Picada Mariante, Vila Mariante, Itaipava das Flores, Chafariz, Vila Estância Nova, Sertão, Reversa, Sanga Funda, Travessão Mariante e Linha São João.

300 – é o número estimado de famílias que já precisaram de água nos últimos meses.

O poço que nunca secou também precisou de água

“Faz três anos que a gente não colhe feijão, batatinha, milho, aipim, nem nada. Três anos que o que a gente planta, seca.” O lamento de Elio Figueiredo da Silva, 76 anos, é feito na frente de onde deveria ter uma vasta e verde lavoura de milho, mas os olhos enxergam apenas pequenos pés irregulares, com poucos centímetros de altura. Na propriedade dele, em Picada Mariante, a estiagem também vem deixando estragos. “Se não fosse a Prefeitura, acho que a gente ia ter que se mudar para a beira de um rio.”

Elio mostra mais uma lavoura de milho que, por conta da estiagem, não vingou (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Na tarde de quinta-feira, 27, um caminhão levou novamente água para os Silva. Desde fevereiro, já foram 10 pedidos (cinco para o aposentado e cinco para o filho dele, Elizandro, que também mora na propriedade e cultiva tabaco). O poço abastecido nesta semana é o que Elizandro usa para consumo da família e para alguns animais, como galinhas e terneiros. “Esse poço era do meu sogro, feito em 1957. Nunca secou, mas esse ano acabou a água”, comenta Elio.

A esposa dele, Ladir, tem 70 anos. Ela conta que nasceu, cresceu e morou quase a vida toda naquele ‘chão’. “Nunca vi seca assim. A chuvinha desses dias deu só uma corzinha para a grama. A gente também não tem mais um clima normal. Vê se isso é época de fazer calorão?”

A aposentada também mostra o espaço cercado onde tentou, em vão, manter uma horta. Chão seco e apenas uns tocos à mostra, resquícios de pés de repolho e couve-flor. Também foram semeados alho, cebola, temperos, abóbora e moranga, mas nada ‘vingou’.

Para os canteiros onde são cultivadas as mudas da próxima safra de tabaco, os Silva têm buscado água de um poço cedido por um conhecido, em outra propriedade. Agora, eles também estão na expectativa de conseguir mais horas-máquina para ‘cavar’ mais, onde, há alguns anos, havia um açude e que também secou devido às últimas estiagens.

Ladir da Silva em frente ao espaço da horta, onde esperava colher diversos legumes e verduras, mas tudo secou (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Água de Boqueirão do Leão

Segundo o coordenador da Patrulha Agrícola, Rodrigo Garin, para atender a região Serrana de Venâncio Aires, na ponta mais distante do Centro da cidade, o caminhão-pipa tem distribuído água por meio de uma parceria com a Prefeitura de Boqueirão do Leão.

“A Prefeitura de Boqueirão está fornecendo água de um poço artesiano deles. Fica perto do trevo do município lá e aí conseguimos atender mais rapidamente localidades como Paredão Pires, Marmeleiro, Cipó, Cachoeira, Santos Filho, Linha da Serra e Deodoro.”



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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