Excesso de chuva e granizo prejudicam lavouras de tabaco em Venâncio

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Algo corriqueiro nas últimas temporadas, os excessos do clima em diferentes épocas do ano (seja de sol, seja de chuva) continuam comprometendo a agricultura. Se nos últimos verões o lamento foi pela quebra devido à estiagem, no fim deste inverno e início de primavera, a chuva é a vilã do momento. Não bastasse a destruição que a enchente do rio Taquari causou nas localidades de Vila Mariante e Estância Nova no início de setembro, ‘varrendo’ inúmeras lavouras (200 hectares só de tabaco), o fim do mês segue chuvoso, encharcando o solo onde a maior parte do tabaco plantado em Venâncio já estaria pronto para a primeira apanha.

Mas além do excesso de umidade, o granizo também causou estragos nos últimos dias e ambas as situações atingiram diversas propriedades em Venâncio Aires. Entre elas, a de Edson Carlos da Rosa, 49 anos, morador de Linha Campo Grande. A família plantou 45 mil pés de tabaco e, numa análise superficial, a estimativa é de que a quebra na produtividade pode chegar a 50%. “O ‘olho de boi’ [manchas de cercospora e alternaria, fungos que atacam as folhas], por causa do excesso de chuva, atingiu metade da lavoura e o granizo estragou muitas folhas também”, avaliou o agricultor.

Conforme Edson da Rosa, nos pés onde há ‘olho de boi’, terão de colher todas as folhas atingidas, independente do estágio de desenvolvimento delas. “Se a gente não fizer isso, vai contaminar as outras. O problema é que às vezes é uma folha pequena, que não está totalmente desenvolvida, daí já compromete no peso. Essa folha até vai secar, mas pode esfarelar. Então, com certeza, a gente vai ter uma grande perda na produtividade esse ano.” Em algumas partes mais baixas da propriedade de Edson da Rosa, há água empoçada e nitidamente se percebem plantas com tamanhos diferentes. Ou seja, além de prejudicar as folhas, o excesso de chuva comprometeu o crescimento dos pés de tabaco.

Localidades de Vila Estância Nova também foram afetadas pelo granizo nos últimos dias (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Clima estranho

Quanto ao granizo, a família Rosa já contabiliza quatro incidentes recentes: um em agosto e três só nos últimos dias. “Essa região nem tem histórico disso. Em 2015, ano que perdemos praticamente toda a lavoura, deu muito granizo. Meu pai e sogro ficaram apavorados, porque nunca viram granizo no Campo Grande. Teve outra vez em 2020 e agora este ano. O clima está muito estranho. A gente até espera granizo, mas não agora. É coisa que dava em novembro”, relatou o agricultor. Edson da Rosa estima que pelo menos 10 folhas por pé de tabaco foram danificadas pelas pedras, mas ainda aguarda pela análise da equipe técnica da Afubra, que ele acionou devido ao seguro.

“A gente tenta aqui embaixo, mas depende de cima”

O tabaco é a principal renda de Edson, a esposa Lisani, 43 anos, o filho Luiz Henrique, 22, e a caçula Jeniffer, de 8. A família vem diminuindo o plantio gradativamente nas últimas safras, já que diversificam com a produção de hortaliças, mas isso não quer dizer que deixaram de investir. “Compramos esterco, trator para melhor preparar a terra, enraizante… Cuidamos e investimos, porque achamos importante. A gente tenta fazer o melhor aqui embaixo, mas sempre depende de cima, do sol e da chuva. Quando a produção é a céu aberto, é assim”, ressaltou o agricultor.

Os Rosa tinham se organizado para começar a colheita do ‘baixeiro’ na próxima semana, mas devido às incertezas do clima, não sabem se realmente poderão começar na segunda. Conforme Edson, a expectativa de que as plantas formem brotes e que estes desenvolvam folhas maiores, para compensar um pouco na produtividade.

Outro detalhe em relação ao clima e que precisou fazer com a família mudasse a rotina, é o próprio plantio. “O ideal seria a gente plantar só em agosto, porque aqui é uma região mais molhada. Mas com esse clima, que é irregular em qualquer época do ano, e por causa das estiagens, começamos a plantar em julho, o que é bastante cedo para nossa realidade”, explicou.

Umidade elevada contribuiu para formação da mancha de cercospora, chamado de ‘olho de boi’ (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Perdas em outras culturas

De acordo com a Emater, além do tabaco, outras culturas têm sofrido nesta época devido ao excesso de chuva, como trigo, milho, hortaliças e frutíferas (brotação irregular). “Sem falar na falta de luminosidade, que na verdade tem atrasado o ciclo de todas as culturas”, destacou o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.

Para ele, a condição de recuperação de lavouras está condicionada ao comportamento do clima. “Vai depender muito dos próximos dias. Se na quinta [hoje] parar a chuva e ‘dar’ um frio que ‘enxuga’ rápido, parte se recupera. Mas ainda é muito cedo para avaliar essas situações. Fato é que, culturas que não servem para locais inundáveis, como é o caso do tabaco, a tendência é que, com o passar de 72 horas, já comece a ter perdas.”

No caso da família Rosa, de Linha Campo Grande, a produção de hortaliças também já foi comprometida. Tomate e alface foram danificados pelas pedras de granizo, o qual também quebrou os ‘braços’ do repolho e moranga recém-plantados. Já a chuva ‘afogou’ o brócolis.

Orientação agrícola

Devido à influência do fenômeno El Ñino, a tendência já era de um inverno no sul do Brasil bem mais chuvoso do que em temporadas anteriores. Nesse sentido, houve uma preocupação das indústrias para orientar os agricultores da melhor forma de manejo do solo. “Quem fez o camalhão mais alto e com uma cobertura vegetal com palhada, por exemplo, provavelmente não terá tantos problemas. Mas, infelizmente, nessas regiões mais baixas, onde são comuns alagamentos, está tendo essa dificuldade”, comentou o engenheiro agrônomo e supervisor de Planejamento e Agronomia da China Brasil Tabacos (CBT), Alisson Griebel.

Fazer camalhões mais altos já foi uma preocupação do produtor Edson da Rosa, aliás, devido à realidade da região onde mora. Na prática, a água infiltra melhor e não fica parada na raiz. Conforme o engenheiro agrônomo Alisson Griebel, o tabaco tem condições de criar raízes novas e recuperar a oxigenação do solo, o que pode, pelo menos, estancar parte das perdas. “Mas além da água, o que também compromete o desenvolvimento das folhas é a falta de luminosidade.”

383 – é o número de produtores de Venâncio Aires que já acionaram a Afubra devido ao granizo registrado entre os dias 23 e 26 de setembro. Conforme a entidade, as equipes já estão percorrendo os roteiros para conferir as situações nas propriedades dos associados.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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